Roubo

Capítulo XXXI

"Sr. Gandalf, você faria a gentileza de me passar o molho?" Ori perguntou.

Seu tom era excessivamente educado, imitando o maneirismo de seu irmão Dori - o anão mais velho gostava particularmente de formalidades quando se tratava de convidados e era a primeira vez que a Companhia se reunia para jantar depois de deixarem a casa de Beorn meses antes. A ausência de Fili e Kili parecia ainda mais dolorosamente evidente agora que estavam todos juntos na mesma sala, e o clima geral tinha sido consideravelmente baixo no começo. Mas haviam ficado tranquilos depois da primeira rodada de cerveja e pudim, e agora a quantidade de barulho e piadas grosseiras estava mais próxima das bem-acalentadas memórias que Bilbo tinha da Companhia.

Além disso, Bilbo ficou muito feliz com a chegada de Gandalf. Quem imaginaria que o mesmo hobbit que quase se ofendeu com a proposta do bruxo de se aventurar apreciaria tanto a companhia de Gandalf? Bilbo tinha perdido o humor de Gandalf e sua cumplicidade contra a teimosia dos anões. Ele e Gandalf conversaram sobre as notícias do oeste que o bruxo trouxera quando Ori os interrompeu com seu pedido. Gandalf esticou o braço para pegar a tigela cheia de molho e se distraiu com a pergunta de Balin sobre o estado das estradas que levavam a Erebor.

Bilbo mal ouviu a resposta de Gandalf, o polegar distraidamente passando pelo pulso esquerdo. Havia uma pequena marca de meia lua lá, inadvertidamente deixada por Thorin. Quando ele segurou o pulso de Bilbo, Thorin tinha machucado a pele mais delicada do hobbit, mas Bilbo mal notou nada na ocasião. Mais tarde, quando estavam deitados na cama, com a pele esfriando e a respiração ainda áspera, Thorin descobrira o pequeno corte e pressionara a língua ali. Bilbo ainda podia sentir o calor da respiração do anão em sua pele e a impressão de que seu coração batia em seu pulso.

"Inventando um novo enigma?", Perguntou Gandalf.

Bilbo estremeceu de surpresa, mas sacudiu a cabeça e pegou uma fatia de pão de noz da cesta de vime.

"Tenho pensado em criar uma antologia de enigmas", respondeu o hobbit. "Você sabe, anotando os enigmas que conheço e melhorando a coleção com outros da tradição anã, por exemplo."

Gandalf cantarolou e tomou um gole de cerveja, sem tirar os olhos de Bilbo.

"Você pode escrever um livro sobre sua aventura, meu amigo", o bruxo respondeu, "Já que você é um enigma".

"Eu sou?" Bilbo sorriu suavemente, enquanto pegava o molho que restava em seu prato com o pão.

"Sua decisão de participar da missão foi um enigma", declarou Gandalf. "E agora você planeja ocupar seu tempo em Erebor. Uma antologia enigmática, de fato" Repetiu o bruxo, aparentemente divertido. Mas Bilbo não perdeu a atenção do olhar de Gandalf - instintivamente, ele deu um pequeno puxão na manga da jaqueta, cobrindo melhor o pulso. "Aqui está a minha primeira sugestão para a sua antologia" continuou Gandalf, inclinando a cabeça e abaixando a voz. "Por que esse jantar?"

Bilbo piscou.

"Por que não?", Ele perguntou em retorno. "Nós compartilhamos muitas refeições na estrada."

"Sim, nós fizemos", admitiu Gandalf. Ele endireitou as costas. "Você pode estar certo, meu amigo. Afinal, eu quase esperava ter acesso negado a Erebor, eles poderiam ter tentado, e eles teriam falhado, mas eu não fui barrado. Duvido que o rei Thorin tenha esquecido as palavras que passaram entre nós, mas não consigo encontrar defeitos em sua hospitalidade."

Bilbo mordeu a língua, lembrando-se do tom irritado de Thorin enquanto falava do assunto. Aconchegou-se contra o corpo nu de Thorin com o polegar do anão acariciando sua mandíbula, Bilbo tinha escutado as amargas queixas de Thorin.