Acordei cedo só para voltar pra casa de novo. A escola foi fechada hoje por conta da nevasca de ontem. Parece que a neve entupiu os canos de aquecimento e a queda de um poste deixou o prédio sem energia.
Chegando em casa, vejo que minha mãe discute acaloradamente com o Sr. Toupeira (Sr. Thompson, o homem que nos aluga a casa).
- Você só tem até o fim da semana Sra. Evangeline - ele fala e desce a escada da varanda, indo embora.
Os olhos de minha mãe marejam.
- O que foi mãe?
- É uma ordem de despejo meu filho...estamos sem casa.
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Minha mãe prepará um chá.
- Me explica isso direito...porquê agora?
- Porquê o Toupeira é um filho da puta! - ela se assusta com a própria frase - Desculpa meu filho.
Ouvir minha mãe xingar é assustador e maravilhoso. Nunca ouvi ela xingar antes.
- O que ele fez?
Ela serve o chá para si e senta, colocando a testa sobre a mesa.
- Há algum tempo ele vem dando investidas sobre mim e eu só afastando educadamente - chamamos ele de toupeira, porque ele é baixinho, gorducho e anda com os olhos quase fechados, além de ser calvo - até que outro dia eu disse um belíssimo NÃO! Hoje ele apareceu com essa ordem de despejo, alegando ter encontrado um comprador para casa.
- Ele não pode fazer isso!
- Infelizmente pode David.
- O que vamos fazer agora?
- Eu não tenho nem ideia, morávamos aqui pelo aluguel baixo...qualquer casa ou apartamento fora daqui está fora de nosso orçamento e as coisas estão indo mal na costuraria.
Me levanto e a abraço.
- Vai tudo dar certo mãe, vai tudo dar certo...amo você.
- Também te amo meu filho.
Passo o resto do dia terminando lições atrasadas. Minha mãe foi para o trabalho e Emily está na escola. Preciso pensar em alguma coisa para ganhar um dinheiro extra.
Antes das 15h começo a caminhada para a lanchonete. Minha cabeça flutua. Parece que a cada minuto que passa fica mais difícil escapar desse soterramento de neve que é minha vida.
Não percebo que estou no cruzamento da avenida 4 e atravesso sem olhar para os lados. Um carro vem da minha direita e me pega. Sinto o impacto quando bato com minha cabeça no chão.
Você está bem? O que aconteceu? Oi, quantos dedos você está vendo? Chamem uma ambulância!
Minha cabeça gira e dói. Tento me sentar mais a tontura não deixa. Algumas pessoas se aproximam. Sinto como se estivesse debaixo d'água.
Um cara negro, grande, tipo atleta se aproxima.
- Ei cara...você tá bem? Me desculpa, mas você não estava prestando atenção...
Sua voz é grave e profunda e me ajuda a voltar a calma. Toco minha testa e percebo que sangra.
- Estou sangrando - falo lentamente.
- Ah droga...droga, droga, droga - o cara fala.
- Eu estou bem - falo tocando seu braço - só um pouco tonto.
- Quer ir ao hospital? Quer que te leve para casa? Algum lugar?
- Só preciso chegar no trabalho.
- Mas você está em condições?
- Sim.
Ele me ajuda a levantar. Algumas pessoas conversam e apontam. Ele me leva até seu carro.
- Não precisa cara...eu estou bem...de verdade.
- Vou levar você até onde quiser ir, é o mínimo que posso fazer.
Ele me coloca no banco do carona e fala com alguns dos curiosos, depois entra no carro.
- Onde você trabalha?
- Ravenburguer
- " A melhor lanchonete de Raventown"
Não consigo evitar o sorriso.
- Isso mesmo.
Antes de ligar o carro, ele me olha de novo. Seus olhos verdes contrastam com a pele cor de café, são hipnotizantes.
- Aliás...me chamo William, mas pode me chamar de Will.
- David.
Ele me estende a mão e a agarro. É grande e forte.
- Prazer David.
- Prazer Will.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...