JÚPITER

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- Dominic, isso não vai acontecer. 

 Eu falo, mostrando um ponto chave em que precisa haver uma coluna no andar mas os irmãos Golveia decidiram que não.

- Eu sei, Júpiter. – Ele fala, e obrigo o sorriso estúpido que tenho vontade de dar ao ouvi-lo falar meu nome a permanecer longe. Depois de algumas horas de trabalho percebemos que Senhor aquilo e Senhorita aquilo era longo demais, então pulamos as cordialidades e ficamos apenas com Dominic e Júpiter. O que eu amava, porque a boca de Dominic quando ele falava meu nome, era apenas... um oásis.

- A gente tem liberdade para construí-la. – eu falo, o olhando. – A estética não vale a pena a segurança. O teto pode sim aguentar, mas com algumas centenas de quilos a mais no andar de cima e o chão vai ceder dois metros.

- Sim, eu tinha visto. – Ele fala, dando um gole em seu café. A terceira xícara dessa noite. São dez da noite e meus olhos ardem. – Vou colocar na nota oficial e encaminhar pro Golveia. – Ele diz, se recostando no sofá. 

Nós vínhamos fazendo isso pelas ultimas duas semanas e tínhamos avançado 20 por cento do projeto. Tínhamos estabelecido uma rotina confortável. Eu ia para a sala dele no fim do expediente, nós começávamos o trabalho, pedíamos jantar, trabalhávamos mais e no final de tudo, a gente conversava. Normalmente sobre A Divina Comédia, às vezes sobre nossas vidas. Nós já tínhamos comido – italiana, por minha conta. – e trabalhado mais, o que significava que iriamos conversar. Eu estico meus pés descalços e minhas pernas e gemo de alivio. 

Dominic encara o teto e brinca com seus próprios dedos. Hoje ele está mais sério e mais compenetrado que o normal, então me mantenho em silêncio observando sua aura de adônis. Dominic é surpreendente.

- Você já se sentiu impotente? – Ele pergunta subitamente e noto que há dor na sua voz. Meu coração se aperta. Penso em meu pai e em sua doença.

- O tempo todo. – Eu respondo, com toda a honestidade que posso oferecer. Dominic leva os olhos até os meus e então lá está ela de novo... A força invisível me puxando para ele, os olhos de carvão em brasa queimando os meus. Uma fragilidade brutal pairando nos dele.

- E como você se livra disso? – Ele pergunta, baixo, e meus pelos se eriçam conforme sua voz desliza em meus ouvidos.

- Eu não me livro. – Respondo, dando de ombros. – Todo mundo é impotente sobre alguma coisa. Só nos resta nos mantermos fortes e lutarmos pelas coisas que nós podemos controlar e não permitir que as que nós não podemos nos engulam. – Eu digo, olhando em seus olhos. Dominic concorda levemente, perdido em seus próprios pensamentos. Ele me olha e então eu sinto. A conexão sendo formada, um fio invisível me ligando até ele através da identificação.

- Sabe, Júpiter. – Ele fala, meio sorrindo, meio sério. Profundamente desolado, mas quase alegre. – Eu realmente adoro o jeito que a sua cabeça funciona. – declara, repetindo sua frase de duas semanas atrás.

- Estou sempre às ordens. – Eu brinco, sorrindo. Ele sorri também e então mil borboletas dançam em meu estômago.



~



Na manhã seguinte, eu tenho certeza que minha cabeça vai explodir. Eva e seus cabelos vermelhos estão parados na minha frente, com toda sua atitude petulante enquanto me encara na minha sala.

- Estou esperando. – Eu digo, a fuzilando com meus olhos. Eva tem me dado uma dor de cabeça extra desde que a Cavandes foi vendida e seu ego mal cabe nessa sala. – Estou esperando você me responder que merda você tinha na cabeça quando decidiu passar por cima de mim e fechar um projeto sozinha. – Eu falo, aumentando meu tom de voz a cada palavra. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora