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Índio

2001

- Correm! Todos!- o moço gritou e todos começam a correr.

Um gritaria toma conta do abrigo, e eu acabo me perdendo do papai.

Pedro: Pai?- grito, mais era impossível alguem me escutar, tinha muito barulho.

Um barulho maior surge, e eu fico com medo, pai?

- Vem garotinho, tá pegando fogo!- uma mulher me puxa para fora de casa.

Tem muita gente na rua, papai disse pra mim não sair, mais agora não posso entrar.

Tá tudo sendo queimado, o bombeiro chega e eu fico observando a sirene.

- Cadê seus pais?- a mulher me pergunta.

Pedro: Lá.- apontei pro fogo.

Vi o semblante de seu rosto mudar, eu era pequeno, mais sabia quando as pessoas sentiam dó de mim, e isso era o que elas sempre sentiam, e eu odiava.

- Vem, vou te levar pra um lugar seguro.- ela puxa minha mão, mais eu recuso.

Pedro: Tô esperando meu pai.- me sento na calçada.

- Seu pai não está lá.- ela se senta do meu lado.

Pedro: Ele tá no meu quarto, você pode ir, tenho que esperar ele, pai é muito enrolado.- sorrio no final.

- Seu pai morreu, não está mais aqui, virou uma estrela, foi morar com papai do céu.- falou com dó.

Pedro: Não tá não, ele disse que sempre ia ficar comigo, ele já tá vindo, e eu vou apresentar você pra ele.

- Qual seu nome?, Meu nome é Layane, mais pode me chamar de Lay.- sorri amigável.

Pedro: Pedro Henrique.

Lay: Pedro, vem comigo, vou te levar pra uma casa, lá tem outras crianças igual você, vai ser legal.

Pedro: Onde é?

Lay: Aqui perto, com o tempo famílias legais serão seus pais e mães.

Pedro: Já tenho pai.

Lay: Vem Pedro.

Pego na mão dela e me levanto, viro pra trás e vejo o fogo, ele já tinha queimado tudo que era possível.

Nós fomos andando até essa casa, é onde eu vou morar agora.

Meus pés estão doendo, o caminho é longo e não tenho sandálias.

Chegamos, era um lugar grande, e tinha muitas crianças, mais não cheirava bem.

- Oi Índio.- um menino catarrento fala comigo.

Pedro: Meu nome não é Índio, é Pedro!

- Você parece muito um Índio.

Pedro: Mais não sou um Indio.

- Cadê seu papai Índio?

Pedro: Ele virou uma estrela.

- Serio? Eu quero ser uma também.- se empolga.

Pedro: Não quer, meu pai me deixou...

- E sua mamãe?

Pedro: Meu pai disse que ela morreu quando me deu a luz.

- Cadê sua luz?- fala me olhando.

Pedro: Devo ter perdido.- coço a cabeça.

- Meu nome é Trick.

Pedro: Trick?- falo com tom de riso.

- É Patrick, mais me chamam de Trick.

Pedro: Estranho.

Trick: Estranho é você com sua cara de Índio.

Lay: Pedro, agora eu tenho que ir, essas tias vão cuidar de você até uma mamãe de adotar.

Trick: Eu vou ser adotado primeiro!- levanta a mão e eu do risada

Lay me deu um beijo na bochecha e saiu.

Eu e o Trick ficamos brincando a tarde, ele disse que os pais deles são doido, e ficavam fumando muito, aí uma mulher trouxe ele pra cá.

6 ano depois...

Jaqueline: Seu muleque infeliz!- puxou mais forte meu cabelo e me jogou contra a parede.

Velha desgraçada.

Pedro: Engraçado que quando você foi me adotar no abrigo eu não era um muleque infeliz, e sim de ouro.- falo me levantando.

Passo a mão na cabeça, vejo que estou sangrando.

Jaqueline: Você é um inútil! Por isso que foi abandonado naquele orfanato de merda!- jogou um copo em mim, me virei, e o copo estorou nas minhas costas.

Pedro: Não fui abandonado! E a senhora sabe disso!

Erick: Que porra tá acontecendo aqui?!- o namorado dela chega.

Jaqueline: Ele me bateu.- mente.

Erick: o que você fez?- caminha lentamente até a mim.

Pedro: Eu não fiz nada!- me encolho no chão, já preparado pra apanhar dele.- me deixa em paz, por favor!

Ele me da um chute no estômago, e eu cuspo sangue.

Jaqueline: Deixa ele Erick, amanhã a gente resolve isso.- puxa ele.

Pedro: Me mata logo!

Erick: Ainda não...- me ameaça.

Pedro: Vai pro porão.- grita comigo.

Vou de cabeça baixo, e olho para parede, as facas e armas que eles tinham, isso tudo, só para me torturar.

•••

Ele passa o facão nas minhas costas e sinto um arde enorme, continuo gritando pedindo socorro.

Erick: Cala a boca!- Cortou mais profundo.

Pedro: Me mata! Por favor.

Não aguentava mais isso, não aguentava mais essa dor, ninguém se importa comigo, eu quero morrer!

Erick: Só mais um pouco.- continua me cortando.

Jaqueline: Vem comer Erick.- chama ele, ela olha pra mim e sorri.- Tá bom aí Pedro?

Pedro: Vai se fuder!

Ele sai pra jantar e eu fico chorando de dor.

Eu precisava fugir, não podia mais sobreviver a isso.

Balanço a cadeira até cair no chão, era de madeira, quebrou facilmente.

Tirei as cordas do meu braço, passei na frente do espelho, estava todo ensanguentado, mais mesmo assim, pude ver o estado das minhas costas.

Ouvi ele abrir a porta, corri e peguei uma arma, apontando pro mesmo

Erick: Não faz isso Pedro!

Pedro: Vai queimar no inferno seu babão!- dei um chute no seu estômago.

A Jaqueline concerteza já se escondeu, não iria atrás dela, só queria sair dali.

Depois de muito tempo consegui destrancar a porta, e corri, corri o mais longe que pude.

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