O início.

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PDV NATÁLIA.

Bom... oi.
Meu nome é Natália Menezes Faust Ramsés, tenho 15 anos e moro na casa da vida, no 21° nomo, com outras dezenas de magos com sangue egípcio, assim como eu. Sou descendente do faraó Ramsés, O grande, coisa que não deixou minha vida menos pior mesmo ele sendo um dos mais conhecidos faraós egípcios.
Era dia 14 de julho, quando, sem aviso prévio, minha vida se tornou um caos. E de pensar que eu não fazia idéia de tudo o que iria me acontecer naquela manhã aparentemente normal para mim.
Eu estava em minha cama, sentindo cada parte do meu corpo tremer tanto pelo susto, como pelo frio, após Sarah Oliver, uma das piores pessoas que tive o desprazer de conhecer, me acordar com um banho de água gelada.
A vida de um mago na casa da vida parecia muito com a de um adolescente normal. Acordar, fazer tarefas, se exercitar, fazer compras no centro do Brooklyn nos tempos vagos... levando em consideração algumas atividades "extracurriculares" de vez em quando, como matar monstros ou evitar o fim do mundo, por exemplo. Eu já estava acostumada com toda essa rotina a uns anos mas, sinceramente, uma coisa que eu não engolia naquele lugar era acordar as 6:00 da manhã com certas tutoras jogando um balde de água gelada em você.
Deuses, isso não era nem um pouco legal!
Xinguei baixo, descendo de meu beliche, percebendo que eu era a única do quarto que ainda não havia acordado. Mais uma meia dúzia de meninas dividia o quarto comigo, e não pouparam risadinhas quando me viram ensopada e atrasada.
- Você tem cinco minutos para descer e tomar seu café. - Disse Sarah, a garota responsável por meu dormitório, e a vadia que havia me molhado a dois minutos atrás.
Lancei a ela o meu melhor olhar mortal, cerrando os punhos.
- Dá próxima tente um ser um pouco mais delicada. - Pedi ironicamente.
- Dá próxima, ouça o despertador. - Aconselhou dando um sorriso falso, saindo do dormitório junto com as outras, deixando-me totalmente sozinha.
Grunhi irritada, me sentando em uma das camas, coçando os olhos ainda sonolenta.
Era nessas horas que eu me perguntava do que adiantava ter o sangue de um grande faraó egípcio, se isso não me dava vantagem nenhuma.
Me levantei, enfim tomando coragem para tirar meu pijama molhado. Me vesti com as costumeiras roupas da casa da vida; uma calça de linho, uma camiseta larga e um par de sapatilhas. Nenhuma garota de 15 anos se sentia realmente bonita com aquelas roupas, mas todas concordavam que aquela era a opção mais confortável caso alguém queira te matar e você precise lutar.
Me olhei no espelho, apenas para pentear o cabelo, pouco me importando com minha imagem refletida nele.
Eu me julgava um tanto que normal quando o assunto era aparência. Minha pele era bronzeada, mais escura que o normal pelos treinos embaixo do sol. Eu tinha olhos verdes e cabelos pretos, volumosos e ondulados; e qualquer atrativo que meu corpo tivesse era ocultado pelas roupas largas e sem graça. Ok, talvez eu não fosse tão normal assim, mas segundo pesquisas, feitas mentalmente por mim mesma, garotas que passam o dia lutando com espadas e matando monstros não ligam muito para nada que não seja permanecer viva.
Terminei de me arrumar saindo de meu quarto, perdendo-me na multidão de adolescentes que faziam o mesmo caminho que eu, em direção ao refeitório.
Eu não era muito popular, sequer chegava perto disso, ainda sim recebi alguns "bons dias" de algumas pessoas enquanto caminhava. Na verdade não era nem por mim exatamente que a maioria das pessoas não falava comigo, e sim pelo deus que eu era iniciada. Anúbis, o tão temido deus dos funerais.
Todos os magos seguiam o caminho de um deus, mas não tínhamos o poder de escolher qual. Então, não foi minha escolha ser iniciada do deus chacal, afinal, se fosse mesmo para escolher, existiam 1000 deuses mais legais que Anúbis. Mas, infelizmente, os astros me mandaram nessa direção e quem sou eu para contradizê-los?
Nunca conheci Anúbis pessoalmente, mas sempre ouvi o que falavam sobre ele. Um gênio horrível, arrogante, maldade no sangue e um grande ódio por certas pessoas. E eu, de fato, me identificava com algumas das características do deus, mas ainda sim, me sentia um tanto que incomodada com o fato dele ser um dos deuses menos queridos de todo o duat, coisa que, pensando bem, eu também era aqui na casa da vida. Entretanto, como na vida nem tudo são espinhos, era óbvio que tinha um lado bom nessa história toda. Felizmente tenho mais dois amigos comigo nessa roubada, Erick Serk e Mike Menkaure, e os dois nutriam a mesma opinião que eu sobre Anúbis, por mais que eles achassem isso tudo mais emocionante.
Erick, Mike e eu éramos melhores amigos desde pequenos. Chegamos no vigésimo primeiro nomo juntos, e permanecíamos assim na maior parte do tempo. Então, toda manhã, eu me sentia feliz quando os via sentados em uma das inúmeras mesas do refeitório, me esperando.
Sorri, correndo até eles.
- Bom dia! - Me desejou Erick, com seu costumeiro sorriso bondoso estampado no rosto.- Uau! Você está bonita!
Virei-me para ele, entediada.
- Não seja bobo, estou com essa mesma roupa todos os dias.- Respondi, mas não deixei de sorrir agradecida.
Erick era meu amigo desde sempre. Era um típico rapaz de 16 anos, mas eu o achava bem bonitinho, apesar de tantos anos de amizade destruírem qualquer possibilidade um um futuro romance entre nós. Erick tinha a pele branca e o cabelo cortado bem rasteiro; olhos castanhos e uma cara de mal que logo sumia depois que você o conhecia melhor.
- Fala ai, mana! - Cumprimentou Mike, estendendo a mão para um hi-five.
Toquei sua mão, revirando os olhos.
Mike era moreno, seus olhos eram azuis e seus cabelos lisos, cor de mel, caindo sobre a testa como um cantor de pop americano. Ele tinha um humor um tanto que duvidoso e não tinha um pingo de vergonha na cara, mas, mesmo com metade dos iniciados quererem socá-lo pelo menos uma vez por hora, eu havia aprendido a amá-lo desse jeito.
Peguei um muffin do centro da mesa, enfiando-o quase inteiro na boca.
- Minha nossa. - Comentou Mike, arqueando as sobrancelhas. - Estão te matando de fome?
Erick reprimiu uma risada, estendendo-me um guardanapo.
- Acordei atrasada... de novo. Temos que comer, daqui a pouco temos treino de Hieróglifos... - Falei, me servindo de algumas coisas espalhadas pela grande mesa. - E, depois de ter acordado de forma tão sutil, a última coisa que eu quero é ficar com fome até a hora do almoço.
- Aula de Hieróglifos... o dia poderia começar pior? - Indagou Mike, em tom filósofico.
- Não exagere. Hieróglifos não são tão ruins... - Retruquei.
- Ninguém tem suas habilidades com eles, Natália. Não tente se gabar. - Falou Erick.
- Neeeerd! - Exclamou Mike com a voz arrastada, lançando um sorriso brincalhão em minha direção.
Revirei os olhos novamente.
- Ah, por favor... É a única coisa que sei fazer! Quem dera eu fosse tão boa com uma espada como você é, Erick. Ou que pudesse manipular o fogo como você, Mike.
- Nati, não se faça de vítima. Você é boa com magia! Posso ser bom com uma Khopesh na mão, mas sem isso eu não sei fazer nada! - Protestou Erick.
Semicerrei os olhos, olhando-os desafiadora.
Começamos uma amistosa discussão de quem ali era o mais desprovido de habilidades quando Amós chegou.
Todos se calaram, menos nós três que continuávamos a discutir. Eu estava quase jogando um pedaço de torta na cara de Mike quando me toquei.
- Amós! - Cumprimentei, tentando acenar para o Sacerdote-leitor Chefe da casa da vida.
Amós era praticamente da minha família. Sim... e era uma história longa e complicada que nem eu entendia muito bem. Tudo o que eu sabia era que se minha tia Ruby, irmã do meu pai, fosse viva e ainda casada com o irmão de Amós, tio Julius, ele seria algo como meu tio também.
- Bom, olá crianças! - Cumprimentou Amós, indo até o centro do refeitório, onde todos podiam vê-lo.
- Crianças... - Zombou Mike, dando uma risada alta.
- Ei, seguidores de Anúbis! - Rosnou Greg, um iniciado de Hórus, nos fulminando. - Calem as bocas!
- É impressão minha ou esse cara mandou a gente calar a boca? - indagou Mike, olhando incrédulo para o garoto, sentado na mesa atrás de nós.
Dei uma cotovelada em Mike para calá-lo, mas não deixei de olhar feio para Greg.
- Por Anúbis, parem de falar! Se eu levar uma bronca eu mato vocês! - Falei.
- E Anúbis vai escrever um belo discurso no seu funeral, Mike. - Provocou Erick. O fulminei com o olhar. - O que?! Isso foi pra mim também?!
- Claro que foi, panaca. E em minha defesa, você sempre ri, srta. certinha! - Protestou Mike.
- Quieto! - Retruquei.
Um Hieróglifo passou zunindo por nós. Consegui me abaixar, puxando Erick comigo, fazendo o hieróglifo acertar Mike em cheio. O menino tentou falar mas sua voz não saiu.
Comprimi os lábios, constrangida, percebendo que todos do refeitório nos encaravam, enquanto Erick tentava não rir de Mike que protestava em silêncio.
Para todo o resto do mundo Hieróglifos nada mais eram que a antiga escrita egípcia, mas para nós, eram poderes. Combinações que podiam fazer magia e outras dezenas de coisas.
- Um minuto de atenção por favor. - pediu Amós, mais sério do que o costume.
O homem suspirou, arrumando alguns papéis em sua mão. Tinha a expressão cansada e duvidosa, como se tivesse muitas perguntas, e nenhuma delas tivesse respostas.
- Como todos vocês sabem, estamos passando por um tempo ruim. Apófis cada vez fica mais forte e a casa da vida está correndo sérios perigos. Os Kane tentaram pará-lo, mas sua força ultrapassou nossas expectativas. - Continuou, e então eu entendi todas suas preocupações.
Há mais ou menos dois anos meus primos, Sadie e Carter Kane, haviam perdido a luta contra Apófis, o deus do caos. Maat, a lei e a ordem, havia se enfraquecido mais do que já estava fraca, ameaçando destruir tudo o que conhecíamos. Junto com a derrota, Sadie, Carter, Zia Rashid, Walt e mais um tanto de jovens magos haviam desaparecido. Não literalmente sumido, mas muitos diziam que após perder a luta, eles haviam fugido, para nunca mais voltar.
- E então... vai, enfim, nos deixar lutar, Amós? - Indagou Greg, vibrante.
Erick e Mike se mexeram animados ao meu lado.
- Não cabe mais a mim essa decisão, Greg. - Respondeu Amós, soltando um forte suspiro. - Fiz uma dura escolha essa manhã, algo que não sei se dará certo... - o homem remexeu em seus papéis, antes de se voltar a nós, aumentando o tom de voz. - A partir de agora, vocês não pertencem mais a casa da vida. Cada um passará a morar com seus devidos deuses. Irão treinar e viver cada um em seu castelo ou templo em questão.
- Espera... o que?! - Um burburinho alarmante se espalhou pelo refeitório.
Olhei assustada para Erick e Mike enquanto os protestos em minha volta aumentavam.
- Atenção, pessoal, atenção! - Pediu Amós - sei que alguns e vocês não vão gostar disso, mas é preciso!
- Amós, não! quer dizer... nós três, sozinhos no duat, com Anúbis! - Protestou Erick, incrédulo.
- Não é estar sozinha com Anúbis que me assusta é o fato dele morar no submundo... - Falei.
- Não estarão sozinhos, Erick, eu lhe asseguro. Há anos iniciadas mais velhas foram morar com Anúbis, isso não será problema. - Prometeu Amós. - Sobre o submundo, Natália, Anúbis tomou todas as precauções para vocês viverem bem lá. Eu lhes prometo que ficarão a salvo!
- Mas... a casa da vida sempre foi nosso lar. Não podem nos mandar embora assim, de repente! - Rebati.
- Eu sei, eu sei! Mas uma guerra pode explodir a qualquer minuto e vocês ainda não estão prontos! Vocês terão que ficar mais fortes, aprimorar seus poderes! - Todos começaram a protestar novamente, mas Amós deu um basta no falatório com um aceno de mão. - Já está decidido, não a nada para se discutir! O conselho aceitou e os deuses também. Vocês partirão ainda hoje, ao meio dia. - Finalizou, antes de virar as costas e sair do refeitório, deixando para trás uma multidão de adolescentes perplexos.
Eu e meus amigos nos entreolhamos e saímos correndo atrás de Amós sem exitar.
- Amós, espera, Amós! - Chamei.
- Por favor Amós, não faça isso! Nos deixar morar no mundo inferior, é loucura! Não podemos ficar no mundo inferior, estamos vivos! - Argumentou Erick.
Mike tentou falar mas sua voz não saiu, fazendo-o ficar de bico por causa disso.
- Erick, concordo com você! Sei que nunca nos entrosamos com deuses, porém, é preciso! - Amós tocou o ombro de meu amigo, lançando um olhar pesaroso a mim e a Mike.
- Mesmo assim, Amós! Não quero ir! - Falei. - Meu pai... meu pai vive no duat, ele é um dos seguidores de Hórus, e eu não quero vê-lo! - Protestei.
Essa é uma história complicada. Eu, meu pai e minha mãe não nos víamos a muito tempo. O motivo? Bem... é outra longa história, que eu não gosto de contar.
- Problemas pessoais são nossas menores preocupações agora, Natália. - Falou Amós. - Sei o que sente, mas peço que seja forte e compreenda que tudo o que estamos fazendo é para o bem de vocês.
Erick me lançou um olhar chateado, parecendo ficar triste por mim.
- Será que não teria uma vaga pra nós em outro lugar? - Perguntou.
- Infelizmente não, crianças. Terão que ir para o castelo de Anúbis. - Respondeu o homem.
Passei a mão no rosto, sem saber o que dizer.
- Então temos que ir... - Constatou Erick, derrotado.
Olhei pra ele emburrada, julgando-o com o olhar. Erick me respondeu com uma cara de "cale a boca, coisada".
- Sinto dizer que sim. - disse Amós. Gememos em desaprovação. - Agora, acho melhor irem arrumar suas coisas. Logo dará meio dia e, pelo que conheço de Anúbis, ele não gosta de atrasos. - Aconselhou, seguindo seu caminho.
Nós três nos entreolhamos frustrados.
- E agora? - Indaguei, sentindo meu coração começar a palpitar fora dá normalidade.
Eu realmente não sabia o que esperar disso tudo. Na verdade, acho que minha ficha ainda nem havia caído. Eu, Natália Ramsés, estava indo para o lado mágico do duat, morar com um deus que eu nunca havia visto em minha vida.
Okay... talvez minha ficha estivesse começando a cair. E sinceramente, eu não estava gostando nada, nada.

Os seguidores de Anúbis. - Livro I. (✓) EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora