Amós, nós também te odiamos.

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Dias depois.

PDV NATÁLIA.

Suspirei, tomando um gole de meu chá entediada. 
O clima naquela mesa de café da manhã estaria menos tenso se Apófis estivesse dançando a macarena no meio dos pães. Todos estavam ali, mas era como se eu estivesse totalmente sozinha. Parecia que, no momento, todos estavam me odiando. Anúbis me encarava as vezes com cara de acusação. Era óbvio que estava puto por eu ter denunciado Néftis, que já estava sendo tratada como uma traidora por todos no duat. Já Luana me olhava como se desejasse que meu chá estivesse envenenado e Rakel, Mike e Erick estavam mais como mediadores, parecendo se questionar o porquê de nossas vidas terem ido do céu ao inferno em dois segundos.
— Droga… - Rosnou Luana, tentando se esticar para pegar o pote de geléia do outro lado da mesa. 
Estendi o pote para ela e ela me olhou com raiva.
— Não preciso de sua ajuda! - Protestou Luana, que no meu “pequeno incidente com Apófis” havia quebrado sua “linda e torneada” perna. Ela estava com dificuldades para fazer tudo, ou fingia estar, mas Anúbis deu logo um jeito nisso, colocando-nos como seus escravos.
— Não quer? - Perguntei, levando a caneca de chá de volta a minha boca, estendendo mais uma vez o pote de geléia para Luana.
— Nem pensar! - Rosnou. 
Dei de ombros, abrindo o pote de geléia cheio, despejando-o inteiro em meu prato.
— É uma pena, pois agora acabou. - Falei, em um tom inocente. 
Luana encarou-me com uma raiva mortal, enquanto eu arremessava o pote vazio em direção ao cesto de lixo. Minha mira, não para minha surpresa, foi péssima. O pote passou longe do cesto, espatifando-se na parede, pintando-a de roxo. 
Olhei desafiante para Anúbis, esperando uma bronca, afinal, mesmo que eu me dê muito mal, ele pelo menos terá que falar comigo e isso é bem melhor do que ser ignorada.
— Natália! - Repreendeu-me Erick, de olhos arregalados. 
O brilho divertido nos olhos de Mike voltou quando ele pressentiu a "treta" que rolaria ali.
— Merda… - Suspirou Anúbis, cansado. - Você vai limpar isso. - Falou, continuando com seu rosto impassível. 
Rakel o olhou incrédula. 
Bati a cabeça na mesa, soltando um grunhido de frustração.
— Mais que droga...
Eu me sentia péssima. Como se não bastasse um deus, agora eu tinha dois deuses contra mim. Néftis parecia ser uma deusa legal, eu sempre gostei de água e não tinha nada contra ela, mas ela com toda certeza tinha algo contra mim.
O silêncio torturante se instalou novamente me deixando cismada. Que raios estava acontecendo com essa gente?!
— Uau, que clima. - Comentou uma nova voz no ambiente. 
Me virei para ela desacreditada, não imaginando alguém com menos sorte que eu.
— Natália ainda não morreu, por que essas caras de enterro? - Aquela voz era a última que eu queria ouvir hoje, mas por outro lado era uma boa opção para a confusão que eu queria causar.
— Ah, Horús, ótimo! - Gritei, levantando-me da cadeira. - Venha, sente-se!
O deus da guerra franziu a testa. 
— Nem pensar. Provavelmente irá me deixar sentado aí para sempre, sua traiçoeira. - Falou o loiro, olhando-me desconfiado. 
O olhei, entediada.
— Vai perder a chance maravilhosa de se juntar a mesa dos "odiadores de Natália Remsés!"... 
— Existe esse fã-clube? Por que não me avisaram antes?! 
Anúbis soltou um longo suspiro. 
— O que faz aqui, Hórus? - Perguntou, mas Rakel cortou o deus antes dele começar a responder. 
— Natália, não te odiamos! - Rebateu a garota.
— Claro que não. Se me odiassem seria melhor! - Falei. - Vocês pelo menos me xingariam ou brigariam comigo, mas não… vocês me ignoram. Fingem que não sentem como se eu fosse todo o mal daqui.
— Você não todo o mal daqui, pare com isso! - Pediu Erick.
— Uma pequena parcela talvez, mas todo não! 
— Mike! 
— O que? Eu amo o mal! - Defendeu-se  o menino, olhando-me desesperado. 
— Uma DR juvenil agora… era tudo o que eu precisava. - Reclamou Hórus, recebendo um olhar cortante do deus chacal.
— Não minta, Erick. Eu sei que sou! Sou a menina da profecia, uma profecia que eu mal sei qual é e que mesmo assim está ferrando minha vida! - Protestei.
— Você ainda não pode saber. - Cortou Anúbis.
— Por que não se a profecia é minha?! - Perguntei incrédula.
— A garota tem razão. - Falou Hórus. - É a vida dela.
— Cale a boca! - Ordenou o Chacal. - O que está fazendo aqui?!
— Alguns deuses estão desconfiados de você por causa de Néftis. Me mandaram aqui para ter certeza que não está junto com ela, mas eu sei que não está. - Respondeu Hórus. - Então, eu vim ver Natália. Estou fazendo um favor para Rick!
Anúbis semicerrou os olhos. 
— Está vendo? Já estão descontando em você por minha causa! - Lamentei. 
— Ah, por favor… que egocentrismo! Estão desconfiando de Anúbis por causa de Néftis. Sua vida é insignificante para nós, pirralha. Essa profecia é a única coisa que nos impede de te dar de bandeja para Apófis. - Debochou Luana.
— Luana! - Censurou Rakel.
— Estou mentindo?! Fala sério… sou a única quero isso?! - Perguntou a garota. - Essa menina é um desastre!
— Não fale isso! - Brigou Erick.
— Eu falo o que quiser! - Respondeu Luana.
— Ninguém pediu sua opinião, Luana! - Falei, apertando os punhos.
— Quietos! - Ordenou Anúbis, mas ninguém pareceu ouvir.
— Escute aqui, sua... coisa, não fale assim da minha irmã! - Ordenou Mike.
Luana não podia levantar, mas mesmo assim socou a mesa, olhando desafiadora para o garoto.
— E o que o super herói vai fazer? - Perguntou, de queixo empinado.
Mike trincou o maxilar, nervoso como eu nunca tinha visto. Suas mãos se levantaram e eu dei um passo para trás.
— Quem sabe queimar essa sua cara azeda?! - Sugeriu, cerrando os dentes para a garota. Nos dedos do garoto surgiram várias chamas fortes. 
Rakel soltou um grito.
— Mike! - Avisou Erick. - Não faça isso, vai se arrepender!
— Me arrepender de dar uma lição nessa nojenta? Acredito que não!
— PAREM COM ISSO! - Gritou Anúbis.
Hórus o encarou incrédulo, assim como eu, tentando avisar o deus que seus gritos não estavam adiantando de nada.
— Idiota…
Luana deu um sorriso debochado.
— Mike, cuidado! - Gritei, derrubando uma cadeira com minha aproximação, mas já era tarde. Uma luz verde brilhou nos dedos de Luana e Mike voou longe, batendo contra a parede e ficando imóvel no chão.
— Mike! - Gritou Erick, correndo até o garoto.
— Sua… vaca! - Cuspi, pulando por cima da mesa e pegando Luana pelo pescoço. 
A cadeira não suportou o nosso peso e acabou caindo comigo em cima da irmã de Rakel.
— Natália, pare com isso! - Exclamou Rakel, fazendo a menção de vir até nós, mas nem teve tempo pois Erick pulou por cima de mim, segurando Rakel com força. - Erick! - Protestou a loira. 
Eu ainda segurava Luana, que tentava se soltar do meu enforcamento.
— Sua… pirralha! - Rosnou sem fôlego.
— Nunca mais encoste um dedo em meus amigos, entendeu?! - Indaguei. - Ou eu te mato!
— Me solte Erick! Parem com isso! - Pediu Rakel, tentando se desvencilhar do meu amigo.
Mike gemeu, tentando se levantar, meio desnorteado, mas um outro feitiço se chocou contra ele, fazendo-o voltar ao chão. 
Houve uma explosão de luz vermelha e eu tombei pro lado, soltando Luana. Um choque percorreu meu corpo, e eu parei de sentir minhas pernas, ficando totalmente paralisada da cabeça aos pés.
— Mas que merda é essa?! - Indagou Erick, que estava na mesma posição que eu. Rakel não escapava dessa também.
— VOCÊS ENLOUQUECERAM?! - Gritou Anúbis, furioso.

Os seguidores de Anúbis. - Livro I. (✓) EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora