Novos jeitos de quase morrer.

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A água quente do chuveiro me fazia relaxar, tudo o que eu não consegui fazer durante a noite. Parecia que depois de um ataque de Apófis dormir tornou-se uma dificuldade pra mim. Cada vez que eu fechava os olhos lá estava o deus do caos, sorrindo e sendo extremamente bizarro. 
Eu nunca tive medo de escuro na vida, mas acho que a partir de agora a conta de luz de Anúbis iria aumentar. 
Sai do chuveiro colocando uma roupa qualquer. Fui até meu quarto, enxugando meu cabelo com a toalha distraidamente. 
Me senti sendo observada e virei a cabeça para trás, quase tendo um ataque cardíaco.
— A-Anúbis? - Gaguejei, olhando para o deus deitado em minha cama.
Ele parecia estar confortável. Estava encostado em minha cabeceira folheando uma de minhas revistas, sem interesse.
— Bom dia… - Desejou, franzindo a testa para mim. - Achei que mandei você repousar. Não esperava que estivesse acordada tão cedo.
— Eu não estou me sentindo cansada, e não preciso mais de repouso. Fique tranquilo. - Falei. - Hã... e também se eu ainda estivesse dormindo o senhor me pegaria na cama e isso seria muito constrangedor...
— Sobre isso, espero que não se importe com a minha ousadia de entrar aqui sem a sua permissão. - Falou o deus se levantando e arrumando as calças que mostravam o cós de sua cueca vermelha.
Senti um ligeiro calor, desviando os olhar.
— É que Rakel e Luana nunca se importaram.
— Principalmente Luana. - Acrescentei rápido.
— O que?
— Ah, nada… - Respondi, dobrando algumas roupas e jogando-as no armário.
Anúbis me avaliou com o olhar.
— Enfim… acho que já vivemos tantas coisas juntos que às vezes me esqueço que vocês são novatos. 
Dei um sorriso sem graça.
— É… realmente. - Concordei, sentindo-me um pouco culpada. - Hm… então, o que traz o senhor aqui? 
— Erick e Mike ainda estavam dormindo quando fui no quarto deles, e foi frustrante tentar acordá-los, então achei melhor vir até aqui e te avisar que não poderei treina-los hoje. Tenho um reunião com Osíris e então Bastet treinará vocês em Heliópolis. - Falou o deus. 
Pisquei os olhos por um momento, antes de olhá-lo incrédula.
— Você disse Heliópolis? - Indaguei. Anúbis assentiu de contra gosto. - Com o Hórus? Céus, a morte é uma opção?
Anúbis soltou uma risada rouca.
— Só por hoje. Eu realmente preciso me encontrar com Osíris. 
— Ah, fala sério… - Bufei. - A patricinha maligna não pode nos treinar? - Perguntei. 
Anúbis fez uma careta.
— Luana? Bom… ela não pode.
— Por quê ? - Indaguei. - Sei que ela não gosta da gente e nem de treinos mas vale a pena o sacrifício só pelo fato de não precisarmos olhar para Hórus. É só um dia! 
— Ela não pode, Natália, não é que não queira. Luana se machucou durante o acidente com Apófis. - Contou o Chacal. 
Abri a boca enquanto meu coração se apertava.
— Como assim?! 
— Ela quebrou uma perna. - Respondeu Anúbis. 
Comprimi os lábios me sentindo terrivelmente culpada mais uma vez. Pessoas tinham se machucado ontem? Por minha causa?!
Eu podia ver Apófis rindo de mim e uma proposta surgindo em minha mente: "Você está fazendo todos sofrerem, se entregue logo a mim. Será mais fácil.".
— Ei… - Cortou Anúbis, olhando para mim como se lê-se meus pensamentos. - Não foi sua culpa! Nem pense nisso!
— Eu não estou pensando… - Me calei antes de qualquer coisa. 
Droga, quem eu estava querendo enganar?! Eu não devia mentir pra ele. 
— Talvez o Hórus estivesse certo, afinal. - Murmurei pesarosa. 
— Em que? - Indagou Anúbis, confuso.
Suspirei.
— Em nada. Esqueça. - Falei. 
Olhei receosa para o espelho começando a pentear meu cabelo. Eu esperava que Anúbis fosse embora, mas ao invés disso ele continuou ali, fazendo um silêncio constrangedor se instalar no quarto.
Ficamos nesse clima até eu me assustar com o puxão que o deus me deu. 
— Ai! - Exclamei. 
Olhei assustada para Anúbis. 
— Eu… entendi o que você disse! - Acusou.
— Quê?! 
— “Talvez o Hórus estivesse certo, afinal " - Repetiu Anúbis. - Que idiotice é essa?!
— Eu… - Tentei argumentar, mas estava constrangida demais pra isso e sem saber o que fazer. Anúbis estava me segurando pelo braço em uma distância consideravelmente pequena. Quer dizer… ele parecia estar meio puto comigo, mas ele fica muito fofo quando estava puto.
— Eu falei sem pensar, desculpe! - Exclamei.
Anúbis respirou fundo .
— Natália, entenda. Você não vai morrer, o que aconteceu com Luana não foi sua culpa. Apófis é o único culpado disso tudo! 
Fiz uma careta aborrecida. 
Ótimo, eles estão mentindo para si mesmos.
— Mas… - Comecei.
— Vai discutir comigo? - Cortou Anúbis, desafiador.
— Mas eu...
— Natália!
— Anúbis! - Protestei incrédula.
— Cale a boca! - Ordenou.
O encarei ultrajada. 
— Mas eu só queria… - Anúbis agarrou-me a cintura puxando-me para si. 
Sufoquei um grito, sentindo cada parte do corpo de Anúbis colada em mim, junto com um cheiro inebriante que me lembrava flor de laranjeira e livros recém comprados. Ou talvez ele tivesse um cheiro normal, e minha cabeça fantasiosa estava criando um cheiro para aquele momento em que o deus dos funerais me olhava dentro dos olhos, com as duas mãos em meus ombros. 
Meu corpo amoleceu e eu senti que estava nas nuvens. Uma das mãos de Anúbis afagou meus cabelos, como se eu fosse alguma criança que precisasse de afeto, porém, essa ideia paternal não passava por minha cabeça, já que tudo que eu pensava no momento era: Céus, que gostoso!
— Você não foi culpada por nada e não discuta comigo. - Ordenou Anúbis, me soltando. 
O encarei perplexa mas ele apenas se virou, saindo do quarto. Fiquei um tempo parada estática, tentando lembrar meu nome até que o batimento escandaloso do meu coração tiraram-me de meus devaneios.
— Mas… o que foi isso?! - Indaguei ao nada.

Os seguidores de Anúbis. - Livro I. (✓) EM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora