O Ébano - Capítulo 5

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Minhas mãos ainda tremem. Eu atropelei um garoto!

Espero que não dê problema para mim depois. Meus pais só estão esperando mais um deslize meu. Mas a culpa foram deles por eu estar nervoso e acabar batendo naquele garoto!

Estaciono o carro na frente do restaurante mais caro de Raventown. Sue, minha namorada queria me encontrar aqui.

Entro me sentindo meio desconfortável. Sue me espera em um mesa próximo a parede de vidro que dá vista para o lago. A pele dela é mais escura que a minha e os cabelos lisos caem como um cascata negra pelas costas. Ela ergue os olhos cor de mel para mim.

- William...Você está atrasado.

- Desculpe Sue, aconteceu um problema...lá em casa, na rua...

Estou tremendo e ela percebe. Ela coloca os dedos, com unhas pintadas de azul escuro, sobre minha mão.

- O que houve?

- Não quero falar sobre isso agora, mas porquê aqui Sue? Nesse restaurante? Você sabe que eu...

- Sim, eu sei! Mas fica por minha conta.

- Mas...

- Will, para - ela sorri - somos namorados, podemos pagar coisas um para o outro.

- Eu não gosto disso.

Ela revira os olhos.

- Sem discussão! - ela chama o garçom - duas porções de lagostim ao molho de champignon, a sopa de mariscos e a salada vegana, por favor. Ah, uma garrafa de vinho italiano.

Suspiro.

- Por que isso tudo?

- Estou com fome! E você também deveria estar. O que o treinador disse? Sobre você continuar no time?

- Ele não entrou em detalhes...quer conversar comigo amanhã, no sério!

- Será que você vai ser expulso?

- Acho que não chega a tanto, mas vou levar uma bronca.

- Mas é claro! Tirou notas péssimas no semestre passado.

- Minha cabeça estava no jogo.

Ela sorri, o colar de brilhantes balançando no pescoço.

- Meu amor, nem só de jogos é feita a escola. O ensino é mais importante.

- Mas e se eu quiser seguir carreira nisso?

- Terá que ter estudo, para pelo menos saber ler uma placa.

- Mas eu sei ler.

- Você me entendeu, William.

Sue Ann, tem 19 anos. Está no seu primeiro ano de faculdade. Estou no meu último ano de escola. O que uma garota como ela faz comigo, não sei. Ela é linda, inteligente, gosta de estudar...meus pais a amam, acho que até mais que a mim.

- Will, você tem 18 anos. Sua vida adulta vai começar, você precisa ter em mente o que quer de verdade. Olha só! Nossa comida está chegando!

Comemos em silêncio. As palavras dela, ecoando em minha cabeça. Depois de comermos, resolvemos passear um pouco. Estamos um pouco tontos pelo vinho e nossas faces esquentam com facilidade.

- Como está na escola? Único garoto negro? - ela me pergunta, com as mãos nos bolsos do casaco. Caminhamos pela calçada, perto da margem do lago.

- Não, mais quase. Sou dos poucos negros na escola, e no time sou único.

Ela sorri.

- Lembro de quando estudava aqui, também era assim. Na faculdade de Portland não é assim. Tem muitos negros.

Caminhamos até um parque, que fica ali perto. Desde que cheguei aqui, sou curioso em relação a essas árvores. Elas tem uma casca escura. Sentamos em um dos bancos. Minha bunda congela na hora, mas Sue parece não se importar.

- Essas árvores são do tipo Diospyros. Conhecida comumente como árvore do ébano.

- Por isso a madeira é tão escura.

Ela me olha, os lábios carnudos semi-abertos.

- Vou voltar para Portland hoje a noite.

- Mas já?

- Sim, o recesso termina na segunda-feira e quero passar o fim de semana estudando.

- Entendo.

- No próximo fim de semana estou de volta.

Quando comecei o namoro com Sue, eu estava no segundo ano e ela no terceiro. Mas não estudávamos na mesma escola. Ela estava na RHS e eu em uma escola em Portland. Nos conhecemos em uma confraternização, pois nossos pais são conhecidos de longa data. Quando finalmente pude estudar aqui em Raventown, ela terminou a escola e conseguiu uma vaga para Universidade de Portland. De forma resumida, desde o começo do namoro, há quase 1 ano, não nos vemos frequentemente.

- Eu te amo - falo e me aproximo.

- Também te amo - ela me beija e o calor esquenta meu peito.

Ficamos ali abraçados. Olhando o lago ao longe, as árvores de ébano desfolhadas e os pequenos flocos de neve que caem preguiçosamente sobre nós.

Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora