Capítulo 42

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Estamos todos sentados a mesa. Uma chuva forte bate na janela e raios riscam o céu.

- Uma baita de uma tempestade em plena ação de graças - comenta minha mãe.

Um grande peru está na mesa. Pure, batatas assadas, saladas, carne de porco...muita comida, sem necessidade para quatro pessoas.

- Vamos agradecer? - fala minha mãe e todos damos às mãos e fazemos as preces em silêncio - agora vamos dizer por que somo gratos. Eu sou grata por essa casa e minha família unida.

- Eu sou grata pelas aulas de música clássica - fala Lilian.

- Eu sou grato pelos livros - diz Michael.

- Eu sou grato pela sorte que tenho e por minha empresa e pelo cargo de prefeito de Raventown - diz papai.

Fico em silêncio e todos me olham.

- Will? - minha mãe toca minha mão.

- Eu...eu sou grato...por...por não ser como você papai - todos arregalam os olhos - e sou grato por pensar diferente. Não só em bens materiais. Sou grato por escolher viver diferente e sou grato por ser quem eu sou.

- Não estou te entendendo William - fala meu pai.

Minha mãe abaixa os olhos.

- Eu sou gay!

Um silêncio terrível cai sobre a casa.

- Isso é uma brincadeira? - fala meu pai - por que se for, não tem graça.

- Estou falando sério. Eu gosto de garotos.

- Você não gosta porra nenhuma - sibila meu pai.

- Eu cansei de ser o que não sou.

Meu pai se levanta e empurra o prato, que cai estilhaçado no chão.

- Eu não tenho a porra de um filho gay!

- Gay com orgulho - falo com voz trêmula.

- George... - minha mãe começa a falar.

- Cala a boca, sua vadia! - meu pai rosna.

- Você não tem o direito de falar assim com minha mãe - grito.

Meu pai se aproxima de mim e me dá um soco no rosto.

- Me respeita viadinho de merda.

Caio de joelhos no chão e sinto o chute nas minhas costelas. Caio no chão sem ar.

- Não, George! - grita minha mãe e se mete no meio.

Meu pai a empurra em cima da mesa. Michael e Lily se metem na frente.

- Para papai! - gritam.

- Você - ele aponta para mim - vai embora daqui! Agora! Eu nunca mais quero te ver. Você tá morto para mim!

- George - fala minha mãe rouca - você não pode fazer isso...

- Essa porra de casa é minha e eu não quero esse...isso aqui.

- Deixa mãe...eu nunca mais piso nessa casa. Nunca mais.

Subo as escadas e pego a bolsa que já deixei pronta, pois já tinha imaginado que isso iria acontecer. Quando desço as escadas minha mãe me espera e me abraça.

- Liga para mim amanhã - ela sussurra.

Meus irmãos vem me abraçar, mas meu pai impede.

- Não quero vocês perto disso.

Minha mãe olha furiosa para ele.

- George está chovendo. Você vai deixar ele ir...

- Você quer ir junto? Eu fico aqui cuidando dos meus filhos - ele abraça meus irmãos, é uma ameaça.

- Mãe, fica aqui e cuida deles - falo e começo a caminhar.

A chuva parece aumentar a cada segundo. Os pingos frios tocam minha pele e me dão arrepios. Mesmo com toda a confusão que aconteceu, me sinto bem, me sinto livre pela primeira vez na vida.

Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora