Amber Katharine
Enquanto eu observo ele preparar algo para comermos, eu lembro de ontem, de como foi bom, de como ele fez eu me senti.
Desde que eu comecei a ter vida sexual, aos meus 15 anos, nunca me trataram como ele me tratou, raramente eu chegava no clímax e não se importavam em querer me fazer chegar, nunca foi com carinho, quando terminavam, simplesmente iam embora, nunca acordaram do meu lado no dia seguinte.
Mas ele, ele me respeitou, esperou meu tempo e até me perguntou se eu tinha certeza, nunca ninguém tinha me perguntado se eu tinha certeza que queria fazer isso, mas ele se importou, eu não sei como reagir diante disso e ontem eu senti que eu valia a pena enquanto ele beijava todo meu corpo, sem se importar com o que já ouviu de mim, ele não se importou com minha cicatriz e nem pelas minhas poucas curvas.
E enquanto eu estava debaixo dele, eu também não me importei, não me importei sobre o que um dia falaram de mim, sobre o que eu penso de mim, não me importei com minhas poucas curvas e muito menos com minha cicatriz, que marcará toda minha vida e sempre me lembrou de não ter mais minha família, mas ali, eu não pensei em nada disso.
—Está pensando em que?
Ele diz, colocando um prato com alguns panquecas na minha frente é um suco que não faço a menor ideia de qual seria o sabor, ele se senta ao meu lado, observando cada movimento meu.
—Nada demais, avisou a dona Leila e o senhor Leon que eu estava bem?
Pergunto pensando na bronca que eu provavelmente levaria, mas ele assentiu, me deixando aliviada.
—O que houve com seu pai?
Pergunto quando a imagem do porta retrato que ele tinha na casa dele, passou na minha mente.
—Foi uma parada cardíaca, acho que o trabalho roubou grande parte dele, muito estresse e...enfim foi uma época bem difícil, mais pra minha mãe do que pra mim.
Ele diz, parecendo está longe, como se estivesse lembrando de algo.
—Eu sinto muito por isso ter acontecido.
Falo colocando uma das mãos em cima da dele, na tentativa que de algum jeito eu pudesse o fazer se sentir melhor.
—Está tudo bem, não dói mais como antes e eu me sinto realizado por tudo que vivi com ele, apesar dos apesares, nós éramos inseparáveis.
Depois de eu ajudar ele a arrumar a bagunça que tínhamos feito na noite anterior, vimos um filme, agora ele escolheu de ação, que aliais, gostei muito.
—Onde nós vamos?
Eu pergunto, entrando no carro ao lado dele, que sorria descontraído.
—Pra sua casa, já é finalzinho de tarde e não esqueça que temos que pegar a meteria que perdemos hoje.
Ele diz, falando como se fosse um irresponsável, mas não precisa conhecer muito ele para perceber o quão responsável ele é, seja com ou ele ou com os outros.
—Vou deixar você em casa, vou no Liam e vou pegar a matéria de algumas aulas que vocês fazem juntos.
Ele diz e eu concordo, sem ter muito a dizer além de agradecer mentalmente, eu literalmente não tinha o contato de ninguém daquele colégio e nem quero, esse é meu último ano e não vejo a hora de isso tudo acabar.
—Soube algo daquela história do Liam? Ele realmente vai ser pai?
Pergunto enquanto ele começa a dirigir.
—Bom, agora ele incorporou no pai responsável, quer arrumar um emprego e correr atrás da faculdade, mas ele tem contatos, bastante contatos.
Ele diz e eu rio baixinho enquanto olho para a paisagem cinza, com certeza vai chover, as nuvens escuras denunciam isso, além dos flashes de luz que ocorria no céu.
O caminho foi silencioso, ninguém falava nada, mas estava bom, suspiro de maneira dramática assim que ele estaciona em frente minha casa.
—Quer que eu te busco amanhã?
Ele diz, se aproximando de mim e sem esperar me dá um beijo demorado, cheio de carinho e me fez querer mais e mais disso, eu quero me sentir assim mais vezes.
—Não precisa, gosto de andar.
Falo assim que nos separamos, quando nossos pulmões imploraram por ar, ele passa a língua pelos lábios, arrumando os cabelos que eu fiz questão de bagunçar.
—Vou ir mesmo assim, eu só perguntei na esperança de você dizer sim.
Ele diz e sorri, apoiando um dos braços no volante e apoiando o rosto em um dos punhos para me olhar.
—Obrigada por...você sabe, tudo.
Falo constrangida e saio do carro, ele apenas sorri e acena com a cabeça, me esperando entrar para poder ir embora.
Assim que entro em casa, minha única vontade é deitar na cama e relembrar de tudo.
Chamo o senhor Leon e a dona Leila, mas parece que eles não estão em casa, eles agora estão saindo bastante, acho que em uma conversa que eu ouvi por alto, estavam querendo reacender a chama.
Não faço a menor ideia do que significa, mas deve ser por isso que andam saindo tango, subo até meu quarto.
Assim que já estou devidamente confortável e aquecida na minha cama, ligo o celular, o qual não fiz questão de mexer desde ontem, quando fui para a festa.
Me surpreendo pela quantidade de mensagem que chegavam a cada momento, enviada por números desconhecidas.
Tentei abri uma por uma, todas enviavam fotos minhas, a que a Juli divulgou no Twitter, me xingavam de todos os nomes possíveis.
O que eu fiz pra elas? Quem são elas?
Não sei quantas palavras escritas "vadia" eu vi, ou "Vagabunda", "sem valor", "puta", pareciam incontáveis vezes entanto eu lia tudo.
Eu não sou essas coisas.
Pensei assim que lancei meu celular na parede, fazendo ele ser estilhaçado, passo as mãos pelo rosto, tentando me acalmar.
Não chora, não chora,não chora, você não é assim, você é isso.
Digo pra mim mesmo, mas já era tarde de mais, mais uma vez a vida me mostra o quão cruel ela é, a minutos atrás eu pensava que minha felicidade ia durar e em segundos tudo desmoronou e eu nem fiz nada pra merecer.
Pessoas cruéis como a Juli, sempre saem em pune, o quão a vida ainda seria injusta?
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Rasos
RandomSe soubessem o que eu sei, se a conhecem como eu a conheço, não seriam tão cruéis com algo tão singelo. Amber não ligava, se forçava a não sentir mais nada, Amber se quebrava a cada dia e eu, eu vou implorar para que ela não se afogue nisso, se afo...