Uma nova idade, uma nova tragédia.

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INSTITUTO STA. AUGUSTINE PARA GAROTAS.

TRÊS MESES DEPOIS.

O sol fraco de inverno entrou pela janela da sala de aula, iluminando os inúmeros lápis de cor que estavam espalhados pela minha mesa, enquanto eu franzia o cenho, tentando decidir se eu usava o verde escuro ou o verde quase escuro para pintar meu desenho. 

— Natália! - Gritou minha professora de História do outro lado da sala.

A ignorei, continuando a pintar animadamente meu desenho de artes inacabado.

Ouvi a mulher respirar fundo, repuxando os cantos dos lábios em um pequeno sorriso.

— Srta. Ramsés… eu estou falando com você! - Rosnou a professora, com um ódio controlado na voz. 

Rakel, que estava sentada na carteira atrás de mim, me deu um forte chute por debaixo da mesa.

— Ai, Rakel! - Reclamei, franzindo a testa. - Presente! - Falei, levantando a mão.

— Venha já aqui. - Ordenou a professora, empurrando seu óculos de aro para cima do nariz. 

Levantei-me entediada, caminhando até sua mesa. O resto das garotas da sala deram risadinhas de deboche quando passei mas eu nem me importei. Rakel franziu o cenho, olhando desafiadora para as meninas. 

Desde o primeiro dia de aula percebemos que a escola que Amós nos colocou não era para gente. Nossas companheiras de sala não gostavam de nós, os professores não gostavam de nós, até a cozinheira não gostava de nós. Eu odiava esse lugar com todas minhas forças e não tinha feito, literalmente, nenhuma amizade. Eu tinha apenas Rakel e vice- versa. O que, sinceramente, não era uma coisa ruim. 

Em toda minha vida eu nunca tive uma amiga mulher. Sempre tive Mike e Erick apenas, mas esses três meses tendo apenas Rakel me fez ganhar mais uma melhor amiga. Diferente dos meninos, eu podia contar todos meus problemas femininos para ela, passávamos horas e horas acordadas na madrugada conversando sobre coisas que eu nem ouso dizer em voz alta. Nossa amizade se fortaleceu o suficiente para que ela fosse o único motivo pelo qual eu ainda não tinha enlouquecido nessa escola de cárcere privado, pelo contrário, com ela era mais fácil fazer o inverso: enlouquecer todos os outros, a ponto de estarmos a um triz de alcançar nosso maior objetivo: sermos expulsas. 

Um outro fato que deixava cada dia da minha existência nesse lugar um saco era que durante todos esses 3 meses que ficamos aqui nenhuma vez conseguimos falar com os meninos. Isso no começo me fez pensar que eles apenas tinham esquecido de ligar para me dizer onde estavam estudando, mas depois de um mês comecei a considerar o fato dos dois estarem mortos, até que Amós me telefonou dizendo que a escola deles não permitia telefones e isso me fez ficar ainda mais brava com o meu quase tio. 

— Ai, sua grossa, cuidado onde pisa! - Rosnou uma das alunas, quando pisei sem querer em seu pé. 

Rakel revirou os olhos pra mim enquanto eu apenas sorria divertida.

— Se apresse! - Rosnou a Professora. 

Me coloquei na frente de sua mesa soltando um forte suspiro. 

— Pode me dizer o que significa isso?! - A mulher bateu a folha de minha última prova na mesa. A examinei.

— Todas as perguntas estão corretas. -Falei.

— Estariam se eu conseguisse ler e corrigir! - Rosnou. - O que significa essa escrita?!

— Oras, fiz o trabalho em hieróglifos egípcios. - Respondi, segurando uma risada. Rakel me olhou indignada, fazendo-me dar de ombros.

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