Roubo

Capítulo XXXVIII

Ouro se mexeu sob seus pés, frio e reluzente. Quase se esquecera de como o ar na sala do tesouro estava constantemente brilhando com a luz refletida em pedras preciosas e metais: o brilho das tochas saltava das preciosas jóias de prata para as pilhas de rubis e esmeraldas. Bilbo olhou para a magnificência do grande tesouro de Erebor e seu coração se encheu de aversão - tão profundo, tão violento foi sua repulsa que fez seu estômago doer e gotas de suor frio se juntaram em sua nuca. Ele enfiou a mão no bolso e fechou os dedos ao redor do anel; seria mais fácil usá-lo e deixar Erebor invisível e inaudível. Não está ileso.

Bilbo sabia quem ele iria encontrar. Ele sabia desde que a ordem tinha chegado para ele ser levado ao tesouro - mais uma vez, como no dia anterior à batalha: eles estavam girando em círculos.

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Ele teve tempo para arrumar suas coisas. Bilbo fizera isso rapidamente, quase cegamente: guardara os poucos pertences enquanto seus amigos se reuniam em seus aposentos. Eles também devolveram-lhe Sting e até o casaco de mithril. Ele naturalmente se recusou a levar o último com ele; Por outro lado, Bilbo ficara feliz em receber Sting de volta, já que salvara sua vida mais de uma vez.

Os anões ficaram aturdidos com o comportamento dele. Bilbo sorriu para eles, sacudiu as mãos e os abraçou enquanto fazia as malas. Na verdade, ele havia dado pouca atenção ao modo como ele estava jogando suas roupas nas sacolas, pois passara a maior parte do tempo entretendo os anões com observações sobre a beleza do Condado na primavera - ah, o tenro tapete de flores abaixo os pés! Os sapos verdes brilhantes escondidos entre a grama no banco dos lagos! O pão branco macio com sementes de papoula, ainda quente do forno, comido na estrada para o mercado! Estava tudo esperando por ele, no final de sua jornada. O hobbit chegou a confessar que esperava ficar em Rivendell no caminho de volta, se Lorde Elrond estivesse satisfeito com sua companhia.

"Rapaz, não a culparíamos se ..." Balin tentou dizer.

Obrigado. Obrigado por não estar propenso a me culpar se eu falo mal do seu Rei sob a Montanha. Devo gritar e lutar. Eu deveria amaldiçoar Erebor e seu trono; o trono e o rei que se senta nele; o rei e seu coração cruel feito de pedra. Devo revelar a todos vocês, e muitos outros, que o Rei sob a Montanha me fodeu tantas vezes que perdi a conta e também a minha mente.

Bilbo apenas sorria às palavras de Balin, sacudindo a cabeça. Mas dedicara cuidados especiais para embalar o minúsculo brinquedo Shire de Bofur, embrulhando-o no lenço que Balin lhe dera em Yule.

"O que vocês tem?" perguntou Bilbo, sentindo que os anões estavam observando seus movimentos como se esperassem que ele fizesse uma birra ou uma tempestade em seus aposentos.

"Você parece ... muito satisfeito", respondeu Gloin, observando-o da cabeça aos pés.

Bilbo riu da preocupação deles e o riso tinha um gosto amargo no fundo da garganta.

"Eu não deveria?" perguntou Bilbo. Sua voz pode ter sido um pouco alta demais. "Eu não sou mais um prisioneiro; Eu estou indo para casa; Eu ainda tenho minhas duas mãos. Por que eu deveria me arrepender da sentença?"

"Bem," Bombur interveio, "Você não poderá voltar para Erebor."

"Por que eu deveria querer voltar?" Bilbo respondeu com uma certa frieza. Ele tinha sido indiferente a quantos anões conheciam ou suspeitavam do que Thorin havia feito a ele; mas um silêncio tão tenso havia caído sobre a companhia que Bilbo se sentiu obrigado a quebrá-lo: "A porta de Bag End estará sempre aberta para todos vocês", acrescentou em tom um pouco mais gentil.