Estou na sacada do apartamento. Carros e pessoas vão e vem na rua abaixo. Ao longe o mar bate no cais e a lua ilumina fracamente tudo. Portland é um pouco parecida com Raventown, é bem maior, mas bem parecida. Uma cidade costeira, banhada pelo mar.
- Filho? - minha mãe diz - você tá preparado mesmo para amanhã?
- Tenho de estar.
Amanhã visitaremos o papai na prisão. É uma despedida. Minha mãe conversou com meus avós na França e eles ficaram mais que felizes em nos receber. Minha mãe vai trabalhar com eles, como pesquisadora...um sonho que sempre teve.
Ela me contou hoje que vai pedir demissão e vamos nos mudar para França. Eu aceitei sem pestanejar. Não há mais nada que me prenda nos Estados Unidos.
No fim do mês estamos indo embora. Só pedi a ela, para ir a Raventown mais uma vez, na semana que vem, para o Festival da Neve.
Ela beija meu rosto.
- Boa noite meu amor.
- Boa noite, mãe - murmuro para a noite.
•
No dia seguinte vamos a penitenciária. Minha mãe entra primeiro com meus irmãos. Não foi fácil conseguir permissão para que eles entrassem. Uma hora depois os dois saem da sala com os rostinhos molhados de lágrimas.
Abraço os dois.
- O papai vai ficar bem? - pergunta Lilian.
- Ele vai poder ver a gente na casa da vovó? - continua Michael.
Olho para os dois.
- O papai fez algumas coisas erradas. Aqui ele vai pagar por essas coisas e ficar bonzinho de novo.
- Promete William? - Lilian fala.
- Prometo Lily.
Prometer isso me parte o coração. O papai fez tudo dizendo que era pela nossa família, mas ele não pensou uma vez sequer na família realmente.
Mamãe sai da sala com os olhos enxutos e duros.
- Quer fazer isso mesmo? - ela pergunta.
- Preciso fazer isso.
Entro na sala que está fria. Meu pai parece mais velho, depois de todo esse tempo na prisão. Ele está sentado atrás de uma mesa de metal.
- Imaginei que você seria a última pessoa a aparecer aqui - ele fala com voz rouca.
- Eu não podia deixar passar a oportunidade de ver você assim.
Ele sorri e levanta as mãos.
- A justiça pode tardar, mas não falha...estou pagando pelos crimes que cometi.
- Que bom que você sabe isso.
Ele me olha.
- Você vai junto com sua mãe? Para França?
- Não tenho nada que me prenda aqui nesse país.
Ele fica em silêncio.
- Se eu pudesse fazer diferente não teria mandado você embora...esse tempo encarcerado, me fez pensar e perceber que estava errado.
Ele me desarma e uma lágrima escorre pelo meu rosto.
- Sério? - falo baixo.
Ele ri.
- Não, não, eu só estava brincando com você. Você sempre foi uma pedra no meu sapato William...Sempre foi o problema.
- Você não pode estar falando sério.
- Sempre com essa rebeldia, com esse jeitinho fresco e amável. Não criei filho meu para ser um frutinha...tenho dois filhos na verdade. Gêmeos.
A fúria invade meu corpo.
- E você continua um filho da puta nojento.
Ele sorri com desdém.
- O que é? O que veio fazer aqui? - ele pergunta - eu te falei que nunca mais queria te ver.
- Achei que esse tempo preso te faria mudar.
Ele se recosta na cadeira.
- Achou errado.
Me preparo para deixar a sala.
- Mais uma coisa - digo - eu espero que você apodreça aqui!
E saio sem olhar para trás.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...