Capítulo 23

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Os três dias seguintes, não podiam ser mais entediantes, cinzentos, que já havia vivido em minha vida. Para mim, cada dia teve o dobro, o triplo, de vinte quatro horas normais que é para se esperar de um dia. Não tinha notícias de minha irmã, só via Noah na hora de jantar, visto que o almoço deixava pronto encima da mesa. Via apenas seu vulto pela casa, mas ele não disse se quer uma palavra comigo novamente. Falei com Aly algumas vezes para salvar um pouco minhas horas. E para ajudar, não tinha crimes a desvendar, prisão para efetuar e muito menos bandidos fugindo e me fazendo realizar um pouco de exercício. Resumindo: eu estava em um inferno que não acabava mais!

- Acho que o Capitão, vai começar a suspeitar. Já faz alguns dias que estou aqui - tentei falar enquanto jantava com Noah, porém, recebi apenas seu eterno silêncio - pode responder ao menos alguma coisa?

- Coma! - ele soltou ríspido.

- Perdão? - disse tentando me confirmar realmente do que escutei.

- Você entendeu perfeitamente detetive Parker. Coma! Assim você não perturba - ele respondeu, se levantando da mesa em seguida, retirando seu prato.

- Por que está me tratando assim? - arrisquei perguntar, já desconfiando do motivo. Me levantei da mesa e cheguei mais próximo dele, o olhando fixamente.

- Sério? Sei que é inteligente demais para fazer uma pergunta idiota dessa! - Noah disse dando um passo para atrás, mantendo distância de mim.

- Sabe, você era mais fácil de entender. Agora, apareceu em minha vida novamente, bancando o engraçadinho, cheio de ironias, depois descubro quem realmente é e passa a bancar o herói que deseja me salvar e agora, mudou para Shrek - e então escuto sua risada - acho que é maldade minha te comparar com ele. Você está pior que um ogro esses dias. E eu que estava acreditando quando disse me amar.

- Isso continua sendo verdade - ele passou a dizer, se recompondo - mas, amar não significa se humilhar ao extremo Parker. Eu aguentei todas as suas ofensas contra mim, aguentei a carga de você me considerar culpado, todo esse tempo. Aguentei você sendo grossa, estúpida, mas chegou o momento em que cansei. Continuo te amando, continuo querendo te salvar, te proteger. Mas, não quero ser o seu saco de pancadas.

- E o que eu faço com todo esse tempo que passei me convencendo de que você preferiu a minha irmã, do que a mim? – soltei sem pensar direito em minhas palavras, o que me levou a um arrependimento em seguida.

- Você sabe muito bem de que isso não é verdade – ele disse se aproximando cada vez mais, me deixando completamente desconcertada e talvez um pouco vermelha, pelo que sinto esquentar minha pele.

Cada passo seu, meu coração mais acelerava, seu olhar fixo em mim, me deixava sem jeito, sem reação, seu cheiro, sua respiração próxima, seu rosto cada vez mais perto do meu, eu não sabia ao certo se queria aquilo, não sabia se era certo deixar acontecer, não conseguia entender meu coração, nem mesmo entender minha razão, paralisada estava, não conseguia reagir de nenhuma forma. Quando seus lábios estavam próximos dos meus, quando meus olhos estavam fechados, quando todos os problemas haviam sumido, algo me acordou para a vida novamente.

- Ah, desculpe! Não queria atrapalhar – Noah e eu escutamos, e ao olharmos era Jullian que havia chegado.

- Não está atrapalhando nada – Noah respondeu ao seu amigo, e o fez sinal para se sentar – aconteceu algo?

- Acho que é hora de Bela voltar, quero dizer, detetive Parker – ele passou a dizer depois de se sentar e fazermos o mesmo – estão começando a desconfiar demais.

- Quem? – Noah perguntou sem delongas.

- O capitão, o tal do Oliver, e Turner também está muito inquieto – Jullian respondeu.

- Você tem alguma notícia sobre eles? – Noah questionou – as coisas estão muito paradas ultimamente, tenho receio de mandar Parker para lá.

- Não cara. Infelizmente, ou felizmente, a última vez que tive notícias foi quando parei no hospital – ele contestou como se relembrando o ocorrido e seu semblante mudou.

- Sinto muito por tudo que aconteceu. Mas, sabe que sua decisão te colocou em risco, e não sabemos quando isso irá acabar – Noah falou e comecei a me sentir agoniada por não saber exatamente do que se tratava – e por esse mesmo motivo, não sei se ainda é uma boa ideia Parker voltar.

- Com você por perto, eles não vão arriscar tão cedo Noah. Sabe muito bem disso – Jullian respondeu.

- Como assim? – resolvi perguntar, já que não estava envolvida na conversa e nem me envolveriam, visto que não querem me passar informações alguma.

- Acho melhor você ir para seu quarto Parker, logo vou até lá te falar o que decidi – Noah disse a mim, fazendo meus nervos ficarem a flor da pele. Não conseguia acreditar que o mesmo cara que estava a ponto de me beijar, que diz me amar, muda em segundos de comportamento, para uma completa fera, como o chamam.

- Em qual momento passei a aceitar ordens e decisões suas Heitor? – comecei a perder a paciência que estava mantendo até aquele instante.

- A partir do momento que sua vida passou a estar por um fio Parker – ele rebateu e Jullian ficou impactado.

- Minha vida sempre esteve em jogo. Sempre estive muito bem sozinha. Não é agora que preciso de um... – dizia até ser interrompida.

- De um o que Parker? – Noah passou a se alterar, se levantando em minha frente – de um criminoso? De um bandido? Ande, jogue todas as suas acusações na minha cara novamente!

Levantei calmamente, olhando diretamente em seus olhos que explodiam raiva, remorso e todos sentimentos ruins que existem.

- De um "heroizinho meia boca", como você! Nãose esqueça, sou eu a detetive, a que acaba com criminosos, a que protege aoutros. Eu, sou a profissional, você não passa de um amador machista, comotodos os outros homens! – respondi mantendo a compostura e então me retireipara fora da cabana, precisando um pouco de ar puro que era a única coisa boaque aquele lugar me oferecia. 

Olhando para o céu, para as árvores, escutando o som dos pássaros a minha volta, tentava colocar os pensamentos em ordem. Não sabia se era certo ter falado tudo que explodi, mas já não aguentava mais. Não nasci para ser dominada por homem algum, muito menos um bipolar que muda constantemente, me deixando completamente fora de si. Ainda me custava entender tudo o que Noah me fazia sentir. Em um segundo, desejava beijá-lo, mas em outro, o queria mandar para outro planeta e nunca mais o ver.

- Tudo bem, você conseguiu – escutei Noah se aproximando, me tirando de meus pensamentos depois de longos minutos que havia ficado sozinha – você vai voltar para sua "vidinha" maravilhosa que tanto ama, mas apenas por uma semana.

- E depois de uma semana? – perguntei o encarando.

- Você volta para cá! – ele rebateu sem demora, com um tom de poder novamente.

- Que garantia você tem, de que vou voltar? Vai me trazer a força novamente, ou sedada? – questionei sem segurar uma leve risada de ironia.

- Não vou precisar disso. Você, vai voltar – ele disse calmamente.

- Por que acredita nisso? – arrisquei novamente.

- Por que você vai! – ele respondeu e então seretirou. 

A Fera e a Quase Bela |LIVRO 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora