Capítulo XVII | O covil dos condenados

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Uma caminhada de pouco mais de cinco minutos levou o grupo aos limites do vilarejo e deixou uma trilha de incontáveis pegadas no tapete de neve. Todas as casas e também o grande templo haviam ficado para trás, e do ponto onde se encontravam conseguiam avistar, à frente, o início da imponente floresta de bambu que se seguia diante deles. O verde destacava-se do branco com agressividade e elegância, produzindo uma parede de tubos dançantes que, à primeira vista, parecia totalmente intransponível para quatro pessoas que carregavam junto de si apenas duas lamparinas apagadas.

—Como faremos para atravessar essa floresta? Não trouxemos nenhum facão ou qualquer coisa para abrir o caminho – disse George ao avistar a barreira natural.

—Nem tudo depende de força bruta, grandalhão – Mei devolveu, tranquila. – Depois que atravessarmos a parede principal, a floresta se abre em algumas trilhas feitas pelos moradores para facilitar a colheita dos brotos.

—Ainda assim, eu preferia ter trazido comigo qualquer tipo de arma. Sequer tive tempo para apanhar minha espingarda.

—Então vamos torcer para que não encontremos algo para tentar nos matar.

Seguiram lado a lado até alcançar o bloqueio criado pelo bambu, parando assim que se viram sem passagem para prosseguir. Esperaram que Mei indicasse a passagem correta, algo que ela fez com rapidez ao afastar-se alguns passos para o lado e conferir se estavam no local correto. Com as duas mãos, abriu uma fenda entre os bambus e viu surgir uma trilha estreita, por onde passou sem dizer palavra alguma. Os três companheiros reproduziram o ato e passaram para o outro lado, chegando então a um lugar verde, frio e razoavelmente escuro. Como se houvessem atravessado um portal para um mundo paralelo, viram-se embrenhados em uma mata de tubos das mais variadas espessuras, alguns de altura média, outros duas vezes mais altos do que eles. O vento, que conseguia atravessar por entre as aberturas do bambuzal, sacudia a plantação e fazia os tubos chocarem-se uns aos outros, produzindo estalos que lembravam uma melodia de pouca coordenação, uma sinfonia de espíritos invisíveis que entrava pelos ouvidos e invadia o coração.

—Quanto tempo levaremos para atravessar o bambuzal? – Jullian perguntou a Mei, que continuava desbravando a trilha como uma líder.

—Ele tem pouco mais de uma milha de comprimento. Andaremos cerca de dez minutos até alcançarmos as cavernas.

—Não há risco de acabarmos perdidos aqui?

—Conheço esse bambuzal como a palma da minha mão, padre. Passei minha infância inteira correndo por estas trilhas.

Com seus trejeitos brutos e ao mesmo tempo delicados, Mei continuou conversando com Jullian enquanto George e Romani mantinham-se alguns metros atrás, andando no próprio ritmo, mas sem perder os outros dois de vista.

—Eu jamais conseguiria prever que um dia estaria em um bambuzal, no meio da neve, procurando por um dragão de pedra em um cemitério de guerra – disse a mulher, buscando a atenção de George.

—Eu jamais imaginei que passaria por tantas coisas desde que esse homem apareceu na minha vida – ele respondeu com um riso leve, descompromissado, cuidando para não ser atingido no rosto pelos tubos inquietos. – Mas me diga, você está se sentindo realmente bem? Não voltou a ter nenhuma daquelas tonturas?

—Estou ótima. Não voltei a sentir mais nada no decorrer do dia. Ling revelou a mim e a Jullian que aquelas tonturas são sequelas do ataque do Jiangshi, e que as imagens da nevasca que vi podem ser premonições causadas pelo meu contato direto com o mundo sobrenatural.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora