Japa
Acordo com o barulho da chuva que vinha lá de fora.
Jade dormiu comigo, levantei devagar para não acordar ela.
Me olho no espelho e vejo meus olhos enchados, resultado da noite de ontem...
Estava com uma dor de cabeça do caralho, desci e tomei dois comprimidos.
Jéssica: Cadê o Igor?- entra afobada com meu pai carregando algumas malas.
Encarei os dois, não tinha força para gritar, perguntar onde estavam esse tempo todo.
Não tinha mais forças para chorar.
Leandro: Cadê meu filho?!
Japa: Enterro vai ser às 10:00.- falo indo em direção a escada.
Leandro: O que aconteceu?!- agarra meu braço e grita comigo.
Japa: Se você estivesse aqui saberia.- puxei meu braço.- licença, agora vou me arrumar pra ir ao funeral.
Jéssica: Não...- se lamenta chorando no sofá.
Subi e fechei a porta com força, fechei os olhos tentando conter as lágrimas que insistiam em cair.
Mais acabei não aguentando, chorava lembrando dele, sorrindo, brincando...
Ele sempre foi um menino sorridente, não era brigão, sempre via o lado bom das coisas.
Ele acreditava muito nesses negócios de "mensageiros", uma religião que ele inventou.
Ele diz que existe sim, mais ninguém vê.
Taokei, sempre ria com as histórias dele.
Jade: Vai ser difícil, mais vou te ajudar, é só uma fase...- sorriu e me abraçou.
Eu chorava de soluçar no seu colo, eu sinto tanto...
Tomo um banho quente e saio com a toalha no corpo.
Visto uma calça jeans e um moletom, hoje, pela primeira vez, rio de janeiro está frio.
Me sento e fico esperando a Jade vir.
Jade: Que gatinha, faz miau faz...- tenta me animar.
Japa: Vamos.- sorri negando com a cabeça.
Meus pais não estavam mais lá embaixo, só tinha algumas malas.
Fomos até a barreira e de lá pedimos um Uber.
Estavam todos os corpos de ontem, um caixão ao lado do outro.
Uns 20 corpos foram encaminhado para cá, os outros foram distribuídos em outras funerárias
Os corpos estavam em "exposição", os caixão, coroas tudo, foram doado.
O Brasil inteiro não para de falar de ontem, o que me faz lembrar e chorar toda vez que ligo a televisão.
Vou no caixão e vejo pela última vez o rosto do meu pequeno, estava gelado, e com bastante maquiagem..
Mais mesmo assim, lembrava bastante ele.
Deixei escapar algumas lágrimas, ele vai estar em um lugar melhor agora.
Jade me abraça de lado e chora coladinha comigo.
Jéssica: É culpa dela!- grita no meio de todo mundo.
Jade: O que você tá fazendo?
Jéssica: Meu filho está morto, e tudo é culpa dela!- aponta pra mim, me fazendo chorar aínda mais.
Jade: Culpa dela?!- aumenta o tom.- tu ainda tem coragem de dizer que se importa com o Igor? Tu abandonou ele pra ficar viajando com teu marido, nunca deu a mínima pro garoto!
Leandro: Não fala o que não sabe garota.
Jade: Eu não sei de tudo, mais pelo que sei, conclui que vocês não dão a mínima pra isso, é tudo mídia, vocês só querem aparecer!
Jéssica: Não fala isso!- bate no caixão.
Japa: Para!- grito chorando.- parem com isso, respeitem esse momento!
Leandro: Sai daqui, não vou dividir meu teto com uma assassina!- fala e todos me olham.
Jade ia falar alguma coisa, mais não deixei.
Sequei minhas lagrimas e fui pro lado de fora.
Jade: Você não deveria ter saído, é teu irmão Japa, praticamente um filho pra você!
Japa: Ficar em um local com todo mundo me olhando torto? Eles ganharam a atenção que queriam, eles passaram do limite.
Ficamos nos encarando, eu tava tão mal, nunca tinha vindo em um enterro antes.
Só quem, infelizmente, teve que ir em um cemitério, sabe o peso que tu carrega.
Ficamos esperando o funeral acabar e depois acompanhei o enterro, minha mãe não deu nem sinal.
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Índio
Teen FictionMesmo quando tudo parece perdido resta sempre um pouco de coragem para dar a volta por cima.