Vinte e sete

12.3K 1.4K 316
                                    


Kalel James

Faz uma semana, uma semana que tudo desandou, eu pensei que estávamos em paz, eu pensei que tudo se acertaria, que as coisas poderiam fluir, que nós poderíamos fluir.

Mas tudo foi mera ilusão minha, ela quebrou o outro telefone no qual eu tinha o número, mas ganhou outro e não quis me dar o número, não quis nem falar comigo.

Eu fui na casa dela uma três vezes e fui rejeitado, ela nem sequer falou comigo alguma vez, apenas um "isso nunca daria certo" então se virou e me deixou sozinho.

Raramente vejo ela pelos corredores, provavelmente deve passar o tempo na biblioteca, eu queria ir até lá e perguntar mais uma vez, quantas vezes fosse necessárias, eu estava aqui por ela, ela poderia contar comigo pra qualquer coisa ou talvez o problema fosse eu.

—Para de ficar olhando para a porta da biblioteca, como se ela fosse sair daí a qualquer momento e caso isso acontecesse ela provavelmente iria te ignorar, como fez das outras vezes.

Liam diz impaciente ao meu lado, mas não consigo tirar minha atenção de lá, eu queria poder olhar ela nos olhos, só assim eu teria certeza de que ela não me quer por perto, só preciso fazer isso mais uma vez e então eu a deixaria.

—Ela não sente a mesma coisa que você, ela deixou claro com aquele "isso nunca daria certo", segue em frente, cara, olha em volta, você pode ter quem você quiser.

Ele diz, mas balanço a cabeça negativamente, discordando de tudo o que ele falou.

—E que porra você sabe sobre sentir algo por alguém?

Falo de maneira ácida, mas me arrependo assim que vejo o semblante de decepção no rosto dele, ele balança a cabeça em um sinal negativo e vai embora, me deixando sozinho.

Passo as mãos no rosto e  descido ir pra aula, a aula foi mais lenta do que qualquer outra.

—Algo de errado, James?

Minha atenção vai para a professora, que chamou minha atenção.

—Apenas com uma dor de cabeça, professor.

Minto, sabendo que ela iria deixar eu sair da sala, acho que eu não aguentaria mais nenhum segundo aqui.

—Vá lá fora, beber uma água e tomar um ar, caso não melhorar, você está liberado.

Ela diz e eu agradeço, me levantando para sair da sala. Sem pensar muito eu caminho até a biblioteca, ansiando por encontrá-la.

Caminho entre os corredores e quando a vejo, eu simplesmente paro, ela pareceria tão alheia a tudo e a todos, sentada com o fone de ouvido e um livro na sua frente, penso em dar meia volta, mas continuo aqui parado a observando.

E por um segundo eu queria que as coisas estivessem como antes, quando eu não sabia muito dela, quando ela passava por mim e nem me olhava.

Suspiro e caminho com passos lentos até ela e mesmo assim ela me notou, por mais que eu quisesse recuar, eu não fiz isso, Continuei andado e sentei ao lado dela, sem me importar com o que ela achava ou se simplesmente iria levantar e me deixar sozinho.

—Eu estou com saudades.

Falo a única coisa que veio na minha mente, e eu realmente estava, não a olho, apenas fico olhando para ponto fixo no chão, com medo de ver algum tipo de negação da parte dela e entender que teria que deixá-la.

—Eu também.

Ela diz e  consigo ver ela me olhando pela visão periférica, finalmente a olho em busca de alguma resposta.

—Porque não podemos ficar juntos? O "isso não daria certo" não é um bom argumento.

Eu falo na esperança que as coisas melhorem, que ela finalmente mude de ideia.

—Isso nunca daria certo Kalel, olha pra mim e olha pra você, você é quase perfeito, eu sou...eu, eu levo destruição por onde passo, meus pais, meus tutores que me recusavam, o senhor Leon e a dona Leila, você, eu não sou boa pra ninguém e você sabe disso.

Ela diz com um semblante vazio, o qual não me permitia ver qualquer tipo de sentimento, tristeza ou raiva, como ela poderia pensar isso de si mesma?

—Você não é nada disso, você é boa pra mim, você é boa pra dona Leila e o senhor Leon, seus tutores eram uns babacas Amber, você é incrível Amber, você é incrível pra mim, isso não importa?

Falo, mas agora com uma das mãos acariciando uma das bochechas, ela me olha de maneira tão profunda que eu juro que se desse, eu me afogaria bem ali mesmo.

—A Juli me disse que Eu destruo....-antes que ela sequer pudesse continuar a falar, eu a interrompo. —Você não pode deixar essas pessoas vazias machucarem você, pelo amor de Deus Amber, o único problema dela é uma unha quebrada, a coisa mais profunda que ela tem em si mesma é...o egoísmo, você é incrível e ninguém tem o direito de dizer que você não é, ninguém que sequer conhece você tem o direito de falar algo contra você, eu conheço você e eu gostei de cada pedacinho que eu provei.

Falo, quase de maneira desesperada, tentando provar pra ela que ela é incrível, mas mesmo com as minhas minhas palavras, ela ainda parecia vazia.

—Por favor, não deixa essas pessoas acabarem com você, porra Amber, você é a coisa mais complexa e profunda que eu já conheci, algumas pessoas só não sabem nadar e acabam se afogando, por que hoje em dia, só vivem rodelas de pessoas que se fazem de vazias, mas eu sei nadar e eu mergulharia nas profundezas de tudo que você é, quantas vezes fosse necessário, mesmo que pra salvar você mesmo de si mesma.

Falo enquanto limpo algumas lágrimas que caiam sobre as bochechas lisas e rosadas dela.

—Você não entende Kalel...Eu preciso ir.

Ela diz e entes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela sai correndo.

Rasos Onde histórias criam vida. Descubra agora