Capítulo XIX | Notícias de vitória

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A caminhada de volta foi feita rapidamente, e foi só quando alcançavam o trecho final da plantação de bambu que as vozes do grupo diminuíram. Conversavam animadamente sobre os acontecimentos vividos na gruta, compartilhando do heroísmo distribuído entre todos eles de forma igualitária.

—Vocês nem imaginam o quanto foi difícil me esgueirar para dentro daquele caixão – dizia George, gesticulando para manter os tubos afastados do rosto. – Se Jullian levasse mais um minuto, eu provavelmente teria morrido sufocado lá dentro.

O padre, repentinamente alheio ao assunto, pareceu não ouvir o que o amigo dizia, e se manteve na caminhada com o rosto impenetrável.

—Jullian? – o companheiro chamou seu nome depois de aproximar-se dele.

—Sim? – o padre respondeu com um leve susto, como se tirado de uma profunda reflexão.

—Está tudo bem com você? Ficou calado de repente.

—Está tudo bem, George. Não é nada. Sabe que fico abalado sempre que lido com cadáveres.

—Eu achei que você já havia se acostumado. Para todo lugar que viaja, acaba ficando cara a cara com um defunto ou dezenas deles.

—Ossos do ofício – Jullian retrucou, só depois percebendo o quão bem aquela afirmação se aplicava ao assunto debatido.

Não demorou até que atravessassem os limites do bambuzal e novamente chegassem a Dongji. A nevasca havia diminuído e parte da neve havia derretido, tornando o trajeto mais fácil e rápido; atravessando as ruas da vila, viram as luzes das casas acesas e as chaminés cuspindo fumaça, algo que servia como um convite aconchegante depois da eletrizante situação vivida no Covil dos condenados.

—Sei que estão todos cansados – disse Mei, como se lesse os pensamentos dos companheiros –, mas precisamos ir até a anciã para informá-la dos fatos.

Sem respondê-la, acompanharam a moça pela trilha de neve até a casa de Ling, entrando um por um assim que aporta foi aberta. A sala da casa estava aquecida, e o fogo da lareira crepitava e iluminava o ambiente como em um desafio ao frio ao redor dele. Ling não se encontrava por lá, e enquanto Mei avançava para procurá-la, os outros esperaram. De pé, os braços junto ao peito, ansiavam por uma bebida quente e uma cama confortável, de preferência bem longe daquele vilarejo à beira do congelamento.

—Será que já poderemos ir embora pela manhã? – perguntou George por entre os dentes, tornando audíveis os pensamentos que ocorriam aos três.

—Obrigada por tirar isto da minha língua, George. Não sei se aguento passar mais um dia neste lugar só comendo bambu e morrendo de frio.

—Também quero muito sair daqui, meus amigos. Mas precisamos nos certificar de que tudo vai ficar bem antes de deixarmos estas pessoas sozinhas novamente.

Quando George se preparava para retrucar, Mei e Ling apareceram do corredor que levava até a cozinha. Mei empurrava a cadeira de rodas, enquanto Ling trazia sobre o colo uma bandeja com canecas e um velho bule prateado e fumegante.

—Olá mais uma vez – a anciã cumprimentou-os com sua voz serena. – Vamos, sentem-se, trouxe um chá para aquecê-los depois da caminhada.

Os três se sentaram no tapete, enquanto Mei entregava uma caneca a cada um deles e as preenchia com o líquido esverdeado que escorria do bule. Sem mesmo saber o que tinham em mãos, os forasteiros bebericaram do líquido e, resistindo ao sabor amargo do que parecia ser um chá verde sem açúcar, sentiram as entranhas sendo brusca e deliciosamente aquecidas. As duas moradoras de Dongji – habituadas ao frio constante – esperaram até que se sentissem satisfeitos, e foi só quando baixaram as canecas que a anciã se pôs a falar.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora