O metal contra minha mão me mantém grudada a realidade.
Meu cérebro está trabalhando a mil quilômetros por hora e me forço a me manter parada e tentar compreender as palavras que ecoam pela sala. Eu arrepio dos pés a cabeça e respiro fundo, uma, duas, dez vezes. Quando reúno coragem suficiente para tirar minha mão da maçaneta, percebo que estou tremendo. Quando viro em direção a Dominic, o grito que escapa da minha boca é involuntário quando percebo que ele está parado atrás de mim, me analisando atentamente. Seus olhos me percorrem e assim que ele percebe minhas mãos trêmulas, a dor em seu rosto é tão perfurante que dou um passo em sua direção. Mas ele caminha para trás até esbarrar no sofá gigante que toma metade de sua sala.
- Você deveria ir. – Ele diz, afundando o rosto entre as mãos. – Eu já estraguei tudo. – declara, o tom de voz partido. Respiro fundo mais três vezes, usando cada subterfúgio do meu cérebro para encontrar uma resposta para toda essa confusão. Mas, nada. Nada explicava toda a dor e a declaração absurda de Dominic.
- O-o que – eu começo, gaguejando, mas respiro fundo e continuo – você quis dizer com "eu sou um assassino"? – pergunto, odiando o gosto das palavras na minha boca. Dominic leva os olhos até os meus e eu abraço meu corpo, em busca de algum refúgio.
- Eu quis dizer exatamente isso. – ele fala, cortante. – uma pessoa está morta e a culpa é minha.
- Você vai ter que me explicar direito essa história se você não quiser que eu saia correndo nesse instante. – eu digo, cravando minhas unhas em minhas palmas para controlar meus instintos.
- Você tem certeza? – Ele sussurra.
- Eu preciso. – sussurro de volta. E então eu caminho até o sofá e me sento a uma boa distância de seu corpo imponente. Sua postura frágil quase parte meu coração. Ele se senta e olha para a grande porta de vidro que mostra a noite estrelada. Quando ele começa a falar, não tenho coragem de mexer um músculo sequer.
- Eu cresci no interior do Rio Grande do Sul, numa cidade tradicional e pequena. Todos se conhecem e é como se fossemos uma grande família. – ele começa, os olhos cravados nas estrelas. – eu cresci com as mesmas pessoas. Meus melhores amigos ainda estão lá, vivendo aquela vida. Uma dessas pessoas, era a C-clara. – Ele gagueja. – Essa é a primeira vez que falo o nome dela desde que tudo aconteceu. – Ele sussurra, tanta dor... – Clara nasceu e foi criada junto comigo. Acho que por isso sempre foi natural que nós nos envolvêssemos e começássemos um relacionamento. Nossos pais eram amigos, e nossa vida era misturada em uma só. – ele conta, respirando fundo. – Nós começamos a namorar quando tínhamos quinze anos. Ela faz aniversário no mesmo mês que eu. – sorri. – E tudo foi muito natural. Nós éramos duas crianças apaixonadas. E conforme o tempo passou e fui para a faculdade, Clara não quis me acompanhar. Ela queria ser confeiteira e ficou no Rio Grande do Sul, enquanto eu vim para o Rio estudar. Mantemos o relacionamento à distância por anos. Eu ia visita-la e ela vinha e revezávamos nos feriados. Mas conforme eu e Gael montamos a Riviera e a empresa começou a crescer, ficou cada vez mais difícil de nós nos vermos. Eu tinha que fazer muitas viagens internacionais e... – ele para, para respirar fundo. Não ligando para o certo a se fazer, me arrastei até seu lado e tentei pegar sua mão. – Não. – Ele disse, se afastando. – Me deixe terminar. – Ele pediu e eu concordei.
- E bem, nós começamos a nos distanciar. Nós discutíamos muito porque eu nunca podia estar presente em nenhuma data comemorativa e comecei a ficar soterrado com a empresa... – ele conta, os olhos nunca sobre os meus. – e eu achei melhor terminar. Antes que perdêssemos a amizade brilhante que nós tínhamos. Eu voei para casa para que nós pudéssemos conversar. Eu a amava tanto... – ele diz, fechando os olhos. – odiava saber que eu estava acabando com seu coração. Eu sabia que não podia dar o relacionamento que ela sempre quis. Eu nunca poderia voltar a morar em nossa cidade, nunca poderia repetir a vida que meus pais e os pais dela tiveram. Então fui até sua casa e tinha um clima estranho no ar. Seus pais não me olhavam nos olhos, e ela não estava em lugar nenhum. E então fui até seu quarto e lá estava ela. Deitada feito uma bola em sua cama. – ele conta, apoiando a cabeça nos próprios joelhos, completamente distante. – tão pequena... Ela parecia um espectro. E eu não fazia nem ideia do que poderia estar acontecendo, nós não nos víamos há três meses e nada daquilo fazia sentido. Aquela não era a minha Clara. – Ele nega com a cabeça. – Ela era hiperativa, odiava ficar parada por muito tempo. Parecia uma pessoa completamente diferente. – ele diz, assombrado. - Assim que ela me viu, ela voou em minha direção e agarrou meu pescoço com toda a força do mundo. E começou a rir, descontroladamente. – Ele diz. – Acho que nunca estive tão perdido em toda a minha vida. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Ela só resmungava "meu Dom, meu Dom, meu Dom", sem parar. – Ele conta, a voz falhando. – às vezes, se fecho os olhos, ainda posso escutar a voz dela, perdida, murmurando isso sem parar.
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O UNIVERSO ENTRE NÓS - COMPLETO
ChickLit(+18) LIVRO DE CONTEÚDO ADULTO. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. PLÁGIO É CRIME. Júpiter Witkowski é uma mulher intensa, dedicada a família e apaixonada por sua profissão. Aos 26 anos, ela é diretora de uma empresa de arquitetura que vai de mal a pio...