Capítulo XV | Visita oficial

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O café ainda nem havia sido posto na casa dos Hendrik, e enquanto o senhor Benjamin preparava uma refeição para Pégaso – uma generosa tigela de pedaços de carne de cordeiro ao molho –, a campainha soou e denunciou que uma visita acabara de chegar.

—Quem pode ser a uma hora dessas? – perguntou ele, virando-se para Emmeline.

—Não faço ideia – a mulher respondeu, cuidando para não cortar muito finas as fatias de pão. – Quer que eu atenda?

—Eu mesmo atendo, pode deixar. Já acabei de preparar o prato de Pégaso, não é mesmo, garotão?

Com um último afago, Benjamin levantou-se, limpou as mãos em um pano ao lado da mesa e saiu. Enquanto se dirigia à entrada da casa a campainha soou mais uma vez, e sob um pedido de paciência o homem destrancou a porta e abriu-a sem mais nenhuma demora. Do outro lado, esperando com as duas mãos enterradas no bolso da calça, estava um homem muito mais alto que ele, com uma expressão séria lançada ao batente de entrada e vestes comuns às de um policial.

—Senhor Benjamin Hendrik? – perguntou, levantando os olhos para visualizá-lo.

Ao avistar o policial e ouvir seu próprio nome vindo da boca dele, Benjamin imaginou ter se metido em alguma encrenca: havia arrombado o principal cemitério da cidade, e de alguma forma achou ter sido descoberto.

—Sim, o próprio. Alguma coisa errada?

—Eu tenho uma notícia bastante desagradável para dar ao senhor. Posso entrar, por gentileza?

—É claro, venha.

Abrindo espaço para o homenzarrão, Benjamin esperou que entrasse e fechou a porta, avançando até o centro da sala e sugerindo que ele se sentasse. Sentou-se também logo em seguida, e percebeu que o policial, com seus olhos castanhos, fitava a pintura de Anastacia que se destacava mais do que qualquer outro item de decoração daquele cômodo.

—Não quero tomar muito do seu tempo, senhor Benjamin, mas preciso que fique calmo e não se altere muito com o que tenho para lhe dizer, se isso é possível.

—O senhor está me assustando. O que aconteceu?

—Hoje bem cedo, assim que o coveiro chegou aos portões do cemitério de Milldon para limpar uma das alas onde seria realizado um funeral, encontrou-os arrombados e parcialmente abertos. Alguém invadiu o cemitério durante a madrugada, possivelmente dois dias atrás. Sei que deve estar se perguntando qual a relação deste fato aparentemente isolado com a minha visita, mas é aí que vem a parte ruim.

Tranquilizando-se ligeiramente por estar fora das suspeitas do crime, Benjamin fingiu olhar de surpresa e imaginou, quase com precisão total, as informações que seguiriam daquele momento em diante.

—Continue, por favor.

—Depois que verificou o cemitério, o coveiro acabou encontrando um mausoléu também arrombado, e consequentemente um túmulo violado juntamente a um caixão aberto. Era o mausoléu de sua família, senhor Hendrik. E o túmulo violado era o de sua filha, que pelo que fui informado, foi enterrada lá alguns dias atrás.

—Mas... que coisa terrível de se ouvir! O que fizeram com ela?– a atuação de Benjamin era um tanto forçada, mas ainda assim capaz de convencer o policial.

—O que eu tenho para contar é um pouco perturbador, mas é o meu dever como policial. Posso mesmo continuar? – Benjamin afirmou com um aceno, tornando curta a pausa do oficial. – O que aconteceu, senhor, é que o corpo da sua filha foi roubado do túmulo. Ele estava vazio quando o coveiro se aproximou para verificar.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora