Um

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Atualmente...

Kalel James

  A garota com cabelos longos e negros caminhava totalmente ereta sem demonstrar qualquer tipo de emoção. A observo passar por mim e ir direto para a sala na qual ela teria aula, eu sei que ela sabia o que estava acontecendo, mas mesmo assim, ela andava como se nada a abalasse.

Juli, uma das líderes de torcida tirou uma foto da Amber enquanto ela se trocava no vestiário feminino e postou no Twitter com a seguinte legenda :

"Corpinho que já se deitou com a metade do time"

Ela tampou o rosto da Amber, mas todos sabiam quem era. Eu nunca falei com a Amber, não de verdade em uma conversa de duas pessoas normais, a única coisa que falamos foi um mini diálogo sobre eu ter uma caneta para emprestar pra ela.

Naquele mini diálogo eu pude perceber que ela não era o que falavam, a puta sem coração que dava para a escola toda, eu vi só uma menina, a menina que minha mãe vivia falando pra mim.

Minha mãe cuida do caso dela na justiça, como assistente social, minha mãe falou que depois que ela perdeu a família em um assistente de carro, ela simplesmente parou de falar e por isso nenhuma família a quis, sempre passava por varias famílias e era devolvida, depois de dois anos ela começou a falar e nunca era o que queriam ouvir.

Faz um ano que um casal de idosos aceitaram ficar com ela e foi a casa que ela mais durou, eu não poderia dizer que a entendo, porque não entendo, mas acho que posso dizer que compreendo.

—Você viu a foto da Amber cara?

Liam aparece do meu lado, com o celular na mão me mostrando a foto.

—Exclui isso, pode dar problema pra você.

Falo ignorando a foto.

— Porra, você é tão certinho que chega a ser irritante, você já comeu alguém na vida?

Ele diz guardando o celular, se escorando no armário de alguém ao lado do meu.

—Vai pra aula?

Pergunto ignorando a pergunta dele.

—Não.

Ele diz como se fosse normal, vir à escola e não entrar para assistir às aulas.

—Já imaginei, até mais tarde então.

Falo pegando meu matéria e recebo um aceno de cabeça como despedida, caminho até a sala que eu teria aula de geometria.

Falo pegando meu matéria e recebo um aceno de cabeça como despedida, caminho até a sala que eu teria aula de geometria

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A biblioteca se encontrava vazia, definitivamente o forte dos alunos dessa escola não é estudar. procuro um livro específico sobre geometria, que seria uma leitura obrigatória para toda a classe.

Suspiro enquanto procuro pelas estantes cheias de livros empoeirados, as vezes me pergunto por que me esforço tanto, já que minha família tem uma vida boa, mas me lembro, todos os dias que eu preciso provar a mim mesmo que eu sou bom o suficiente pra qualquer coisa que estiver em minha frente, como meu pai disse antes de morrer :

"Faça tudo com um bom coração e dedicação, não importa se pra catar lixo ou salvar a vida de alguém"

Eu levo essa frase por toda a minha vida, quando finalmente encontro o livro eu percebo gemidos misturados com soluços, tão baixos que eu preciso me concentrar para ouvir melhor, deixo o livre de lado e caminho tentando não fazer barulho, até duas estantes depois da que eu estava.

Quando eu já estava chegando um corpo pequeno e delicado trompa com o meu, tão leve que não foi capaz de me fazer mover, além dos meus braços para segurar a pessoa.

—Você está bem?

Quando meus olhos se encontram com o dela, percebo as lágrimas que escorriam pelas suas bochechas, passando pela sua boca como uma obra de arte.

—Apenas me solte.

Ela diz e eu tiro minhas mãos da cintura dela, as mesmas que a impediram de cair.

—Desculpe.

Falo desconfortável e ela apenas limpa as lágrimas que caiam sobre seu rosto branco.

—Você nunca me viu chorando em uma biblioteca, certo Kalel?

Ela diz com os olhos semifechado, se não fosse a situação constrangedora eu com certeza riria.

—Certo Amber.

Falo sério e ela apenas da um meio sorriso, passando por mim, mas a seguro pela mão, sentindo a necessidade de conforta-la.

—Eu sinto muito...por você sabe o que.

Falo e logo em seguida solto a mão dela, ela ficou estática enquanto me encarava de um jeito estranho.

—Por terem exposto uma foto íntima enquanto eu me trocava?

Ela diz direta e eu concordo em um movimento com a cabeça.

—Você tem alguma participação?

Ela diz.

—Não, claro que não.

Falo assustado pela "acusação"

—Então não sinta.

Ela diz e se vai, suspiro enquanto a observo ir embora, bom, segundo diálogo em menos de dois anos.

Balanço a cabeça negativamente e vou até onde o livro estava e o pego, indo em direção à saída da biblioteca, caminhando em passo lentos observando tudo em minha volta, uma mania estranha que eu aprecio em mim, nenhum momento bom ou ruim passam despercebidos por mim, mas só reflito nos bons no fim da noite, por que esses valem a pena serem lembrados.

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