Capítulo XIV | A anciã

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Romani acordou-se com um sobressalto, como se despertasse de um terrível pesadelo. Apoiou-se com as mãos no colchonete, o fôlego indo e vindo em maratona, olhou ao redor e percebeu que não sabia onde estava. O frio tomava conta de sua pele e o ar parecia sólido, quase capaz de congelar as vias respiratórias de qualquer um que o inspirasse. Perdida, forçou o corpo a levantar-se, mas recebeu uma rajada de dores na cabeça que fizeram-na cair sentada, tonta, desorientada. Levou as duas mãos às têmporas e sentiu que latejavam, batendo como martelos em ferro, como um gongo que de alguma forma ainda ressonava em sua memória.

Recuperando-se aos poucos, finalmente conseguiu perceber que estava em um quarto desconhecido, onde nada havia além de dois colchonetes e uma espécie de pergaminho de pano afixado à parede, exibindo figuras místicas de uma cultura por ela pouco conhecida. As duas janelas estavam fechadas, protegidas por cortinas finas, mas a claridade do exterior invadia o quarto em uma luz branca que em nada se parecia com a luz do sol. Tudo ao redor era parado e rígido, mesmo que também delicado e reconfortante.

Reunindo fôlego e forças, tomou impulso novamente e conseguiu se pôr de pé, cuidando para não tontear. Seguiu até uma das janelas escondidas pelas cortinas, mas antes mesmo de aproximar-se sentiu algo chegando às suas narinas, um aroma conhecido, um cheiro que lhe trouxe uma repentina nostalgia. Era cheiro de neve. Confirmou tal fato ao repuxar uma das cortinas e enxergar, através do vidro, uma camada branca que tomava conta de tudo que a vista da janela enquadrava: parte de uma varanda de uma casa à frente, trechos do chão ao redor dela e também o telhado de um pequeno estábulo, onde o cavalo que lhe pertencia se encontrava protegido por um portãozinho de madeira.

Ainda lenta, Romani deixou a janela e caminhou até a porta, esperando encontrar alguém conhecido, embora não conseguisse se lembrar de coisa alguma. Chegou até a soleira, e assim que encostou no portal, teve a visão invadida por uma rajada de luz branca, algo que se condensava diante dela como névoa e a impedia de enxergar adiante. Parou, segurou-se, respirou fundo, e segundos depois viu a névoa dissipar-se como espuma. Tornou a ver o que havia à sua frente, deparando-se com uma sala pequena com dois sofás, uma lareira apagada e alguns pequenos móveis de aparência oriental. Tentou ouvir qualquer ruído, mas o silêncio era absoluto. Decidiu, assim, sentar-se em um dos sofás. Poderia manter-se quieta, poderia manter-se sentada e pronta para uma nova tontura, poderia esperar que qualquer coisa acontecesse. E esperou.

*

No quarto dos hóspedes, o primeiro a despertar foi George. Depois de um longo bocejo, libertou-se do grosso cobertor e esfregou os olhos, notando a claridão do ambiente. Sentou-se e calçou as botinas, e ao olhar para Jullian, viu que ainda dormia profunda e despreocupadamente. A porta do quarto mostrava-se aberta, mas no corredor que dava acesso ao segundo dormitório não havia nenhum movimento ou mesmo qualquer ruído, o que o levou a imaginar que ainda era cedo demais. Sem sono, entretanto, George levantou-se e saiu do cômodo, procurando por um banheiro ou lavatório onde pudesse lavar o rosto amassado pelos lençóis. Não encontrou tal coisa no andar de cima, e apenas seguiu pelo corredor até encontrar as mesmas escadas que havia subido horas antes com Jullian na dianteira. Assim que pisou no primeiro degrau, porém, George sentiu o coração descer para as botas: avistou Romani sentada no sofá, as mãos repousadas sobre os joelhos, o olhar parado em algum lugar da sala.

—Romani! – disse, apressando o passo e descendo os degraus de dois em dois, quase tropeçando diante da pressa em alcançá-la.

Chegou até a mulher e ajoelhou-se diante dela, repetindo seu nome, questionando-lhe se estava bem, mas sem receber sequer um olhar em resposta. Olhou fixamente no rosto dela e encontrou uma expressão letárgica, como se ela não o enxergasse, como se ainda dormisse.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora