Capítulo 14

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No dia seguinte estou no quarto junto com o Will. Ele fala e fala, mas minha cabeça está em outro lugar. Lá fora a tarde está clara e calorosa.

- Ei! - ele joga o travesseiro em mim.

- Ah...desculpa.

- Você passou o dia inteiro assim...meio desconectado com o mundo...o que foi?

- Nada não...só estou pensando.

Ele levanta e me puxa da cadeira. Segura meus ombros e me olha nos olhos.

- Você pensa demais - sussurra.

Aquilo me deixa desconcertado.

- Ah...eu...

- Tive uma ideia! Vamos lanchar alguma coisa, fora.

- Eu não...

- Não aceito não como resposta...vamos!

Nem tento discutir. Visto um suéter e vamos. Ele nos leva para a feira que fica em um cais. Pessoas caminham animadamente por aqui e por ali. Comidas nas mãos, conversando ou com sacolas de compras.

- Espera aqui. Te trago já o melhor cachorro-quente de toda Costa Leste.

- Isso eu quero ver.

Não tenho costume de comer fora, muito menos de vir a essa feira livre todas as terças. O Will tá me ensinando a viver.

Vou até a cerca de proteção do cais. Lá embaixo o lago é como um espelho. Vejo meu reflexo. Óculos, sardas, cabelo ruivo. Será que alguém um dia já sentiu atração por mim?

Um rosto aparece ao meu lado.

- Oi? - ele fala me olhando pelo reflexo.

Não consigo evitar e sorrio.

- Oi!

- Como você está? - pergunta Rafael.

- Muitíssimo bem.

- Isso é muito bom.

Alguém joga algo na água, destruindo os reflexos.

- Oi David - Rafael olha para mim - o que te trás aqui? - ele tenta segurar o sorriso.

- Nossa, essa é velha...estou só dando um passeio.

- Com a namorada? - ele pergunta inquisidor.

- Você sabe muito bem a resposta.

Ele parece envergonhado.

- Ontem fiquei me perguntando o por quê de eu não ter pego seu número...claro, pra poder te ligar e você me mostrar as maravilhas da cidade.

- A única maravilha da cidade está a minha frente - falo entrando no seu jogo.

Meu Deus! Estou flertando com um garoto.

- Nossa, me sinto até importante.

- Oi? - fala o Will com dois cachorros-quentes na mão.

- Uau! Que cara grande - fala Rafael, mas Will não ri.

- Will, esse aqui é o Rafael...um amigo.

- Hmmm. Vamos David?

- Nossa! - fala Rafael - acho que atrapalhei total o encontro.

- Encontro de quê hein? - fala Will entre dentes.

Rafael levanta as mãos.

- Não Will...deixa pra lá, Rafael foi um prazer ver você de novo...

- O prazer foi meu - ele sorri, mas vejo mágoa em seus olhos.

Depois que ele se vai me sinto horrível.

- Vamos no parque? Gosto muito de lá, eu e a Sue...

- Eu e a Sue, eu e o time, eu, eu e eu! O mundo não se resume a você William! - grito - Você chega na minha casa, quase toda tarde e fala, fala e fala, sobre sua vidinha de popular e de com é ruim estar fora do time. Eu cansei sabia! Eu também tenho uma vida.

- Eu...

- Não! Chega de "eu".

Ele me olha sem piscar. Os cachorros-quentes na mão.

- Olha, eu vou pra casa - falo respirando.

Quando começo a caminhar olho para trás, ele ainda está ali parado, me olhando. No meio do caminho me lembro que não dei meu número para o Rafael.

Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora