Capítulo IV | Entre charnecas e pântanos

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O horizonte pouco a pouco se tornava avermelhado, e na direção dele o cavalo trotava rapidamente. Puxava a carroça guiada por Romani, que se mantinha atenta à estrada, enquanto George fazia anotações em um caderno de capa de couro. Ao redor deles e da larga estrada existia uma charneca de vegetação baixa, em muitos pontos mergulhada em poças d'água e lama que pareciam denunciar a aproximação de uma grande área pantanosa. Ao longe, ocasionalmente, podiam avistar pequenos sítios protegidos por cercados baixos, com alguns poucos animais pastando ou descansando sob as copas das árvores de pouca folhagem.

Viajavam desde antes do nascer do sol, circundando os arredores de Willinghill e passando por todas as cidadezinhas por onde Jullian poderia ter também passado em sua peregrinação a pé. Tinham a vantagem de se mover com muito mais rapidez do que o homem a quem procuravam, graças ao animal forte que parecia nunca se cansar, e assim já haviam conseguido eliminar das buscas – em apenas um dia – sete localidades que Jullian só teria alcançado depois de dias de caminhada. Levavam consigo uma fotografia do padre, item que utilizavam como meio de identificação em todos os lugares aonde chegavam. Fossem tabernas, hospedarias ou fazendas: qualquer lugar poderia servir de pista sobre o paradeiro do jovem caçador de demônios. Ainda não haviam, contudo, recebido nenhuma resposta positiva ou qualquer outra coisa que pudesse trazer serventia, mas sabiam que estavam ainda no início da busca e nem mesmo pensaram em desanimar.

—George, estou ficando cansada – disse Romani, sem tirar os olhos da estrada na intenção de desviar dos buracos maiores. – Acho que deveríamos montar um acampamento antes de anoitecer.

—Aqui, no meio de toda essa lama? – George respondeu com incerteza na voz, olhando ao redor e só enxergando inúmeros pequenos lagos de conteúdo pastoso e amarronzado.

—Tem alguma sugestão? Estará escuro em menos de uma hora e ficará mais difícil prepararmos um lugar para dormir.

—Vamos tentar nos afastar um pouco desta área. Redondezas pantanosas são perigosas, algum crocodilo pode nos atacar ou podemos até mesmo afundar em um poço de lama por acidente.

Romani aceitou a sugestão e continuou a movimentar as rédeas com destreza, guiando o cavalo pelo melhor trajeto possível. Na carroceria, Pégaso mantinha-se sentado na direção contrária à que o caminho seguia, vendo os arbustos e árvores pequeninas ficando para trás. Continuaram no trajeto por cerca de vinte minutos, até que as duas pessoas por fim notaram uma pequena construção se aproximando. Um breve momento se gastou até que já passassem rente ao lugar, que graças a uma velha placa pintada com tinta vermelha descobriram ser uma pousada para viajantes. A mulher na guia fez com que o cavalo parasse bem diante da hospedaria, e no mesmo instante ela e George encararam o lugar com imediata expressão de reprovação.

—Eu realmente espero que não esteja cogitando que passemos a noite nessa espelunca – Romani pronunciou em um sussurro.

—Eu não disse nada! – George retrucou, ainda sem retirar os olhos do lugar.

—E eu espero que não diga. Olhe só pra...isto!

—Por que está falando assim?

—Assim como?

—Sussurrando, como se o dono do estabelecimento estivesse aqui para ouvi-la falar mal de seu negócio.

—Oh, perdão. Não percebi. Mas de qualquer forma, poderíamos ao menos falar com o proprietário para saber se Jullian passou por aqui.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora