Com o fim da aula de hoje, esperei Will na porta da escola.
- Oi - ele falou se aproximando - vamos?
- Oi...na sua casa ou na minha?
- Na sua! - ele quase gritou - na sua...
Dei um sorriso amarelo. Minha casa estava uma bagunça. Estávamos arrumando tudo, caixas por todo o lado. Até o fim da semana sairíamos da casa do Sr. Toupeira.
- Ok então...vamos... - comecei a caminhar.
- Você quer ir a pé? Eu tenho carro.
- Oh nossa - fico vermelho - eu achei...tudo bem.
Caminhamos pelo estacionamento. Seu carro é um SUV preto. Não é um carro barato...mas não é um dos mais caros.
Entro no carro.
- Onde você mora?
- Riverdown, rua 3.
- Ah.
Mordo a língua para não soltar alguma piadinha sobre ele dirigir. Ele realmente dirige bem, mas não vou dar esse gostinho para ele. Olho para fora. O lago Gipse e lá mais a frente, entre duas pequenas colinas, a saída que dá para o mar. Pessoas caminham com seus casacos pesados. Os céus sabem o quanto agradeço por esse trabalho. Will vai me pagar 50 dólares por aula, três aulas por semana, o que dá 150 dólares por semana, 600 no fim do mês. Acho que é o bastante, para ficar em um quarto de aluguel com minha mãe e a Emily. Só por esse mês.
- Você precisa de aulas até quando?
- Até o fim do semestre. Preciso de boas notas nas provas.
- Ah - são dois meses até o fim do semestre.
- Jogo no time de Futebol Americano da RHS e preciso de notas altas para continuar jogando.
- Ah...não sou muito fã de futebol.
- Prefere passar os dias nos livros - fala com desdém.
- E graças a isso, poderei ajudar você!
Ele se cala. Ele entra na minha rua. Casas desbotadas e jardins mau cuidados.
Quando chegamos porta da minha casa fico desconcertado. Abro a porta.
- Não repara na bagunça - falo passando sobre algumas caixas - estamos de mudança.
Emily coloca a cabeça para fora do quarto e dá um sorrisinho.
- Oiii - fala com um sorriso de orelha a orelha.
Ela caminha como um gato e para na frente do Will.
- Como você é grande - depois olha para mim com um sorriso malicioso.
Meu rosto queima.
- Não dê atenção a ela - falo empurrando ele para meu quarto.
Olho para trás e ela pisca para mim. Pego uma almofada no chão e jogo nela. Ela entra no quarto rindo.
Ainda não mexi em nada no meu quarto.
- Senta ali - aponto para a escrivaninha.
Vou até o armário e respiro fundo. Emily me paga. Pego meus livros e o meu óculos. Quando me vê, Will começa a rir.
- Tá rindo do quê? - sibilo.
- Você fica diferente com óculos. Muito mais nerd.
Jogo os livros em cima da mesa com um barulho.
- Oh cara, desculpa...sério.
- Vamos começar com história - falo seco.
Começo a falar sobre a guerra civil americana, primeira e segunda guerra, a segregação racial em grande parte da América na década de 60.
- Meu povo já sofreu demais - fala Will, ele está deitado na minha cama. Bem acomodado.
- Os grandes países das Américas, cresceram com muito sangue negro derramado. Não consigo nem imaginar a dor que sentiram....
- Minha mãe me conta muitas histórias...ela é africana.
- Incrível.
Ele joga meu travesseiro para o alto.
- Pedi ajuda para minha namorada...ela já está na faculdade - Não sei porque ele tá me contando isso - se eu sair do time ou tirar notas ruins, será mais um motivo para eles.
- Eles?
- Meus pais...eles acham que não quero nada da vida.
- E estão certos?
- Não! - ele suspira - Não totalmente...em parte, sim...em grande parte sim.
- Entendo.
- Já tenho 18 anos. Estou perto de terminar os estudos e não sei o quero fazer, não tenho a mínima ideia do que quero.
Suspiro.
- Eu entendo. Estou na mesma, mas se tenho uma certeza é a de que quero sair de Raventown, sair do Maine, sair dos Estados Unidos! Eu quero viajar pelo mundo! Conhecer culturas e terras novas...
Alguém bate a porta.
- Atrapalho? - é minha mãe, ela sorri. Emily, vou te matar!!!
- Não mãe.
- Trouxe chocolate quente com alguns biscoitos - ela coloca a bandeja em cima da mesa - Oi, sou Evangeline - ela fala estendendo a mão para Will.
- Sou William, mas pode me chamar de Will.
- É um prazer Will.
Ela fica ali parada, olhando para nós dois.
- Mãe - falo tossindo - licença?
- Oh! Meu Deus, desculpa... - ela saí fechando a porta.
- Desculpa por isso, minha família é...peculiar.
Ele ri.
- Sua mãe é bonita, parece com você - Indiretamente ele disse que sou bonito? - sua família parece ser legal...e seu pai?
- Foi embora.
- Ah...desculpa aí.
- Não, tudo bem.
Ele olha para fora. Está escuro.
- Nossa nem percebi que anoiteceu, preciso ir - ele se levanta e me entrega 50 dólares - amanhã de novo?
- No mesmo horário - falo.
Ele sorri.
O levo até a porta.
- Quando disse que você ficava diferente com óculos, quis dizer que ficava mais fofo - ele sorri e se vai.
Quando fecho a porta e posso respirar, vejo minha mãe e Emily olhando para mim.
- Queremos saber tudo! - falam as duas em uníssono.
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Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - Concluído
RomanceDavid é um garoto simples que passa seus dias estudando e no trabalho de meio expediente em uma lanchonete, para ajudar a mãe com as despesas, mas que vê tudo desmoronar a sua volta quando surge uma ordem de despejo na sua casa e ele é demitido. Wil...