Roubo

Capítulo XX

As pálpebras de Bilbo se abriram ligeiramente. Ele estava deitado do lado esquerdo e a sala estava escura, exceto pelo brilho de uma lâmpada consumindo sua última gota de óleo. O pequeno hobbit estava muito cansado, mas da maneira mais gentil possível. Ele permaneceu com um sorriso inconsciente nas lembranças do dia anterior.

Yule chegou finalmente.

Bilbo não tinha certeza sobre os costumes dos anões a esse respeito, mas Ori logo o encantou, revelando que os anões não eram contrários à comemoração do dia de Yule. Obviamente, era muito cedo para Erebor se alegrar em grande escala - Thorin não teria permitido isso enquanto eles ainda estavam lamentando os mortos na batalha. Nenhuma celebração formal estava em ordem, mas a alegria informal fora bem tolerada: havia pequenas festas, cerveja, tortas e fogueiras.

Bilbo se encarregou de organizar uma festa para seus amigos. Ele havia escrito um convite para cada um deles e pediu a Bombur para ajudá-lo com comida e bebidas suficientes para satisfazer o apetite dos hóspedes. Felizmente Bofur e Bifur haviam contribuído muito para as provisões, enquanto Nori assumira a responsabilidade de cozinhar um guisado de cervo à maneira dos caçadores. Frango frio, tortas de mel, queijo e presunto, ovos salgados, picles e outras conservas haviam sido postos sobre a mesa, cobertos com um fino pano vermelho. Balin dera ordens para que outras mantos fossem trazidos para o quarto e almofadas para os convidados. Ori ajudou Bilbo com as decorações da sala: o jovem anão desenhara algumas belas figuras de árvores e animais e até mesmo um robusto anão estranhamente parecido com o Sr. Dwalin. Bilbo e Ori haviam cortado os números para pendurá-los nas paredes.

Balin, Bofur, Bifur, Bombur, Nori e Ori jantaram com Bilbo e passaram boa parte da noite em sua companhia, comendo e rindo. Eles tinham bebido para as memórias de Fili e Kili, e Bilbo chorou baixinho quando Bofur iniciou a música favorita de Fili, uma canção sobre as longas noites de inverno e a saudade da primavera. Ninguém reprovou Bilbo por sua tristeza e eles ficaram quietos por um bom tempo, até que Bombur caíra de seu banco no chão, dormindo depois de muita comida e cerveja, e eles riram.

Dori acompanhou Nori e Ori, mas sua visita foi mais curta - Bilbo suspeitava que o anão não gostara muito da idéia de uma festa no quarto de um prisioneiro. Oin trouxera as saudações de Gloin da enfermaria antes de se desculpar, pois sua perna ruim ainda não lhe dava muita movimentação.

Para surpresa de Bilbo, até mesmo Dwalin tinha aparecido. Tinha sido uma visita muito breve e ele parecia completamente angustiado com a visão da alegre companhia. Mas Dwalin agradecera ao hobbit pelo convite e devorara uma perna de frango inteira antes de sair, apesar do pedido de Ori de ficar um pouco mais.

Depois da meia-noite os convidados começaram a sair. Primeiro Balin, depois Ori e Bombur, apoiados por Bifur, enquanto Nori e Bofur permaneceram para falar em voz baixa com Bilbo da política e dos reis. Bofur, um pouco embriagado, prendeu o hobbit em um abraço apertado antes de sair, enquanto Nori bateu no ombro dele e murmurou alguma coisa sobre o valor dos halflings e como Bilbo era um bom ladrão. Assim que saíram, Bilbo limpou a mesa, mas não tocou nas decorações e acrescentou outro tronco ao fogo. Então ele esperou por Thorin.

Ele não se atreveu a enviar-lhe um convite para a festa de Yule - afinal, ele ainda não sabia onde estavam. Mas Thorin o surpreendeu mais uma vez com um presente inesperado.

Naquela mesma manhã, enquanto Bilbo verificava as provisões do jantar e tentava descobrir quantos anões aceitaram seu convite, Balin foi até ele carregando um pacote de bolos de aveia e algumas boas notícias.

"Thorin permite que você dê um passeio nos terraços na minha companhia. Sem guardas" anunciou o anão, dificilmente se abstendo de sorrir.