DOMINIC

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Eu havia tido a porra da noite mais infernal da história.

Eu não tinha conseguido dormir uma hora completa porque toda vez que eu fechava os olhos a imagem da mulher de cabelos cacheados e sorriso largo preenchia minha cabeça. Depois, era a imagem de seu corpo e isso foi suficiente para que meu membro acordasse e tornasse dormir ainda mais impossível. Me recusei a me aliviar. Aquilo tudo era ridículo. Eu a vi uma vez, trocamos meia dúzia de palavras mal-educadas e agora eu estava revirando cada segundo daquele delicioso encontro. Seu cheiro, seu corpo suave no meu, o rosto de traços intensos, a boca vermelha. Bufei, expulsando todo o ar dos meus pulmões. Hoje meu dia não permitia distrações, por mais tentadoras e deliciosas que fossem.

Me levantei e caminhei nu até meu banheiro. Me olhei no espelho e percebi que estava na hora de aparar o cabelo, ele estava cobrindo minhas orelhas e a parte de trás já arrastava na nuca. Eu tinha vinte e oito anos e meu olhar compenetrado me fazia parecer ter quarenta e cinco. Esfreguei meus olhos. Eu precisava ligar para meus pais e minha irmã. Eu não dava sinal de vida desde o último natal, quando os visitei. Ao contrário do que muitos pensavam, a Riviera não era minha herança. Eu havia construído o complexo do chão, com a ajuda de Gael. Tudo era esforço de um trabalho exaustivo que tomou conta de todas as áreas da nossa vida nos últimos anos. E agora, finalmente, a Riviera era a melhor de todas. Tínhamos lutado muito para alcançarmos o que conseguimos e eu tinha orgulho disso. Tomei um banho frio e rápido, coloquei um terno preto de corte certo e desci. Gael já estava na minha cozinha, com uma xícara de café na mão. Ele morava no apartamento vizinho ao meu para a minha infelicidade. Me servi com uma xícara e tomei lentamente o líquido quente.

- Tia Elisa ligou ontem para minha mãe. – Gael falou, me fazendo o olhar. – Ela acha que você está fugindo deles. – Ele continua, com a expressão fechada. Meus pais e eu éramos muito próximos, mas nos últimos três anos, muita coisa havia acontecido, e eu não conseguia ir até nossa antiga casa para vê-los. Eu apenas não conseguia.

- Eu tenho trabalho demais a ser feito. – Menti, colocando minha xícara na pia.

- Mentira. – Gael diz, irritado. – Dominic, todo mundo sabe que é muito difícil voltar lá desde que...

- Não. – Eu o cortei. Aquele era um assunto proibido e ele sabia disso. Gael bufou, levantando-se da bancada.

- Só liga para os velhos, cara. – Ele pediu. – Fala que está tudo bem, fala que tem estado ocupado, fala qualquer coisa. Você é a pessoa mais justa que eu conheço, mas você não está sendo justo com eles. – Meu primo terminou. Concordei com a cabeça à contragosto porque sabia que ele estava certo e principalmente porque queria encerrar aquele assunto o mais rápido possível.

Assim que cheguei no complexo de empresas, andei seguramente até o elevador. Algumas mulheres me enviavam alguns olhares, mas as ignorei. Misturar prazer com negócios era um erro amador. E só bastou a palavra prazer se infiltrar nos meus pensamentos, que lá estava ela de novo, o cheiro, os traços, meu coração acelerado. Respirei fundo, cansado de tudo aquilo. Era fodidamente irracional.

As portas se abriram e distraído, dei alguns passos para frente antes de ir ao encontro de uma figura muito menor que eu e que ia em direção ao chão devido nosso impacto. Meus reflexos eram ágeis, então segurei seus braços delicados e a puxei de encontro a mim, para reequilibrá-la. Prendi a respiração quando olhei para seu rosto. Ela parecia perfeita. Os cachos emoldurando o rosto limpo, o cheiro misterioso, a pele macia. Tudo se encaixava perfeitamente em mim. Uma parte estranha do meu coração se apertou e uma palavra foi sussurrada em minha mente. Ela. A emoção foi tão avassaladora que permaneci parado, a encarando. Ela abriu os olhos e a surpresa me abateu. Era ela. A mesma mulher que havia tirado meu sono na noite passada. Eu só podia estar delirando. Corri então, meus olhos por seu rosto e assim que cheguei a sua boca rosada, com o formato perfeito de um coração, tive toda a confirmação necessária. Voltei meus olhos aos seus e ela parecia estar no mesmo transe assustador que eu. Meus pelos se eriçaram. Era tudo delicioso, sensual demais...

- Vocês estão atrapalhando o caminho, pessoal. – Uma voz feminina falou ao nosso lado e pisquei várias vezes para voltar a mim. A mulher em meus braços concordou levemente com a cabeça e tentou dar um passo para trás, sendo impedida pelas minhas mãos que ainda a seguravam. Ela olhou para mim e lá estava a palavra dançando na minha língua. Ela. Ela. Ela. Eu precisava me recompor. Respirei fundo, a soltei rapidamente, e endireitei minhas costas. Dei um passo para frente e parei ao seu lado, sussurrando, imbatível, em sua direção.

- Você precisa começar a olhar por onde anda. – Provoquei, olhando-a de cima. Ela me olhou profundamente, como quem pondera alguma coisa. Achei que ela fosse permanecer em silêncio, mas em retorno, recebi um sussurro ainda mais baixo que o meu, em luxúria pura.

- E você precisa aprender a fingir que não gostou. - Ela falou, brincando com fogo. Me delimitei a fuzilar seu rosto, que não olhava mais para mim. Ela anda até o elevador, sussurrando alguma coisa com a mulher bonita de cabelos castanhos em seu lado, para no centro da caixa de metal, olha para frente e nossos olhos se encontram. Porra. Foi impossível não sorrir. Engoli a seco e voltei a andar.

Eu precisava achar Cavalcante. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora