Segurando um grito de pavor, Jullian sentiu os dedos ressecados do monstro apertando sua carne, frios como gelo e intensos como brasa. Com força, tentou mover-se para trás na tentativa de desvencilhar-se dele, mas a força da criatura era descomunal e não permitiria que ele se libertasse. Os companheiros, aturdidos, pareciam ainda localizar-se na situação, mas a ajuda veio rapidamente quando George, utilizando uma das patas de pedra do dragão, atingiu a lateral do corpo do Jiangshi com um golpe violento, resultando na libertação imediata de seu fiel amigo.
—Obrigado, George – agradeceu o padre, saltitando para trás, afastando-se do caixão do líder acompanhado dos outros.
—Não me agradeça ainda. Olhe ao seu redor antes de qualquer outra coisa!
Reunindo-se em um círculo, os quatro foram acometidos pela visão de dezenas de corpos erguendo-se de seu lugar de descanso, movendo-se em arco para cima e derrubando ao chão as tampas de seus caixões. Os gemidos soavam por toda a gruta, lamentosos, agourentos, e os olhos – incontáveis bulbos brancos como vagalumes sem cor – destacavam-se na penumbra parcial da caverna, cercando o grupo por todo e qualquer lado que olhassem.
—Você por acaso não teria nenhum daqueles medalhões aí, teria? – Jullian perguntou a Mei.
—Não. Não achei que fosse necessário trazê-los comigo. Dia ímpar, lembra-se?
—Foi o que eu pensei.
—Sem querer apressar, mas eles já estão se levantando. Vamos sair correndo daqui ou o quê?
—Não podemos ir embora sem terminar o que viemos fazer, George. Ling confiou em nós, e eu como um Venator preciso honrar a minha palavra.
—Nós vamos acabar morrendo aqui nesta gruta!
—Não, não vamos. Vamos sair sãos e salvos.
—Você tem algum plano nas mangas para que isso aconteça?
Juntos, as costas apoiadas umas nas outras, continuaram assistindo o despertar dos mortos ao redor deles, a adrenalina fervendo e elevando as batidas cardíacas ao delírio. Os Jiangshis eram lentos e desajeitados, e o ato de deixarem os caixões parecia requerer um imenso esforço e destreza que pareciam não possuir. Foi através desta certeza que Jullian maquinou sua estratégia, utilizando os outros mentalmente como suporte para o que planejava executar.
—Eles são lentos e, além disto, cegos. São atraídos pelo som, então iremos nos agarrar a isto para sobreviver.
—Jullian está certo – falou a vigilante. – Apesar de fortes, são burros como portas. Se nos unirmos, conseguiremos concluir a nossa missão e sair daqui inteiros. O mais importante é não olharmos muito para os olhos deles, ou ficaremos imobilizados. Lembrem-se disto!
Lançando olhares para cada extremidade das ruas de caixões, Jullian estudou o espaço e o tempo necessário para que tudo desse certo. A gruta não era muito extensa e, mesmo que os sepulcros estivessem posicionados bem próximos uns dos outros, não seria difícil para nenhum deles esgueirar-se até o outro lado, longe de onde se encontravam.
—Como eu sou a menor e mais ágil – disse Mei, discreta e quase silenciosa – será mais fácil para mim chegar até o outro lado. De lá, chamarei a atenção deles com qualquer tipo de barulho.
—Romani e George, vocês podem seguir para as outras extremidades quando Mei distrair os primeiros Jiangshis, então poderão revezar a criação de sons para deixá-los confusos. Assim eu terei como me aproximar do líder para fincar o talismã em sua testa.
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In Nomine Patris 3 | Tenebris Hibernus
FantasyCarregando nas costas o peso das terríveis ações de Irvine Aurish, Jullian Bergamo deixa para trás as cinzas e os destroços de sua vida e parte em uma missão de caça à maléfica feiticeira. Pelo caminho, seguindo pistas e sinais deixados pela mulher...