Termino minha lição enquanto o Will folheia um livro, deitado na minha cama.
- Esse negócio de ler é legal...você consegue imaginar tudo.
- Não acredito que você nunca tinha lido antes.
- Eu não.
Ele deixa o livro de lado e me fita. Empurro o óculos para cima.
- Acho muito engraçado quando você coloca os óculos para cima, um engraçado fofo...isso não é estranho um cara falando para outro? Parece tão gay.
Meu coração acelera. Não seja homofóbico. Não seja homofóbico.
- Mas o que importa não é? Ser taxado de gay não é um xingamento nem ofensa...o que você acha sobre isso David?
- Eu acho que temos que prestar mais atenção nas nossas lições.
Ele continua a me olhar.
- Por que o Kevin não gosta de você? O que você fez pra ele?
- Eu não fiz nada! Tudo bem? Nada! Ele só me persegue porque é uma pessoa ruim! - grito.
Ele fica quieto.
- Acho que tá na minha hora - ele se levanta e me coloco a sua frente.
Coloco minha mão em seu peito, sinto seu coração bater. Nós fixamos o olhar um no outro.
- Não vá - falo baixo - tirando a Dana, você é o único outro amigo que tenho...
- Quem disse que somos amigos?
Aquilo me afasta dele.
- Tô brincando.
Ele segura minha mão e me puxa para um abraço. Seus braços fortes em torno de mim. O cheiro de suor misturado com seu perfume.
- Eu gosto de você sabia? Gosto muito.
- Mesmo? - falo contra seu peito.
- Mesmo.
Olho para ele. Meus olhos descem para seus lábios. Ele se afasta discretamente, sentando na cama.
- Por quê você não tem namorada David?
- Quero focar nos meus estudos...
- A Sue me faz focar em tudo...menos em estudos - ele pisca para mim.
Minha mãe bate a porta.
- Garotos? O jantar está pronto.
- Agora é sério David...preciso ir, ou minha mãe me mata.
- Podemos ligar para ela - fala minha mãe.
- Não precisa, mesmo, dona Evangeline.
- Fica vai - falo - janta com a gente.
- Vou ligar pra ela...
Mamãe arruma a mesa. Pela porta aberta da cozinha, vejo Will em uma conversa acalorada.
- Quem são os pais dele? - pergunta minha mãe baixo.
- Não sei...ele faz mistério quanto a isso.
Will entra em casa.
- Tá frio lá fora...bem, ela deixou.
No jantar, Will conta algumas piadas, fazendo a gente rir.
- Sua comida está maravilhosa Dona Evangeline.
- Não precisa dessa formalidade toda, me chame só de Evie.
Depois do jantar, deixo os três conversando e vou para porta de casa. Sento no primeiro degrau da varanda. Nas outras janelas famílias reunidas, felizes, sorrindo.
- Posso sentar? - Will pergunta.
- Claro.
- Raventown pode ser uma cidade antiquada...mas é um lugarzinho bom de se morar.
- Você acha?
- Sim! Muito melhor que a quente Los Angeles ou a barulhenta Nova York ou a iluminada Paris...
- Uau...você já esteve nesses lugares?
Ele parece envergonhado.
- Não...mas é o que parece. Vai no baile de inverno?
- Não tenho par...
- Posso pedir para Sue convidar alguma de suas amigas.
- Não...tudo bem, eu não gosto muito dessas coisas.
- Hummm, então eu vou indo. Até semana que vem.
- Até...
- Sabe David, se você fosse uma garota, você ia comigo - ele sorri - Tchau.
- Tchau.
Então ele se vai. Junto com minha esperança de um dia encontrar o amor.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...