—Não! – disse Jullian em um sopro de pavor. – Não pode ser!
—O quê? – Mei respondeu, assustada. – O que não pode ser?
—Eu os conheço. São meus amigos!
—O quê?! – ela ironicamente repetiu a pergunta. – Tem certeza?
—Tenho certeza, embora não saiba como chegaram até aqui ou mesmo como conseguiram me encontrar.
—Poderemos perguntar sobre isto depois!
Intencionada a realizar um segundo salvamento naquela noite, Mei foi até a porta e abriu-a lentamente até a metade; atravessou a cabeça para fora com cautela, espiou os arredores e preparou-se para novamente deixar a segurança da casa, mas parou ao sentir uma presença às suas costas, não uma sobrenatural, mas sim completamente humana.
—O que acha que está fazendo? – perguntou ela, virando-se para Jullian ao perceber que ele já estava pronto para acompanhá-la.
—Eu irei com você – respondeu o homem em qualquer hesitação.
—Você não pode! Não sabe com o que estamos lidando. Vai acabar sendo morto, ou coisa pior!
—Eu aceito correr o risco – devolveu rapidamente, sem parar para imaginar o horror de algo que fosse pior que a morte. – Eles vieram atrás de mim, por isso são mais um problema meu do que seu.
Agarrada ao trinco da porta, Mei respirou fundo e meneou a cabeça em um gesto de desaprovação. Pronunciou algo em chinês –bèn dan – em tom quase raivoso, e Jullian não precisou entender tais palavras para saber que havia sido xingado em um idioma que não conhecia. Depois, movida pela força de vontade do outro, descansou os dedos do aperto ao trinco e abriu a passagem para Jullian, que postou-se ao lado dela antes mesmo que notasse.
—Haja o que houver – sussurrou no pé do ouvido do padre, o vapor chegando e desaparecendo através do orifício auricular – jamais encare os olhos por muito tempo.
—Os olhos? Olhos de quem?
Antes de responder, Mei fechou a porta da casa e reajustou a máscara sobre o rosto, a tira de elástico amassando os cabelos curtos que mal chegavam em sua nuca.
—Do Jiangshi, é claro.
Do baque que levara em cada centímetro de seu corpo ao ouvir tal palavra – a sensação parecida à de sonhar que se está caindo – Jullian levou alguns segundos para se recuperar. O que vira foi apenas uma figura indefinida, quase um fantasma na escuridão, e ainda assim fora tomado pelo mais puro horror, um que jamais conseguiria explicar. Foi levado em pensamentos até Anastacia Hendrik, até o momento em que foi atacada por aquela criatura: estava caminhando sozinha e se deparara com ela? Fora perseguida pela mata enquanto voltava para casa? Mas o que fazia ela tão longe de casa, tão longe do calor?
—Ei! – a voz de Mei trouxe o padre de volta.
—Desculpe – disse, sacudindo levemente a cabeça. – Acabei me perdendo um pouco.
—Realmente espero que não se perca quando estivermos lá fora.
—Você tem algum plano?
—Não consigo saber onde ele está, mas a esta altura é provável que o Jiangshi já os tenha visto, então deve estar preparando uma emboscada. Vamos seguir juntos até o poço, e de lá nos separamos, um para cada lado. Assim teremos mais visão do terreno e será mais fácil tirar seus amigos de lá. Ah, eu já ia me esquecendo. Pegue isto.
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In Nomine Patris 3 | Tenebris Hibernus
FantasyCarregando nas costas o peso das terríveis ações de Irvine Aurish, Jullian Bergamo deixa para trás as cinzas e os destroços de sua vida e parte em uma missão de caça à maléfica feiticeira. Pelo caminho, seguindo pistas e sinais deixados pela mulher...