DOMINIC

5.5K 498 21
                                    



Tudo estava pronto.

Depois de duas semanas planejando cada mínimo detalhe, tendo que convencer até mesmo o chefe de Júpiter e seus pais a colaborarem com meu plano, tudo finalmente corria como o esperado. Júpiter havia embarcado há seis para minha cidade natal, onde eu planejava colocar todos os pontos dos nossos "i"s. Eu havia embarcado no voo seguinte ao dela, e com a ajuda de Luísa, que me mantinha atualizado sobre cada passo que elas estavam dando, eu terminava de organizar tudo.

No último mês, tudo havia mudado de cabeça para baixo. Eu havia voltado para a terapia duas vezes por semana, para me ajudar com meus traumas e minha ansiedade, meus pais e Lena haviam finalmente voltado a falar comigo depois de dois meses de silêncio, desde quando terminei tudo com Júpiter. O trabalho havia voltado a render. E, eu e Júpiter estávamos mais próximos do que nunca. Como eu amava aquela mulher. No ultimo mês, com ajuda da terapia, eu havia me esforçado com toda a minha dedicação para cumprir e continuar cumprindo todas as garantias e promessas que eu havia lhe feito, mesmo antes de tudo ter desmoronado. Eu estava lutando e continuaria lutando pelo resto da minha vida para ser honrado o suficiente para tê-la. Era uma promessa que eu não estava disposto a quebrar. Eu finalmente vinha entendendo o quanto comunicação é importante, e o quão quebrada minha habilidade de comunicação era até mesmo quando eu estava com Clara. Eu entendia agora a importância do equilíbrio em uma relação, sem a sobreposição do outro.

Era isso que Júpiter queria desde o começo, e nos custou muito a minha falta de compreensão. Agora, ouvir e falar eram tão importantes quanto agir entre nós dois e principalmente dentro de mim. Estava sendo difícil quebrar meu instinto super protetor, mas eu vinha lutando para entender que Júpiter não precisava de nada além do meu amor e do meu companheirismo. Que nos protegeríamos. Um ao outro. Um pelo outro. Sempre. Ela havia me ensinado tanto. Sobre a vida, sobre altruísmo, sobre lealdade e amor.

Júpiter orbitava as pessoas que amava. Seus pais, Luísa, Thomas, Gael, Firenze, Amélia e agora até mesmo Jade e Flor. Amar era sua natureza. Era fácil para ela como respirar. Ela ama com tudo o que tem sem nunca se perder no caminho e essa é uma habilidade que eu sempre invejaria. Que só me faz amá-la ainda mais. Ela era perfeita em todas as suas doces imperfeições. Em cada detalhe que se encaixava tão bem em mim. Ela era a resposta para cada um dos pedidos que eu fazia as estrelas. Ela era a resposta das minhas orações mais intimas. Minhas preces mais dolorosas. Ela era a resposta para cada vez que alguém me questionava o que era amor para mim. Amor é ela. Nunca havia acreditado em amor verdadeiro ou nesse sentimento avassalador que estremece sua existência e ressignifica tudo, até conhecê-la. É tudo fodidamente real, e, se posso ser honesto: é o que faz essa vida ter sentido. É saber que você nasceu para finalmente sentir aquele sentimento. Que todos os momentos da sua vida, cada segundo, cada coração partido, cada vez que você olhava em rostos procurando o certo... Tudo isso levou ao exato momento em que você a olha e vê amor refletido em seus olhos. Tudo vale a pena. A dor. A demora. A falta de fé. A sensação de que nunca será amado ou amará novamente. Tudo isso vale a pena. Porque quando o amor chega, ele derruba tudo e constrói o novo. E é a coisa mais bonita que eu já experimentei em toda a minha vida.

E é por isso que eu estou caminhando até a porta da casa dos meus pais, onde ela e Luísa ficarão hospedadas pelos próximos dias, e se tudo correr do jeito que planejo, eu também. Estou repassando as palavras em minha cabeça, tentando organizá-las de forma que eu não pareça um completo desesperado, apesar de ser exatamente assim que eu me sinta. Uma fina garoa começa a cair, molhando meu cabelo e minha blusa de mangas compridas. Quando viro a esquina da minha antiga rua, meus dentes batem com a chuva que agora me encharca. Paro em frente a minha casa e respiro fundo tentando acalmar meu coração que bate a fortes galopadas dentro do meu peito. Me permito olhar para a casa branca ao lado da minha, a árvore com o balanço onde eu e Clara havíamos brincado durante toda nossa infância. Sua casa permanece a mesma desde a ultima vez que ela esteve aqui. Seus pais não mudaram nada. E pela primeira vez, olhar para sua casa, para nossa rua, nosso balanço, não me machuca. É como ver uma fotografia antiga e sentir uma nostalgia boa no fundo do peito. Uma resignação de que tudo vai ficar bem. Me permito acreditar que Clara me perdoou por tudo e que em algum lugar, ela continua sendo a doce menina que parecia um anjo pela qual eu me apaixonei sob uma árvore num dia ensolarado. É essa imagem que carrego dela agora. A minha melhor amiga Clara. Uma pessoa amada, que me ensinou mais do que um dia poderei compreender. Obrigado, Clarinha, sussurro para o céu, permitindo que a chuva lave tudo de dentro de mim.

Volto meus olhos a casa verde clara dos meus pais, caminhando com a certeza de que os próximos minutos vão mudar o resto da minha vida. Eles definirão tudo.

Dou um passo com a perna direita – só pra garantir - e ergo meu punho, batendo na madeira com firmeza. Uma movimentação do outro lado da porta me deixa nervoso, e estalo meus dedos em antecipação. Posso ouvir Júpiter perguntar a Luísa porque ela tem que atender a porta e ouço Luísa resmungar em resposta. Sorrio. Ouço passos em direção a mim e endireito minha postura, me preparando. A maçaneta gira e então ela aparece, com seus cachos volumosos contornando seu rosto marcante e surpreso. Ela está lívida, seus lábios separados, os olhos castanhos escrutinando meu rosto. É a coisa mais linda que eu já vi na minha vida. Suspiro, perdendo o nervoso. Nada é mais certo do que isso.

- Dominic? – Ela pergunta confusa e eu sorrio. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora