Saio do vestiário me sentindo vazio.
- David? - fala alguém ao meu lado - David? Oi? Ei?
Pra mim é como se as coisas flutuassem e eu estivesse debaixo da água. Minha visão está desfocada.
- Ei? - tento focar a visão. É o Rafael - tudo bem? Você está meio, sei lá...
- Sim...eu...acho...é...preciso ir.
- Mas as aulas ainda não terminaram. Você andou chorando? - ele tenta tocar em meu rosto, mas dou um tapa em sua mão. De olhos arregalados, não entendo o que acabei de fazer.
- Rafael...eu...desculpa...
Saio correndo pelo corredor até chegar no pátio da escola. Olho para os lado e encontro o parquinho. Corro até a casa da árvore que tem lá, subo e abraço meus joelhos.
Alguém bate no piso de madeira, como se fosse uma porta. Os olhos azuis do Rafael me encaram.
- Por favor...me deixa fica com você? - ele pede.
Sorrio e estendo a mão. Ele segura e me abraça forte, não consigo me segurar e começo a chorar, ali nos braços dele.
- Shhh, estou aqui com você...se não quiser contar o que aconteceu, eu entendo, mas estou aqui se precisar conversar.
Então conto tudo. A perseguição que sofro do Kevin e o que ele fez hoje. Sua...fixação sexual perversa em mim.
- Eu quero matar ele - fala Rafael entre dentes - isso não vai ficar assim...
Ele me faz, olha-lo. Passa os dedos em meus olhos, limpando minhas lágrimas.
- Ele não vai mais te fazer nenhum mal viu? Estou aqui, pra proteger você! - ele faz uma cara séria e não consigo evitar rir.
- Você é um bobo Rafael.
Ele toca seus lábios nos meus.
- Gosto de você - sussurra.
- Também gosto de você - falo me aconchegando em seus braços.
•
Ficamos ali, até bem depois de terminar a aula. Eu deveria ter avisado a Dana. Depois ligo para ela.
- Acho que já é hora de ir, não? - falo.
- Quer que eu vá com você?
- Não precisa, já tomei muito de seu tempo.
- Você não tomou meu tempo David. Você não sabe o quanto eu gosto de ficar perto de você. Só vou ligar para minhas mães.
Fico olhando pela janela da casinha de madeira. Uma chuva fina começa a cair.
- Elas deixaram...com uma condição.
- Qual?
- Que você vá jantar algum dia lá em casa!
- Convite aceito - falo rindo.
Ele se levanta e me ajuda a levantar depois.
- Eu não tenho carro...- ele começa a falar.
- O que importa? Vamos caminhar! É mais saudável.
- Mas tá chovendo.
Corremos debaixo da chuva até a fachada da escola. Um carro para a nossa frente. É o carro do Will.
- Oi? - ele grita - querem carona?
- Não precisa - falo.
- Vamos andando - diz Rafael.
- Oras! Parem de bobagem, está chovendo! Andem. Não me façam sair do carro.
Olho para o Rafael, que dá de ombros. Seguro a mão do Rafael e o puxo. Aceito a carona. Rafael senta no banco de trás e sento no banco do carona.
- A escola fechou há quase 1h...o que ainda faziam aqui?
- Não vimos o tempo passar - responde o Rafael.
- E você? - pergunto.
- Estava conversando com o Sr. Watson...e foi até bom eu ter visto você David...olha, perdão...por aquilo tudo...eu fui um idiota.
- Eu não fui dos melhores também - respondo. Rafael nos olha em silêncio.
- Eu ainda preciso da sua ajuda - ele me olha, os olhos verdes como duas esmeraldas brilhantes.
- Tudo bem...amanhã continuamos.
- Valeu. E desculpa ai...Daniel, né?
- Não...me chamo Rafael. Desculpas aceitas Wilson.
William finge não notar a alfinetada. Quando ele para na frente da minha casa, a chuva está mais forte.
- Obrigado William.
Ele murcha.
- Até amanhã David - diz baixo.
- Até amanhã.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...