Capítulo XI | Um medalhão, um gongo e um sino

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Sem exatamente saber o que fazia – ou por que fazia – Jullian seguiu o vigilante mascarado trilha adentro, correndo o mais rápido que conseguia. A trilha passou a tornar-se mais estreita como uma garganta de troncos, e pouco adiante ele já conseguia avistar os primeiros sinais de civilização: cercas baixas feitas de madeira, faixas vermelhas amarradas nas árvores e pequenas placas de papel sinalizadoras escritas em mandarim. Avistou ainda a aproximação de luzes artificiais, mas antes que conseguisse chegar à fonte, o som alarmante do gongo tornou a preencher os ares como um grito, um aviso, um provável pedido de socorro.

—O que está acontecendo? – perguntou em voz alta, esforçando-se para ser ouvido.

—Não há tempo para explicar. Só me siga e não fique para trás!

Com os pés acompanhando o ritmo do coração, Jullian desviou-se de um poço que surgira no caminho e, depois de uma curva brusca na trilha, finalmente estava oficialmente em Dongji. Em um rápido vislumbre entrecortado ele avistou algumas casinhas tradicionalmente chinesas, postes com lanternas vermelhas e bandeirolas tremulando ao vento. Mas não havia tempo para examiná-las. O vigia, alguns passos à frente, parou de maneira brusca e quase foi atingido pelo corpo do outro homem. Disparou olhares furtivos para todos os lados, sendo imitado pelo padre, e nenhum dos dois viu qualquer sinal de outros seres vivos nos arredores. Dongji era como uma maquete em uma exposição: quieta, limpa e imóvel.

Como um lince no topo de uma colina, o mascarado examinava a área em busca de algo, deixando Jullian cada vez mais ansioso e alerta. Estavam parados no que parecia ser um pequeno ponto de encontro, fato explicado por um par de bancos de madeira e uma pequena mesinha entalhada diretamente no tronco de uma árvore. As lanternas produziam um campo amarelado na base dos postes, deixando toda a extensão do vilarejo clareada por uma graciosa espécie da catapora de luz.

—Se me dissesse o que está havendo, eu poderia tentar ajudar – Jullian sussurrou, cauteloso.

—Shh, fique quieto!

Mas o aviso do guarda veio tarde demais. Atraído pelo som das vozes sussurrantes, algo surgiu em um ponto adiante de onde se encontravam. Estava posicionado no espaço que existia entre um poste e outro: uma silhueta humana, alta e esguia, meio mergulhada na luz, meio engolida pela escuridão. Jullian não conseguia ver com precisão, mas imaginou ter visto braços parcialmente estendidos para a frente. Arrepiou-se. Teve o momento de vislumbre interrompido ao sentir a mão forte do vigia mascarado puxando-lhe para o lado, a outra mão em frente ao rosto falso ordenando silêncio absoluto. Como dois ladrões na noite, esgueiraram-se por detrás de um tipo de galinheiro desocupado, onde puderam agachar-se para ficar fora de vista.

Esperaram, por segundos que carregavam o infinito, e pouco depois ouviram os passos de quem quer fosse. Estava se aproximando, caminhando vagarosamente na direção do centro do vilarejo. Os pés arrastavam-se como se pesassem toneladas, e conforme avançava, parecia trazer junto de si o frio. Os dedos de Jullian, agarrados a uma das tábuas que formavam o galinheiro, suavam em gotículas de nervoso. Não sabia o que fazer, e naquele momento esqueceu-se até mesmo do que fazia naquele lugar. Estava cheio, mas também vazio. Foi então que novamente sentiu o contato em seu ombro, e ao virar-se, leu os movimentos da mão do mascarado: em gestos, indicava a um local que se via poucos metros à frente, simulando ainda que deveriam seguir silenciosamente. Fez ordem de espera e segundos depois,mantendo-se de cócoras, moveu os pés com destreza pelo trajeto indicado. Jullian assistiu-o levar de cinco a dez segundos para chegar do outro lado, abaixo de uma pequena tenda onde algumas roupas secavam. Esperou.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora