Amber Katharine
Em um momento eu já não estava aguentando mais e em outro eu implorava que Kalel chegasse a tempo.
Em um momento eu quis desistir, por um momento eu deixei que o que falaram ecoasse em minha mente.
Eu não era o que falavam, mas me fizeram acreditar que sim.
—Está pronta?
O senhor Leon fala assim que chegamos a porta de casa, a encaro sem saber bem a resposta. Considero essa nova chegada como um recomeço.
Os quatro dias em hospital me fizeram pensar sobre certas coisas, tem um ferida enorme aberta em meu peito, pela falta da minha família na qual eu fui tanto apegada e eu não consigo superar, mas tenho certeza que se eles pudessem falar comigo, eles iriam brigar comigo, por fazer o que eu estava fazendo da minha vida após eles, até o estrupício do meu irmão.
Eu sinto muito pelo que os tutores passados me fizeram passar, o quão ruim me fizeram sentir, eu sinto muito pelos maltratos que sofri e pelas palavras que eu ouvi.
Eu sinto muito por eu ter deixado certas pessoas passarem as mãos em mim, sinto ainda mais daquelas que se deitaram comigo.
Peço desculpas a mim mesmo por ter permitido isso, ainda mais por ter sido uma busca desesperada por um afeto que nunca recebi, até Kalel aparecer.
Eu sinto muito pelas vezes que fiz a dona Leila chorar e o senhor Leon ficar preocupado, mas eu agradeço aos céus por não terem desistido de mim.
Sinto muito que por um tempo, olhei Kalel com más olhos, como se ele fosse só mais um, daqueles que um dia me usaram e descartaram.
Agradeço mais uma vez aos céus por mesmo ele vendo quem eu sou, ele sempre esteve aqui pra me salvar, mesmo quando nem eu achei que precisasse.
Agradeço a margarida que por quatro anos cuidou de mim, que sempre me ajudou a se livrar das más famílias, que sempre buscou o melhor pra mim.
E mais uma vez eu queria pedir desculpas a mim mesmo, por tantas vezes me maltratar com palavras e permitir que as pessoas me machucassem, ainda mais por eu mesma me machucar, em toda minha vida só me arrependo de duas coisas, uma é de não ter dito que eu amava meus pais pela última vez e a outra é por ter ferido a mim mesmo, quanto em palavras ou quando tomei aqueles comprimidos.
Mais uma chance foi me dada, mas dessa vez, eu a aproveitarei da melhor forma.
— Já Nasci pronta. -falo enquanto observo ele abrir a porta para que eu entre e assim que meus pés entraram dentro da casa, uma chuva de confetes me cercou juntamente com abraços calorosos.
—Pra quem são esses dois pratos?Pergunto assim que todos se acomodam na mesa, esses todos incluem dona Leila, senhor Leon, Margarida e Kalel, que estava ao meu lado com suas mãos repousadas em uma das minhas coxas.
—Eu convidei o Liam, caso você se incomodar eu posso desconvidar.
Ele fala e eu sorrio em direção a ele, enquanto balanço a cabeça negativamente, esse foi o tempo para que a campainha tocasse.
—Eu atendo.
Dona Leila diz antes de todo mundo e com passos apressados vai até a porta.
—Ele vai trazer ela.
Kelel fala perto do meu ouvido, olho para a porta, coberta em ansiedade para conhecê-la.
Kalel é o primeiro a se levantar quando eles entram, Liam apareceu com um sorriso típico no rosto com as mãos coladas com a dela, que parecia tão nervosa ao ponto de suas bochechas estarem avermelhadas.
Eu de fato nunca a vi, olho para a barriga dela, conseguindo ver o pequeno formato arredondado que ali tem.
Me levanto logo após Kalel e todos fazem o mesmo.
—É menino.
Liam é o primeiro a falar, com animação na voz e logo ganha um abraço do amigo.
—Essa aqui é a Mia, mãe do meu filho.
Ele diz fazendo um sinal de referência, fazendo todos rirem.
Mia tem 19 anos e começou a faculdade de direito esse ano, conheceu Liam em uma festa da fraternidade dela e saíram por alguns dias e então fizeram o filho deles.
—E além disso tudo, ele chorou que nem uma criança quando perde um doce, quando descobriu que é menino.
Ela diz rindo, fazendo todos rirem juntos, menos Liam, que bebia o suco com a cara emburrada.
—Eu gosto de você assim.
Kalel diz se inclinando para o meu lado, falando para que só eu pudesse ouvir.
—Gosto de você feliz.
Ele continua enquanto faz pequenos círculos com a ponta do dedo na minha coxa.
—E acho que estou apaixonado por você.
Ele fala perto do meu ouvido, fazendo meu coração errar algumas palpitações com suas palavras e então busco coragem para encara-lo, mesmo sabendo que se eu virasse o rosto, iríamos ficar muito próximos.
Ignoro o restante das pessoas que na mesa estavam e o encaro, observando cada detalhe que ele tinha, desde as suas pintinhas pequenas, até seus lábios carnudos, grata por tê-lo ali no meu lado.
—Então eu acho que posso dizer o mesmo, acho que estou apaixonada por você.
Falo baixo o suficiente para só ele escutar, perto o suficiente para sua respiração tão pesada quanto a minha se misturarem.
—Eca cara.
Somos afastados quando um punhado de macarrão voa na nossa direção.
—Isso tudo é inveja, Liam?
Kalel diz, agora sua atenção estava nos meus cabelos enquanto me ajudava a tirar os macarrões grudados.
Eu não poderia ser mais grata ao que tinha, como agora.
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Rasos
De TodoSe soubessem o que eu sei, se a conhecem como eu a conheço, não seriam tão cruéis com algo tão singelo. Amber não ligava, se forçava a não sentir mais nada, Amber se quebrava a cada dia e eu, eu vou implorar para que ela não se afogue nisso, se afo...