PDV NATÁLIA
Olhei para o céu cinza e chuvoso, entrando no cemitério de cabeça baixa.
O tempo estava nublado e razoavelmente frio. Um verdadeiro reflexo de como eu estava em sentido, e um clima perfeito para eu continuar me martirizando pela morte de Mike, mesmo que tivesse se passado algumas semanas.
Meus cabelos esvoaçavam atrás de mim enquanto algumas pessoas me lançavam olhares questionadores, afinal uma garota com flores, quadrinhos e um saco de balas em um cemitério não parecia boa coisa nem para mim.
Eu tinha saído bem cedo do castelo de Anúbis. Talvez agora todos estivessem loucos em minha procura mas eu precisava dizer adeus a Mike decentemente, como uma irmã louca faria. Entrei em uma trilha que dava para os túmulos de descendentes egípcios, claro que nenhum mortal sabia disso, mas ainda sim existia. Achei o túmulo de Mike rápido demais e um aperto invadiu meu peito.
— Hey… - Falei, forçando um sorriso.
O túmulo era coberto por pedras, com uma lápide feita de um grande pedaço de mármore cinza e quadrado, onde seu nome estava escrito com letras pretas e grandes. Talvez passasse despercebido para todos que estavam ali mas consegui encontrar o símbolo de Anúbis esculpido no fim do nome de meu amigo. Sua data de nascimento e sua data de morte estavam ali também e isso me fez sentir culpada por perceber o quão pouco Mike havia vivido.
Meus olhos marejaram e eu me ajoelhei, olhando carinhosamente para o pedaço de pedra.
Tirei as folhas secas de cima do túmulo de Mike, não conseguindo acreditar que ele estava mesmo ali dentro.
Anúbis me disse que ele havia passado por todos os rituais antigos de mumificação, mas que nos dias de hoje os egípcios optavam pelos cemitérios normais, ao invés de pirâmides, o que era bom e menos brega e antiquado.
— Você não imagina como está sendo difícil sem você. - Contei ao túmulo.
De verdade estava difícil...
Após minha volta ao Duat e ao enterro de Mike, Amós voltou e insistiu em me levar para outro esconderijo, mas Anúbis recusou. Eu não iria de qualquer forma, afinal, havia perdido os últimos três meses da vida de Mike longe dele por causa daquele plano idiota e que não havia servido para nada. Apófis me acharia e eu teria que lutar, querendo ou não. Então, mesmo que de contra gosto, meu ex quase tio concordou em me deixar com Anúbis, e até se desculpou mesmo que eu não o culpasse por nada, afinal, só existia um culpado daquilo tudo.
Afastei as lembranças, tentando focar em Mike e em sua homenagem.
- Eu te trouxe presentes! - Contei.
Arrumei delicadamente cada uma das coisas que eu havia trazido: Um buquê simples de rosas brancas, pois Mike amava a cor branca, apesar de eu sempre ter implicado com ele dizendo que branco não era necessariamente uma cor. Também havia uma revistinha em quadrinhos, uma das paixões infantis de Mike. E por último, e não menos importante, o pacotinho das balas idiotas que Mike achou quando fugimos de alguns monstros quando pequenos. A bala tinha um gosto horroroso, mas Mike nos fez comer até o último pedacinho só porque aquela droga tinha o seu nome.
Sorri com cada uma das lembranças, não conseguindo imaginar como seria minha vida daqui pra frente. Apófis continuaria sua caçada, derrubando quem entrasse em seu caminho. Eu estava no caminho dele e meus amigos também, e eu não sabia se eu conseguiria superar se mais alguém morresse por minha causa.
— Com licença… - Chamou uma voz masculina.
Me virei, um pouco assustada, vendo um senhor me olhando e sorrindo bondosamente.
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Os seguidores de Anúbis. - Livro I. (✓) EM REVISÃO
FanfictionAmor. Uma palavra tão pequena, mas capaz de fazer grandes estragos, capaz de confundir e dividir as mentes e os corações das pessoas, capaz de deixar totalmente de lado a razão... Era assim que Natália se sentia, completamente dividida, completament...