Capítulo XIII | Ela

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—Vamos, deitem-na no colchonete para que eu possa examiná-la! – disse Mei, apressada, abrindo caminho pelo pequeno quarto que existia no andar de baixo da casa.

Em cooperação, George e Jullian carregaram Romani para dentro apoiada em seus ombros, os pés arrastando-se pelo chão e a cabeça caída na direção do peito. Esperaram até que a outra mulher retirasse alguns objetos pessoais que descansavam sobre o colchonete, e pouco depois já se curvavam e deitavam Romani com o busto para cima, o rosto desacordado mirando na direção do teto. Aflitos, afastaram-se quando Mei abriu caminho por entre eles, agachando-se diante da mulher e rapidamente apalpando um de seus pulsos para sentir se ainda possuía vida. Com o polegar levemente pressionado contra a pele da visitante, Mei aguardou alguns segundos até que sentiu o palpitar suave, no ritmo do coração que ainda batia. Respirou aliviada, mesmo que soubesse que havia ainda algo a examinar.

—E então? – George perguntou em voz claramente preocupada, curvando-se para enxergar melhor a situação.

—Ela está viva, pelo menos isto eu posso afirmar.

—Mas só isto já não é o suficiente? – foi a vez de Jullian questionar, agora também inclinado sobre as duas mulheres.

—Nem sempre, sinto dizer. Ela foi atacada, e embora por um tempo muito curto, ele pode ter conseguido arrancar algo de sua alma.

—E como iremos descobrir?

Sem responder com palavras, Mei moveu a mão direita do pulso até o rosto de Romani. Examinou-o e viu que exibia apenas algumas marcas leves – o beijo do Jiangshi não fora completado a tempo –, e embora parecesse sereno e apenas adormecido, sabia que podia esconder algo completamente perturbador. Sob a atenção dos homens, levou a mão a um dos olhos de Romani, levantando a pálpebra até que conseguisse avistar o que ela escondia. O que surgiu foi um glóbulo completamente humano, com íris, pupila e finas veias avermelhadas ramificando-se pelo branco leitoso.

—Está tudo bem – pronunciou, finalmente, causando o alívio imediato dos outros dois. – Ela só está desacordada, vai permanecer assim por poucas horas, mas estará recuperada quando acordar.

—É ótimo ouvir isto – George apressou-se, sentindo um impulso elétrico que o fez segurar uma das mãos de Romani, mas sem que nenhum dos outros presentes percebesse.

—Que Deus seja louvado – Jullian agradeceu, por sua vez, as mãos unidas diante do rosto.

—Deus não tem muita relação com nada disto, mas é realmente bom que ela não tenha ficado com nenhuma sequela.

Mei, naquele momento, pareceu um tanto amargurada, a voz saindo fraca e acidamente sensível. Levantou-se, endireitou as roupas e só assim lembrou-se de retirar a máscara vermelha, partindo na direção da porta do quarto, mas virando-se para os homens antes de sair.

—Podemos ficar aqui? – perguntou o padre ao vê-la prestes a sair, tentando não interpretar o significado do tom de voz da jovem de rosto característico.

—Venham. Deixe que ela descanse. Podemos conversar em outro lugar.

Os dois amigos, assim, se puseram a seguir Mei, Jullian à frente e George demorando-se um pouco mais. Esperou até que o padre saísse, e virou-se para dentro do quarto antes de também deixar o lugar. Olhou para Romani e viu que respirava suavemente, o peito indo e vindo em um ritmo confortável. Suspirou e crispou os lábios ao vê-la daquela forma, fragilizada como nunca chegara a presenciar, e sem que percebesse, sentiu o coração bater um pouco mais forte e o estômago a esfriar-se um pouco mais que o normal. Agradeceu aos céus por não tê-la perdido, e por fim deixou o quarto para que ela pudesse descansar sem qualquer interrupção.

In Nomine Patris 3 | Tenebris HibernusOnde histórias criam vida. Descubra agora