William para o carro na frente da fachada desbotada da lanchonete.
- Você está bem mesmo? - ele pergunta.
- Sim, obrigado.
Quando me preparo para sair ele toca meu braço.
- Espera...
Ele pega uma camisa no banco de trás e toca em minha testa. A dor reverbera pela minha cabeça.
- Ainda tá sangrando um pouco...tem certeza que não quer ir ao médico fazer um curativo? Você pode ter tido uma concussão.
- Não precisa! Eu estou bem - olho para a camisa - Você estuda ma RHS?
- Sim, último ano...você é de lá?
- Segundo ano. Nunca vi você pelos corredores.
- Isso seria quase impossível já que sou um dos poucos negros na escola - os olhos verdes dele brilham - prontinho - ele sorri e quase caio para trás.
- Hã...obrigado Will - estendo a mão.
- Por nada - ele aperta a minha mão -nos vemos por aí.
Quando saio do carro, dou uma leve acenada e entro na lanchonete.
•
Patty está parada atrás do balcão, a lanchonete ainda está fechada. Ela me olha e fala "desculpa" com os lábios sem emitir som.
- Porquê ainda não abrimos? Já são... - minha voz está trêmula, pois imagino o que esteja acontecendo - três e quarenta e cinco - minha voz morre.
Edgar Hayes, o dono da Ravenburguer, não está aqui.
- Cadê o Ed? - pergunto e Patty aponta para saleta que ele usa como escritório.
- Tá esperando você lá.
Respiro fundo e faço uma breve oração.
Edgar é um homem grande, com os braços cobertos de pêlos e o cabelo ralo, grisalho. Ele aponta a cadeira que fica de frente para sua mesa.
- Whitewood...pela quarta vez, só essa semana você atrasou de novo.
- Senhor Hayes, eu sofri um acidente - aponto para o machucado na cabeça.
- E os outros dias? Quais foram os acidentes? Eu contratei você para trabalhar David! Não para chegar atrasado sempre.
- Senhor...você tem que entender que eu estudo...
- Só trabalha meio período e ainda faz questão de se atrasar....
- Estou passando por momentos difíceis...
- Desculpe David, mas não preciso mais de seus serviços. Vou procurar alguém que possa trabalhar o dia todo.
- Mas senhor...
Ele pega um envelope e coloca a minha frente.
- Aqui tem o valor de 3 meses de salário...um agrado pelo tempo que você ficou aqui. Você trabalha até hoje, certo?
- Obrigado! - falo quase sem voz e me retiro.
•
- Demitido? - minha mãe fala com voz rouca.
Estou sentado na pequena mesa da cozinha.
- Por chegar atrasado sempre...e ele procura alguém para o dia todo. Mãe o que vamos fazer?
- Terei de botar o orgulho de lado e pedir a ajuda do Daniel.
- Não! Não e não! O papai nem quer saber da gente.
- Vocês tem direitos e eu nunca pedia a ajuda dele pra nada.
- Você nunca precisou!
- Mas agora preciso amor. Ou então teremos de deixar Raventown - um calor cobre meu coração.
- O quê? Sério? E pra onde iríamos? Los Angeles? Nova York? Até Portland serve.
- Você sabe o custo de vida nessas cidades? Não! Falei com o papai e a mamãe...Sua tia Verbena casou a pouco tempo e desocupou o quarto na casa deles, podemos ficar lá.
- Mãe...mas o vovô e a vovó moram na Escócia!
- Então, talvez a gente tenha de se mudar para lá.
Meu coração esfria de novo. Sairei de uma "prisão", só para ir para outra, e bem pior, pois não conheço nada lá. Só fomos visitar nossos avós umas duas vezes. Minha mãe é escocesa (por isso os cabelos ruivos), há uns 20 anos veio para os Estados Unidos fazer intercâmbio, conheceu meu pai e se casou pouco tempo depois.
- Mãe...não conhecemos ninguém lá! Não sabemos nem se teremos como nos manter!
- Meus pais vão nos ajudar...
Minha mãe se levanta e beija o alto da minha cabeça. Eu preciso de ajuda, precisamos. Mas me vejo de mãos atadas. Não só as mãos, mas o corpo todo, preso a correntes que me puxam para o fundo de um mar escuro e frio.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...