Gemi baixo, contorcendo-me devagar no chão.
Eu sentia que cada parte de meu corpo estava sendo lenta e dolorosamente cozida, coisa que não acontecia, já que eu só estava presa em uma cela em algum lugar úmido, escuro e com cheiro de morte, vivendo o pior dos meus pesadelos.
Além da dor, o veneno de Apófis me lesava e distorcia minha visão, fazendo se tornar impossível qualquer tentativa de reagir ou sair dali. Havia só uma coisa que não havia feito eu perder totalmente as esperanças: o vidrinho com as toxinas que minha mãe me deu estava seguro dentro do bolso da calça e eu esperava o momento certo para usá-lo. Eu rezava para funcionar, afinal, aquilo poderia ser minha unica salvação já que eu duvidava que teria alguma chance de ser encontrada e salva por alguém.
Ouvi uma risada fria, engolindo em seco.
— Oi. - Cumprimentou Apófis.
Virei meu rosto para o lado oposto, o ignorando.
O deus do caos riu novamente praticamente pulando em cima de mim, tirado todo o ar dos meus, já danificados, pulmões.
— Filho da puta. - Xinguei sem fôlego.
Apófis ficou de joelhos, com uma perna de cada lado de meu corpo.
— Está na hora do meu matinal sangue, querida, e se quer saber você é minha única provedora mortal de tal especiaria. - Falou, com humor na voz, mas sem conseguir conter o desejo doentio em seus olhos.
Deixei um suspiro involuntário escapar de meus lábios, não pelo fato de Apófis estar aqui para me torturar mais um pouco e sim por ele já ter vindo buscar seu “ sangue matinal” por pelo menos quatro vezes. Eu estava desorientada, e sem noção nenhuma de hora, mas esse raciocínio me fez supor que eu já estava ali a bastante tempo.
Como se lê-se meus pensamentos, o deus cobra sorriu.
— Fique tranquila, querida, a espera está acabando. Não imagina o quão bem meus planos estão indo.
— Por que não me mata logo? - Perguntei, estranhando o jeito como aquilo soou.
— Tenha paciência. - Aconselhou Apófis, abaixando-se e mordendo meu pescoço com vontade.
Grunhi alto, controlado-me para não gritar, porém, a dor era extremamente forte, como eu nunca havia sentido na vida. Tentei, sem sucesso, arrancar Apófis de cima de mim, mas isso só serviu para animar mais o deus em me deixar seca. Minha visão se tornou turva e mais uma vez eu apaguei.
(...)
Abri os olhos assustada, sentindo-os queimar com a forte luz do lugar onde eu estava. Obviamente não era mais naquela cela escura e fétida pois eu estava deitada de bruços em um chão de mármore claro, muito bem polido.
Me remexi com cuidado, tentando manter meus olhos abertos, só então percebendo que eu não estava sozinha.
Levantei a cabeça, confusa e devagarinho, demorando para entender o que acontecia ali.
— Não… - Sussurrei, sem acreditar. Eu estava no Duat, no lado mágico e egípcio do mundo. Estava na sala dos deuses, e praticamente todos estavam ali, cada uma das divindades amarrada a seu devido trono com as inquebráveis fitas de Hathor.
A porta se abriu violentamente e Hórus e Anúbis foram jogados para dentro com força, também amarrados.
Ofeguei, horrorizada.
— Todos estão aqui? - Perguntou Apófis.
Ele era o que mais estava perto de mim, em cima de um pequeno palanque, de frente para todos os tronos. Eu estava mais atrás, na frente do maior trono da sala, que irradiava um poder incrível, mas que não havia ninguém sentado.
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Os seguidores de Anúbis. - Livro I. (✓) EM REVISÃO
ФанфикAmor. Uma palavra tão pequena, mas capaz de fazer grandes estragos, capaz de confundir e dividir as mentes e os corações das pessoas, capaz de deixar totalmente de lado a razão... Era assim que Natália se sentia, completamente dividida, completament...