Capítulo VII | O celeiro na estrada

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Foi apenas após uma longa parcela da noite que Romani e George finalmente pararam a carroça. A charneca pantanosa estendera-se mais do que o esperado, e visando uma maior segurança e distância de possíveis crocodilos ou poças de lama, mantiveram o trajeto até que chegassem a um lugar menos selvagem para descansar. Em um trecho mais arborizado da estrada, muitas horas depois de terem passado pela hospedaria da senhora impaciente, encontraram um celeiro abandonado, lugar este que caiu como uma luva para as necessidades de acampamento dos viajantes. Moveram o veículo para dentro e estenderam os colchonetes no chão, e puderam ainda acender uma pequena fogueira – usando galhos secos – em um dos recantos para preparar um jantar improvisado.

Com a ajuda de um graveto, George assava pedaços de carne seca e os entregava a Romani, que por sua vez preparava sanduíches com alguns dos pães trazidos de Willinghill. O cavalo, já alimentado com feno, descansava em um dos cantos do celeiro, enquanto Pégaso se mantinha sentado ao lado da fogueira, ansioso para abocanhar um pedaço da carne que aromatizava o cubículo de madeira.

—Nada mau para um jantar de beira de estrada, não acha? – disse George, de boca cheia, segurando o sanduíche na frente do rosto.

—Não tenho do que reclamar – Romani respondeu, também mastigando o alimento. – Quer um pedaço, Pégaso?

Arrancando um pedaço do pão, Romani atirou-o na direção do animal, que o abocanhou com precisão antes que começasse a cair. Assistiu-o se deliciando, e pouco depois continuou a comer até que se sentisse satisfeita. Após livrar-se dos farelos, bebeu um gole d'água de um cantil que estava perto do colchonete, e logo em seguida deitou-se com a cabeça apoiada nos braços dobrados. George finalizou também o seu jantar, repetiu todas as ações da mulher e em seguida também deitou-se em seu próprio colchonete. Estavam posicionados com um metro de distância um do outro, e bem no meio estava o cachorro, agora também já se preparando para descansar. Perto da porta, a fogueirinha crepitava e deixava o ambiente iluminado, criando um estranho aconchego que nenhuma das duas pessoas conseguia explicar ou entender.

—Olha só – George iniciou-se, olhando para cima. – Pode não ser algo de primeira linha, mas tenho certeza que estamos mais confortáveis do que estaríamos naquela espelunca da velha mal educada.

—Tenho certeza disto! – Romani devolveu com uma risada. – E onde mais poderíamos dormir olhando o brilho das estrelas?

Tal afirmação ocorria graças a um enorme buraco no teto do celeiro, por onde os acampados conseguiam avistar o céu e suas nuvens viajantes. Depois das risadas, ficaram em silêncio e observaram o brilho discreto das estrelas no firmamento, sabendo que tinham os pensamentos rumando na mesma direção sem que precisassem dizer qualquer palavra.

—Você acha mesmo que vamos conseguir encontrá-lo? – perguntou George, por fim, com a voz carregada de dúvidas.

—Eu tenho certeza.

—Eu não sei. Não quero pensar em coisas ruins, mas ele pode estar em qualquer lugar, pode ter chegado na próxima cidade e já ter partido até mesmo para outro condado.

—Em um dia de buscas já conseguimos andar muito mais rápido que ele, e até já tivemos uma notícia. Você não esperava que fôssemos achá-lo assim, de um dia para o outro, não é?

—Talvez sim, talvez não. Não havia me permitido parar para pensar nele depois que encontrei o recado de sua partida. Estava... estava com raiva.

—É, deixou isto transparecer muito bem – Romani acrescentou, virando-se de lado e vendo um George pensativo, de olhar perdido no céu muito escuro.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora