A Neve - Capítulo 43

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Os últimos 3 dias foram tensos. Fiz de tudo para tentar esconder minha ansiedade. Eu e o Rafael resolvemos ir  embora depois do jantar de ação de graças. Minha bolsa com algumas roupas e um pouco dinheiro que guardei, está debaixo da cama. Olho pela janela da cozinha. Chove forte.

- Tanto dia pra chover e chove logo hoje - falo.

Minha mãe termina de fazer o jantar.

- Ia sair hoje?

- Queria andar um pouco.

- O Rafael vai vir jantar com a gente?

- Não.

- Filho...eu sei que é difícil, mas entenda...

- Não quero falar sobre isso, por favor.

Começo a rir internamente. Ela nem imagina que daqui a pouco estarei longe com o cara que eu amo.

Vou para meu quarto e mando uma mensagem para o Rafael.

David: amor...tudo certo?

Rafael: tudo certíssimo. Às 12:30 chego aí.

David: conseguiu o carro?

Rafael: sim, aluguei um e deixarei na filial da empresa em Portland. De lá pegamos um ônibus para qualquer lugar nos Estados Unidos.

David: essa chuva vai atrapalhar tudo :(

Rafael: não se preocupa amor. Tudo vai dar certo. Agora preciso ir. Até mais tarde, te amo.

David: te amo também.

Deito na cama e respiro fundo, sorrindo.

Na hora do jantar damos as mãos. Não somos religiosos então só agradecemos pelo que temos.

O jantar está uma delícia. Vou sentir saudades disso.
Antes de eu ir para o quarto abraço e beijo minha mãe e minha irmã.

- Nossa, qual motivo desse carinho todo - minha mãe fala sorrindo.

- Só quero que vocês saibam que amo vocês...boa noite.

São quase 12:25. Escrevo um bilhete explicando tudo para minha mãe. Olho para meu quarto e sorrio. Não tive tanto tempo aqui.

Assim que as luzes se apagam no corredor, pego minha bolsa e saio devagar. Tento fazer o mínimo de barulho possível. Abro a porta da frente e a fecho lentamente. A chuva ainda cai forte. Raios violetas iluminam o céu escuro. O carro prata está parado na frente da casa. Corro pela chuva e entro no carro. Jogo minha bolsa no banco de trás.

Rafael sorri e me dá um beijo leve.

- Meu namorado todo molhado. Em outras circunstâncias isso seria maravilhoso.

- Para seu safado - falo rindo.

- Pronto?

- Mais que pronto.

Ele liga o motor e começamos nossa viagem.

Ligo o rádio. A chuva causa interferência.

- Acho que alguma torre de rádio caiu - falo - pra onde vamos? Nem tivemos tempo de pensar.

Ele segura minha mão.

- Onde você quiser ir...a única coisa que sei, é que onde você estiver vai ser o meu lar.

- Aawwn que amor! - tento beijar ele, mas ele se esquiva, os cachinhos louros balançando - o que foi?

- Não posso me distrair da estrada...Mesmo que seja tentador parar agora na estrada e te beijar.

- Shhh, não vamos falar sobre isso agora. Você tem razão. Foco na estrada.

Um trovão me faz tremer.

- Calma amor é só um trovão.

A estrada está escura e o farol não parece ser suficiente para iluminar a nossa frente.

- Rafael onde estamos? Não consigo ver nada.

- Hum...estamos subindo o morro, a inter estadual fica perto daqui. É um atalho.

Um raio cai em uma árvore e ilumina tudo. Alguém está parado no meio da estrada.

- RAFAEL!!! - grito.

Ele gira o volante e o carro derrapa até bater na cerca de proteção e começar a capotar morro abaixo.

A última coisa que lembro de ver, são os olhos azuis assustados do Rafael.

Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora