Capítulo XXIII | A neblina e a escuridão

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Tão logo o trem parara rente à estação de Faron, Benjamin saltou do vagão e cambaleou ao atingir a plataforma. Logo depois esgueirou-se para dentro do vagão e ajudou Pégaso a descer, segurando o animal pelo meio do corpo com os dois braços estendidos. Realizava o desembarque de maneira apressada, descendo do vagão de carga antes que os passageiros começassem a também deixar o trem; conseguira embarcar depois de um discreto suborno oferecido ao bilheteiro, que terminantemente proibira a presença de animais na área de passageiros, mas que cedera ao avistar algumas cédulas surgindo em sua direção.A condição fora a de que o homem e seu cachorro viajassem junto da carga, em um dos vagões separados dos demais, e apenas no trem da tarde, o que garantiu uma espera de seis horas regadas a medo e aflição enquanto os olhares, incansáveis, procuravam pela presença de uma vampira pronta para matar.

Em passos rápidos, Benjamin cruzou a entrada da estação enquanto os primeiros passageiros ainda desciam do trem, carregando sacolas, cestos e trouxas penduradas nas costas. Olhou para cima e avistou a pomposa estrutura em estilo oriental, algo que sempre o impressionava ao visitar a cidade, mas desprendeu-se de tal visão e logo recuperou os pensamentos. Avançava com rapidez por entre os poucos passantes que cruzavam seu caminho, todos a caminho de suas casas para a noite que já invadira os ares e o firmamento. Do outro lado, saindo pela boca do prédio que dava na avenida principal, olhou ao redor e avistou o movimento intenso do fim de um dia de trabalho: centenas de pessoas seguindo na mesma direção como formigas operárias, coches, charretes e carros mecânicos amontoando-se através do asfalto, comerciantes fechando as portas das lojas e recolhendo os objetos de suas barraquinhas informais.

Conferindo seu relógio de bolso, Benjamin visualizou o tempo avançando para as sete da noite e, depois de morder os lábios em preocupação, chegou à calçada e virou à direita, rumando na direção do posto de descanso para viajantes. Pégaso mantinha o ritmo do homem, abanando a cauda e por vezes encarando-o como se compreendesse sua aflição. Juntos, chegaram segundos depois ao ponto de apoio, encontrando por lá nada mais do que bancos vazios, lixo e garrafas espalhadas pelo chão.

—Só pode ser brincadeira – disse o senhor Hendrik em voz alta ao perceber que nenhum carroceiro podia ser visto em parte alguma.

Grudando as mãos na cintura, andou de um lado para o outro tentando decidir o próximo passo, mesmo que já soubesse qual deveria ser: se não havia ninguém para levá-lo em um veículo mais rápido, teria de seguir a pé pela trilha da floresta que levava a Dongji.

—Espero que esteja disposto para andar mais um pouco, garotão.

Ouvindo o que Benjamin dizia, Pégaso sentou-se e colocou a língua para fora, arfando levemente. Seus olhinhos brilhavam em algum tipo de pedido, um que foi fácil para seu tutor temporário identificar.

—Você está com sede, não está? Eu também estou, sabia disso? Vou tentar encontrar algum reservatório no apoio para viajantes.

Deixando a calçada e entrando no espaço vazio, Benjamin espiou de um lado para o outro e encontrou lixo em vários trechos do lugar. As paredes eram descascadas e os bancos de madeira pareciam podres e prestes a desmoronar, e a única lâmpada que clareava o ambiente piscava de forma ocasional, transformando aquele ponto de apoio em um lugar que qualquer viajante provavelmente jamais gostaria de visitar. No fundo, entretanto, havia uma porta que provavelmente levava a um pequeno banheiro, o que encorajou Benjamin a continuar, mesmo sentindo o cheiro de urina já ardendo em suas narinas.

—Espere só mais um pouco – disse na direção de Pégaso, que o havia acompanhado somente até a metade do trajeto.

Esforçando-se para aguentar o odor insuportável, ele estendeu a mão na direção do trinco, mas não chegou a abri-lo. De dentro, provocando um susto que o fez saltitar para trás, um ruído estranho, porém completamente humano, se fez ouvir: um forte arroto duradouro, selvagem como o rugido de um animal perigoso. Logo, a porta foi aberta por dentro e moveu-se em arco na direção de Benjamin, que se afastou ainda mais e viu sair do banheiro um homem forte, mais jovem do que ele, usando roupas surradas e um gorro enterrado na cabeça. Parecia embriagado e, fora dos eixos, saiu do banheiro pronunciando palavras distorcidas.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora