Neve, Neve, Neve.
É a única coisa que se vê durante metade do ano aqui em Raventown, Maine. Os outros 6 meses...bem...são frios. Já são quase 15h. A neve aumenta lá fora. Depois das três da tarde, tenho de correr até a Ravenburguer, a mais "badalada" lanchonete de Raventown. Eu trabalho meio expediente lá, para dar uma ajuda nas despesas de casa, e cá entre nós, não me arriscaria a comer daquela carne de hambúrguer, ela é no mínimo questionável....
- Sr. Whitewood - fala a professora - que maravilhas da história você está aprendendo do outro lado da janela? Gostaria que contasse para mim e a turma.
Ela é um mulher de meia idade enorme, com o cabelo cortado em forma de coco, usa óculos e é louca por roupas de lã coloridas.
- Desculpe senhorita Flora...
- Mas um de seus devaneios durante a aula e você irá direto devanear na sala de detenção...
Meus colegas de turma começam a rir e o sinal toca. Finalmente.
- Se continuar assim, no mundo da lua, você vai voar direto para recuperação! - fala minha amiga Dana.
- Eu só quero voar direto pra Ravenburguer e depois direto para minha cama.
Ela faz uma cara de nojo.
- Aquela carne, aquele lugar, argh! Um antro de assassinos de animais!
- É só carne, Dana.
- Por isso mesmo! Carne de animal!
- Há quantos anos nos conhecemos?
- Uns três anos, acho.
- Há quanto tempo você não tá comendo carne?
- Duas semanas...É, eu sei, pouco tempo...mas eu já tenho consciência da crueldade do mundo.
- Nesses três anos você nunca levou essas dietas e veganismo pra frente.
- Dessa vez é diferente! - fala ela balançando a cabeça, a longa trança negra se movendo como um serpente.
Quando saímos da escola, o vento frio parece penetrar a alma.
- Será a semana inteira assim - fala Dana - frio, neve e mais frio e neve.
- E quando não neva ou faz frio em Raventown?
Ela sorri, os olhos verdes brilhando.
- Tchau amorzinho - ela fala se afastando - mais tarde te ligo - ela grita por sobre o ombro.
Fecho o agasalho e começo a caminhar.
Raventown não é um lugar grande. É uma cidade costeira, cercada por florestas e pelo mar. Na verdade Raventown não é nem ligada a algum município do Maine. A parte Norte da cidade é banhada pelo lago Gipse, que se abre mais a frente para o mar. Ao Sul são as florestas. Leste e Oeste são as saídas para a capital Augusta e outras cidades. E no centro, está nossa bela e amada Raventown, com pouco mais de 2.000 habitantes (contando com os moradores das fazendas à Oeste).
Raventown não é um lugar grande e é por isso eu quero sair daqui.
Chego na Ravenburguer às 15:35h.
- Se atrasou hoje - fala Patty, a garota que trabalha no meu turno - o Ed vai ficar uma fera! Já é a terceira vez essa semana.
- Me resolvo com ele depois - falo correndo para o pequeno "vestiário" nos fundos, que consiste em dois armários, uma bancada com um espelho na parede e um banheiro apertado de funcionários.
Tiro meu agasalho e minha camisa. Visto a camisa amarela e violeta da Ravenburguer e me preparo para o trabalho. Vou no espelho me dar uma arrumada antes.
Minha pele branca está bem mais pálida que o normal, o que contrasta bastante com meu cabelo ruivo que parece em chamas.
- É, vamos para mais um dia - falo suspirando e pegando o avental em cima da bancada.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...