Capítulo 3

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Acordei cedo só para voltar pra casa de novo. A escola foi fechada hoje por conta da nevasca de ontem. Parece que a neve entupiu os canos de aquecimento e a queda de um poste deixou o prédio sem energia.

Chegando em casa, vejo que minha mãe discute acaloradamente com o Sr. Toupeira (Sr. Thompson, o homem que nos aluga a casa).

- Você só tem até o fim da semana Sra. Evangeline - ele fala e desce a escada da varanda, indo embora.

Os olhos de minha mãe marejam.

- O que foi mãe?

- É uma ordem de despejo meu filho...estamos sem casa.

Minha mãe prepará um chá.

- Me explica isso direito...porquê agora?

- Porquê o Toupeira é um filho da puta! - ela se assusta com a própria frase - Desculpa meu filho.

Ouvir minha mãe xingar é assustador e maravilhoso. Nunca ouvi ela xingar antes.

- O que ele fez?

Ela serve o chá para si e senta, colocando a testa sobre a mesa.

- Há algum tempo ele vem dando investidas sobre mim e eu só afastando educadamente - chamamos ele de toupeira, porque ele é baixinho, gorducho e anda com os olhos quase fechados, além de ser calvo - até que outro dia eu disse um belíssimo NÃO! Hoje ele apareceu com essa ordem de despejo, alegando ter encontrado um comprador para casa.

- Ele não pode fazer isso!

- Infelizmente pode David.

- O que vamos fazer agora?

- Eu não tenho nem ideia, morávamos aqui pelo aluguel baixo...qualquer casa ou apartamento fora daqui está fora de nosso orçamento e as coisas estão indo mal na costuraria.

Me levanto e a abraço.

- Vai tudo dar certo mãe, vai tudo dar certo...amo você.

- Também te amo meu filho.

Passo o resto do dia terminando lições atrasadas. Minha mãe foi para o trabalho e Emily está na escola. Preciso pensar em alguma coisa para ganhar um dinheiro extra.

Antes das 15h começo a caminhada para a lanchonete. Minha cabeça flutua. Parece que a cada minuto que passa fica mais difícil escapar desse soterramento de neve que é minha vida.

Não percebo que estou no cruzamento da avenida 4 e atravesso sem olhar para os lados. Um carro vem da minha direita e me pega. Sinto o impacto quando bato com minha cabeça no chão.

Você está bem? O que aconteceu? Oi, quantos dedos você está vendo? Chamem uma ambulância!

Minha cabeça gira e dói. Tento me sentar mais a tontura não deixa. Algumas pessoas se aproximam. Sinto como se estivesse debaixo d'água.

Um cara negro, grande, tipo atleta se aproxima.

- Ei cara...você tá bem? Me desculpa, mas você não estava prestando atenção...

Sua voz é grave e profunda e me ajuda a voltar a calma. Toco minha testa e percebo que sangra.

- Estou sangrando - falo lentamente.

- Ah droga...droga, droga, droga - o cara fala.

- Eu estou bem - falo tocando seu braço - só um pouco tonto.

- Quer ir ao hospital? Quer que te leve para casa? Algum lugar?

- Só preciso chegar no trabalho.

- Mas você está em condições?

- Sim.

Ele me ajuda a levantar. Algumas pessoas conversam e apontam. Ele me leva até seu carro.

- Não precisa cara...eu estou bem...de verdade.

- Vou levar você até onde quiser ir, é o mínimo que posso fazer.

Ele me coloca no banco do carona e fala com alguns dos curiosos, depois entra no carro.

- Onde você trabalha?

- Ravenburguer

- " A melhor lanchonete de Raventown"

Não consigo evitar o sorriso.

- Isso mesmo.

Antes de ligar o carro, ele me olha de novo. Seus olhos verdes contrastam com a pele cor de café, são hipnotizantes.

- Aliás...me chamo William, mas pode me chamar de Will.

- David.

Ele me estende a mão e a agarro. É grande e forte.

- Prazer David.

- Prazer Will.

Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora