Estamos todos sentados a mesa. Uma chuva forte bate na janela e raios riscam o céu.
- Uma baita de uma tempestade em plena ação de graças - comenta minha mãe.
Um grande peru está na mesa. Pure, batatas assadas, saladas, carne de porco...muita comida, sem necessidade para quatro pessoas.
- Vamos agradecer? - fala minha mãe e todos damos às mãos e fazemos as preces em silêncio - agora vamos dizer por que somo gratos. Eu sou grata por essa casa e minha família unida.
- Eu sou grata pelas aulas de música clássica - fala Lilian.
- Eu sou grato pelos livros - diz Michael.
- Eu sou grato pela sorte que tenho e por minha empresa e pelo cargo de prefeito de Raventown - diz papai.
Fico em silêncio e todos me olham.
- Will? - minha mãe toca minha mão.
- Eu...eu sou grato...por...por não ser como você papai - todos arregalam os olhos - e sou grato por pensar diferente. Não só em bens materiais. Sou grato por escolher viver diferente e sou grato por ser quem eu sou.
- Não estou te entendendo William - fala meu pai.
Minha mãe abaixa os olhos.
- Eu sou gay!
Um silêncio terrível cai sobre a casa.
- Isso é uma brincadeira? - fala meu pai - por que se for, não tem graça.
- Estou falando sério. Eu gosto de garotos.
- Você não gosta porra nenhuma - sibila meu pai.
- Eu cansei de ser o que não sou.
Meu pai se levanta e empurra o prato, que cai estilhaçado no chão.
- Eu não tenho a porra de um filho gay!
- Gay com orgulho - falo com voz trêmula.
- George... - minha mãe começa a falar.
- Cala a boca, sua vadia! - meu pai rosna.
- Você não tem o direito de falar assim com minha mãe - grito.
Meu pai se aproxima de mim e me dá um soco no rosto.
- Me respeita viadinho de merda.
Caio de joelhos no chão e sinto o chute nas minhas costelas. Caio no chão sem ar.
- Não, George! - grita minha mãe e se mete no meio.
Meu pai a empurra em cima da mesa. Michael e Lily se metem na frente.
- Para papai! - gritam.
- Você - ele aponta para mim - vai embora daqui! Agora! Eu nunca mais quero te ver. Você tá morto para mim!
- George - fala minha mãe rouca - você não pode fazer isso...
- Essa porra de casa é minha e eu não quero esse...isso aqui.
- Deixa mãe...eu nunca mais piso nessa casa. Nunca mais.
Subo as escadas e pego a bolsa que já deixei pronta, pois já tinha imaginado que isso iria acontecer. Quando desço as escadas minha mãe me espera e me abraça.
- Liga para mim amanhã - ela sussurra.
Meus irmãos vem me abraçar, mas meu pai impede.
- Não quero vocês perto disso.
Minha mãe olha furiosa para ele.
- George está chovendo. Você vai deixar ele ir...
- Você quer ir junto? Eu fico aqui cuidando dos meus filhos - ele abraça meus irmãos, é uma ameaça.
- Mãe, fica aqui e cuida deles - falo e começo a caminhar.
A chuva parece aumentar a cada segundo. Os pingos frios tocam minha pele e me dão arrepios. Mesmo com toda a confusão que aconteceu, me sinto bem, me sinto livre pela primeira vez na vida.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...