Índio
Fiz meio que uma reunião aqui no morro, onde tudo aconteceu.
As pessoas vão fazer algumas orações pelas almas e vão deixar na parede algo para marcar aquela noite.
- Como tu deixou isso acontecer?- se joga em mim chorando.
- A culpa não é dele mãe...- uma criança tenta puxa-la pra cima.
- Você não deu conta de uma invasão? Mais de 200 pessoas morreram, é culpa sua!- grita.
Índio: Eu também sofri risco de vida, eu também perdi amigos, e não é por isso que tô saindo por aí, dizendo quem tem e quem não tem culpa, postura.- falo sério.
- Vem, vamos mãe.- a criança puxa de novo a mulher, que sai me encarando.
Jade: É tão triste...- se aproxima.
Índio: Vai me culpar também?
Jade: Dessa vez você não tem culpa, e também, acho que ninguém deve sair culpando ninguém.- fala triste.
O morro inteiro tá contra mim, cada segundo um vem me xingar, falar que eu tenho culpa, mais não vou deixar levar.
Eu sei que não tenho culpa, e não preciso provar isso pra ninguém!
Índio: Você veio fazer memorial de alguem?
Jade: Vim com a Japa, irmão dela morreu.- olhei pra ela.
Índio: Sinto pra caralho.- voltei a olhar pra frente.
Jade: Eu sei que sente.- sorriu de lado.- Só vim falar pra não dá ouvidos ao que estão dizendo, estão todos de cabeça quente, vão falar o que pensar.
Índio: Passei minha vida inteira ouvindo julgamentos e não morri, não vai ser dessa vez.- sorri pra ela.
Jade: É aquele ditado né, vaso ruim não quebra.- fala com ironia.- Vou ir lá com a Japa.
Indio: Fé.- falei e ela saiu.
Eu vou amanhã no hospital ver o estado do Cobra, não posso tá colando muito lá não, polícia tá na bota.
Esperei tudo isso acabar e fui pra casa, eu tava morto, ontem não dormi.
Ester: Eu sinto muito.- fala e vejo seus olhos vermelhos.- Entrei na sua casa, queria te ver.
Índio: Não quero ver ninguém agora.- falei com a cara fechada.- Pode ir embora?
Ester: Eu sei que você tá precisando de um ombro amigo, se quiser, tô aqui.
Índio: Não preciso disso, agora sai daqui!
Ester: É uma fase difícil, mais...- tenta me tocar.
Índio: Sai daqui!- segurei firme o braço dela.- Você só veio por interesse, não tá aqui pra ajudar ninguém! Só quer fuder comigo e ganhar uma grana!
Ester: É isso que você pensa de mim?- falou triste
Índio: Não vou falar pra você sair de novo.- soltei o braço dela e encarei feio.
Ela secou algumas lágrimas e me olhou.
Se forçar mais caga
Abri a porta e ela saiu.
Subi e tomei um banho, deitei na cama e fiquei me revirando até pegar no sono.
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Índio
Teen FictionMesmo quando tudo parece perdido resta sempre um pouco de coragem para dar a volta por cima.