Capítulo 37

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Ao entrar na casa de Aguirre, me deparo com dois capangas em sua sala, ou duas estatuas humanas, intactas que mal piscam. Eu realmente estava na casa do principal criminoso, o qual sempre quis colocar atrás das grades, meu maior alvo em minha profissão, o meu principal rival. O qual jamais imaginava que estava interligado com minha vida. Eu procurava o olhar de Noah, mas não o encontrava. Ele olhava para todos os lados, passava a mão em sua cabeça, era evidente o seu nervoso, e era compreensível.

- Por favor detetive Parker, sente-se – Aguirre me tirou de meus pensamentos, me apontando para o sofá. Em seguida sentei, e Noah fez o mesmo.

Logo, veio uma serviçal com uma bandeja servindo whisky para Aguirre e perguntando se queríamos alguma coisa. Mesmo com ele insistindo, recusamos ao mesmo instante.

- Eu vim aqui apenas com um propósito – por fim quebrei o silêncio que havia tomado conta e senti o olhar de Aguirre fixo em mim. Era um homem impossível de se descrever, impossível de se ler. A única coisa visível, era que ele realmente era a pessoa mais fria que eu havia conhecido, e mesmo eu conhecendo diversos criminosos frios, nenhum chegava perto do que Aguirre era capaz de transmitir.

- O seu pai. É claro – ele passava a dizer – O que mais faria você tomar uma decisão tão... – ele procurava a palavra certa, aproveitando para tomar de seu whisky – tão precipitada e tão idiota de vir até aqui?

- Por favor, vamos ao ponto. Noah me disse que é a mim que o Senhor quer, não o meu pai. Sendo assim, aqui estou – soltei imediatamente e senti Noah mais uma vez reprovando o que eu fazia.

- Sabe o que é engraçado? – Aguirre se levanta e passa a caminhar de um lado para o outro – É Heitor, meu filho, se colocar contra o pai para defender você por tanto tempo. E no fim, eu ganhar você assim, de bandeja! – ele ria da situação, o que mais me causava remorso por dentro – E mais, chegou o momento de eu te dizer Heitor – e então se virou em direção dele – que eu te avisei. Eu te avisei que sua cicatriz, seria em vão.

Em aquele instante um nó surgiu em minha garganta. Noah não conseguia se quer dizer uma palavra. Ele estava em silêncio o tempo todo. Era impossível saber o que se passava em sua mente. E descobrir que sua cicatriz tinha a ver comigo, me deixava sem chão. A cada instante eu descobria que as coisas podiam ir muito mais além do que eu se quer tentava imaginar. O que estava começando a me assustar.

- Posso entender o que o Senhor tanto quer comigo? Posso entender o motivo de eu ser seu alvo? – perguntei com uma pitada de arrependimento, pois não sabia se era o que eu realmente queria saber no momento.

- Uma vida, por uma rosa – foi a simples frase que Aguirre soltou, com um sorriso sínico. Não conseguia entender o que ele queria dizer com isso. Apenas me lembrava da ocasião em que Noah passou a conversar comigo, quando tinha apenas oito anos, em que chegou com uma rosa em mãos e um machucado em seu braço que havia dito que foi para conseguir me trazer a rosa. Mas, eu não conseguia entender se isso tinha algo relacionado com tudo que estava acontecendo.

Eu tentava procurar a atenção de Noah, porém ele estava de cabeça baixa, e nem por um segundo olhava para mim. E era visível o quanto Aguirre se divertia com a situação.

- Como assim? – por fim perguntei com a curiosidade tomando conta.

- Simples, uma vida, por uma rosa. Heitor, Noah, se tornou amaldiçoado, a te prejudicar detetive Parker. Desde o momento em que entrou em sua vida! E é dever dele, lhe explicar tudo isso! - Aguirre falou e por fim vi Noah levantar o seu olhar diretamente para ele.

- Não é o momento - foram as únicas palavras que Noah foi capaz de soltar. E ainda não conseguia fazer com que olhasse para mim.

- Seja o que seja, estou aqui. Como podemos resolver isso? - perguntei com o nervoso começando a tomar conta de mim.

- Eu libertarei o seu pai, detetive Parker. Porém, não tão impune, pois tanto ele, quanto sua irmã, quanto Noah, pensaram - por um instante ele parou, como se as memórias passassem em sua cabeça, soltando uma leve risada - pensaram que podiam me enganar. Que podiam me fazer de palhaço! Então, não posso deixá-los totalmente impunes, não seria nada justo!

- O que quer dizer com isso? O que fará com eles? - comecei a questionar com a emoção chegando e o coração acelerando a cada passo. Eu precisa me controlar, o que estava começando a ficar impossível. Por fim, senti Noah colocar sua mão sobre a minha, e encontrei o seu olhar em seguida. Ele estava tão preocupado quanto eu.

- Vou deixá-los vivos. Eu cumpro com minhas promessas. Isso, eu posso lhe garantir - Aguirre passava a dizer - Mas então, você será minha. Trabalhará comigo, será minha mão direita. Me ajudará muito, ainda mais que é detetive, será certamente minha melhor comparsa.

- Eu? Vou trabalhar com você? - indaguei, pensando em todos os meus princípios e conceitos.

- Sim. E sabe qual é a melhor parte? - Ele se divertia mais uma vez - é que está confinada a isso, até o fim de sua vida! Cara detetive.

Cada palavra sua me causava repulsa. Noah não tirava sua mão da minha. Sentia que estava decepcionado. E por mais que parecesse ser algo que eu conseguiria me livrar, algo me dizia que não era somente isso. Me perguntava se podia confiar que meu pai realmente ficaria bem. Me perguntava se minha irmã ficaria bem. Me perguntava o que poderia acontecer com Noah. Algo me fazia pensar que tinha muito mais por trás, e eu mais uma vez, não estava errada.

"Uma vida, por um rosa". "Uma vida, por uma rosa". "Uma vida, por uma rosa". Meus pensamentos me torturavam, a frase não saía de minha cabeça, nem por um segundo.

"Uma vida, por uma rosa...".

A Fera e a Quase Bela |LIVRO 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora