O Ébano - Capítulo 44

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Meu coração está muito acelerado. Ainda estou parado no meio da estrada tentando entender o que aconteceu. Por pouco não fui atropelado. 

Resolvi ir para Raventown caminhando e estava atravessando a estrada quando um carro veio em minha direção.

Minha mente entra em foco de novo...o carro. Meu Deus o carro caiu no morro. Largo a mochila e corro até a cerca de proteção. O carro está capotado mais lá embaixo, peças e partes dele estão por todo lado. Preciso ajudar os passageiros.

Começo a descer o morro devagar, ele está muito escorregadio. A chuva não me deixa enxergar direito. Quando estou me aproximando do carro, olho algo se mover em minha visão periférica.

Meu coração bate mais rápido e o horror que sinto ao ver a pessoa me deixa com os olhos cheio de lágrimas.

O corpo do Rafael está em uma posição estranha. Um dos braços está sob o corpo e a perna direita está quebrada, com certeza.

Me ajoelho perto dele e vejo sangue em sua boca. Um pedaço de metal atravessa sua barriga. Ele abre os olhos lentamente.

- Wi...Wi..Will? - ele fala rouco.

- Oi Rafael, sim sou eu...shhh calma, eu vou buscar ajuda, você vai ficar bem...só mantenha a calma, certo?

Ele ergue o braço bom e toca em meu rosto, sua mão molhada de água e sangue.

- Cui...cui...cuidaa do...do...Davi...David...por...por favor - ele chora e eu também.

- Não Rafael...você quem vai cuidar dele viu? Por muito tempo...ele ama você.

Rafael tenta esboçar um sorriso, mas isso causa mais dor.

- Ele...ele te...te ama também Wi...Will....nós íamos...fu...fugir...

Ele respira ruidosamente. Entro em desespero.

- Ele tá no carro?

- Acho...que..que sim...

Toco o rosto dele, os olhos azuis opacos.

- Vai cui..cuidar de..ele? Pro...promete?

- Sim - falo soluçando - vou cuidar dele sim.

Ele consegue sorrir e então se vai. Os olhos abertos olhando para o céu. Um fio de sangue escorrendo da boca. Sua mão cai pesadamente no chão.

Fecho seus olhos e caminho cambaleante até o carro. Ele está todo destruído. Me aproximo do lado do carona e tento abrir a porta. Com muito esforço consigo.

Ele está preso ao cinto, a cabeça pendendo. Sangue escorre pela sua têmpora.

- Eu vou te ajudar - falo.

Tiro o cinto e o pego nos braços. Estou chorando tanto que nem sei o que é água da chuva e o que são lágrimas. Agradeço ao céu quando vejo que ele respira, mas não sei por quanto tempo.

Carrego ele morro acima. Tirando forças da dor que sinto agora. Quando chego na estrada minhas pernas fraquejam e caio de joelhos. Aperto mais o David contra meu corpo.

- Eu vou te ajudar - falo tocando seu rosto - eu vou sim - toco meus lábios nos seus, que estão frios.

Vejo um farol se aproximando e levanto a mão.

- Me ajuda - falo quase sem forças - por favor, me ajuda.

Neve sobre o Ébano (Romance Gay) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora