A Fera e a Quase Bela |LIVRO 1|

Capítulo 35

- Ok Bela, agora me diga o que está planejando! – Noah pediu assim que saímos de meu apartamento.

- Acredito que é melhor escolhermos um lugar e então conversarmos. Assim eu consigo te explicar certo tudo que penso em fazer – respondi a ele, desejando, que ele acreditasse. Pois, precisava apenas de uma brecha para conseguir fazer exatamente o que queria.

- Tem uma cafeteria aqui perto que eu conheço, o que acha? É um lugar tranquilo, podemos conversar daí – ele disse e então concordei.

O caminho até a cafeteria, não era longo, mas parecia, pelo silêncio em que estávamos. Nenhum de nós conseguia dizer se quer uma palavra. Era uma situação complicada, tudo que estava se passando, e o mistério que ele via que eu estava escondendo. Eu estava ciente de que tudo que ele queria, era me proteger, mas eu tinha que agir de alguma forma, e podia arcar com minhas próprias consequências.

Quando chegamos ao local, encontramos uma mesa vaga, e nos sentamos. Noah pediu para nós uma bebida quente e então passou a me encarar.

- Vai começar a me dizer, ou vamos esperar a bebida chegar? – ele perguntou com uma leve risada.

- Não. Posso começar a dizer agora. Sabe Noah, estava pensando em um plano, em que preciso conseguir algo para dar certo, e isso precisa ser feito ainda hoje! – comecei a explicar.

- Tudo bem, se está ao meu alcance de ajudar, e for algo que não te coloque em risco, eu farei, com certeza. É só pedir – ele respondeu com tom preocupado.

- Ok. Só, posso te perguntar algo antes? – decidi questionar antes.

- Sim! – ele respondeu.

- O seu pai, é um dos criminosos mais procurados, e ele é seu pai adotivo, por que continuou com ele? Tudo bem, você diz que está me protegendo, mas antes disso tudo, você não podia ter se livrado dessa vida? – perguntei.

- Tudo aconteceu muito cedo Bela. E, quando descobri que você já estava envolvida, eu não tinha como sair disso – ele explicou um pouco cabisbaixo.

- Noah, Heitor, sei lá, por que não pensou em você primeiro? Não é possível que definitivamente minha salvação é apenas você! – rebati.

- Bela! Eu me envolvi, é apenas isso. Me envolvi em todos os sentidos – ele passou a dizer e eu decidi não continuar mais no assunto, sabia que não conseguiria mais nenhuma informação dele. Sabia que sentimentos estavam envolvidos, apesar de ao mesmo tempo eu continuar com um pé atrás a respeito disso tudo.

- Tudo bem! – enquanto eu dizia, nossos bebidas chegaram – Eu preciso ir ao toalete antes, volto já.

- Você não vai fazer aquela cena típica de filme, em que foge pelo banheiro não é? – ele perguntou sarcasticamente, com uma leve risada.

- Duvido muito que tenha uma janela que eu consiga passar! – respondi no mesmo tom irônico, e me retirei em seguida.

O corredor em que dava para os toaletes, tanto o masculino quanto o feminino, para a minha sorte, não era possível enxergar da mesa que havia escolhido para sentarmos. Dessa forma, assim que saiu um rapaz do banheiro, pedi a ele que me fizesse um favor. E claro, tive que desembolsar um valor para isso, porém, era necessário.

E tenho que admitir que não podia ter escolhido pessoa melhor, ele saiu melhor do que eu esperava. Conseguiu fazer exatamente o que eu havia pedido, derramar a bebida de Noah nele. E como esperava, ele veio até o banheiro para se limpar, enquanto eu espiava pela porta. Assim que ele entrou, eu consegui sair em um passo acelerado. Mas, sabia que tinha pouco tempo. Ele certamente se daria conta logo, de que eu tinha me ido.

Assim que sai da cafeteria, pedi um táxi, o mais rápido possível. E logo que entrei no táxi, Noah já apareceu na porta da cafeteria, desesperado, pois já sabia o que podia esperar de mim.

 Dentro do táxi, enquanto era percorrido o caminho, eu ficava cada segundo mais apreensiva com o que havia planejado. Não sabia ao certo o que daria no final, estava apenas ciente de que era uma decisão certamente precipitada, mas necessária. Não conseguia enxergar mais nenhuma saída, e o que mais queria no momento era apenas libertar meu pai, e consequentemente, libertar Noah disso tudo também. Ele merecia viver a vida dele sem estar em função da minha.

Eu podia esperar que ele me seguisse? Certamente sim. Podia esperar que o encontraria em meu ponto final? Com certeza. O que eu faria, ainda não tinha ideia. Noah é determinado em me proteger, e eu nem sei ao certo do que tanto me protege.

Quando cheguei ao meu destino, depois de um certo longo caminho deserto, não havia sinal de Noah ainda. Eu estava exatamente no endereço em que Aguirre queria que eu o encontrasse,  pois no dia anterior ele havia me enviado, e certamente eu decidi não comentar com ninguém. E então, meu coração estava tão acelerado como nunca antes. Era meu trabalho, claro, mas algo me preocupava muito mais que todas as vezes.

 Enquanto caminhava até a porta, senti que alguém me observara, mas eu não conseguia me dar conta de qual direção. Quando vi, alguém estava perto, era Noah que acabava de chegar, segurando meu braço logo em seguida e me fazendo virar em direção a ele.

- Você ficou maluca? – ele começou a esbravejar porém com tom de voz baixo, pois não queria chamar atenção de ninguém, muito menos de seu pai.

- Noah, me deixe! É decisão minha! – disse firme a ele.

- Bela entenda, se você entrar por aquela porta, não terá mais volta! – ele havia mudado, de bravo para desesperado, suplicando, implorando com seu olhar para que eu mudasse minha decisão, mas eu não conseguia.

- Você vai me contar tudo que está envolvido? – questionei! E ele começou a passar suas mãos pela cabeça.

- Não posso Bela. Não posso! Será que você não consegue entender, por que tem que ser tão teimosa? Tão determinada? Tão... – eu já não conseguia decifrar o que estava se passando dentro dele. Raiva, medo, preocupação, pelo jeito era uma explosão de sentimentos.

- Ora ora... – passei a escutar uma voz diferente – veja só quem temos aqui. – era um homem de cabelo já grisalho que saia da casa. Estatura alta, boa postura, boa vestimenta, certamente era Aguirre. Seu olhar era de autoridade, era como se sua presença fosse suficiente para qualquer um fazer o que ele bem quisesse.

O olhar de Noah encontrou o meu, e então eu vi, eu vi que ele estava decepcionado, comigo, com ele. Era como se ele me dissesse pelo seu olhar, que aquele momento era o fim da linha, que era o ponto final.