DOMINIC

4.7K 501 32
                                    



Dois meses.

Esse era o tempo que tudo havia desmoronado dentro de mim. Júpiter havia terminado tudo entre nós, se demitido e ido morar em Florença. A mensagem era clara: qualquer laço que possuíamos havia acabado. Eu sobrevivia de café, whisky e as ligações semanais que dona Alice me fazia para me atualizar sobre ela. Além é claro de me exaurir todo dia na academia. Eu vivia de migalhas. Até Thomas parecia com pena de mim, e havíamos desenvolvido uma estranha amizade já que eu passava mais tempo do que gostaria de admitir chorando em seu bar privado.

Eu estava completamente acabado. Eu ainda dormia escutando sua voz chorosa me chamando de covarde. Porque ela estava certa. Era isso que eu era. Eu era um total, completo covarde. Eu sentia tanto a sua falta que agora trabalhava do seu antigo escritório, encarando seus desenhos emoldurados nas paredes. Eu parecia um maníaco.

Havia cogitado ir atrás dela pelo menos 30 vezes todos os dias, desde que ela saiu pela minha porta. Mas eu nunca conseguia. Era só lembrar do tiro, das cirurgias, ela pálida sobre a cama, desacordada por minha culpa, que eu desistia de ir até ela. Mas meu corpo, meu coração, minha mente, chamava por Júpiter a cada mísero segundo do dia. O trabalho estava impossível, mesmo eu agora trabalhando em seu antigo escritório, encarando seus desenhos emoldurados na parede. Cada canto me lembrava dela, e eu precisava me agarrar ao fato de que ela estava segura – bem e viva – longe de mim. Eu sabia que quanto mais sucesso a Riviera fizesse, mas apertada a segurança seria, mas eu nunca achei que minha própria empresa e minhas decisões fossem me fazer perder tanto. Eu ainda tinha que lidar com Gael pedindo perdão vinte vezes por dia, por ter nos colocado em contato com os Golveia. Mas não havia o que perdoar. Muito pelo contrário. Sem aquele contrato minha amizade com Júpiter nunca teria nascido, e ao contrário do que a fiz pensar, eu nunca me arrependeria por isso. E me arrependia de ter puxado ela para a confusão que era a minha vida e ter feito-a receber todas as consequências disso. Nunca conseguiria não me arrepender por ter a aproximado de mim e feito com que ela quase morresse nos meus braços, mas jamais me arrependeria de amá-la. No entanto eu sabia que se não se afastasse completamente, ela lutaria com unhas e garras por nós e eu não poderia permitir isso, e não dou a mínima se isso faz de mim um babaca super protetor e covarde. Eu nunca colocaria ela em perigo de novo. Nunca. Isso não me impedia de querê-la com todo o meu coração.

- E aí, maior babaca da história? – Gael diz, entrando no escritório de Júpiter sem bater. Reviro os olhos, minha paciência andava além de curta nos últimos meses.

- Gael, se você não quiser perder dois dentes hoje é melhor você dar as costas e sair da minha sala agora. – Eu grunho, sentindo o sangue correr mais rápido pelo meu corpo. Gael solta uma risada alta, nem um pouco abalado pela minha ameaça. Agradeço por isso, ele é provavelmente a única pessoa me mantendo são.

- Você não quer que eu saia daqui, Domzinho. – Ele fala, se sentando na cadeira a minha frente, pondo os pés sob o tampo da mesa.

- Acredite, eu quero. – Eu digo, voltando meus olhos para meu notebook aberto com um contrato maçante que não sai da minha mesa tem uma semana. Não consigo me concentrar em nada.

- Então tá, se você quer mesmo que eu vá... – Ele diz, se levantando com um sorriso tão esnobe na cara mal lavada, que sei que lá vem merda. Das grandes. Respiro uma, duas, três vezes, e assim que ouço a porta se abrindo o chamo.

- Fala de uma vez, Gael. – solto, bufando. Ele se vira pra mim, com um sorriso bizarro de dentes brancos na minha direção.

- É bom você estar sentando porque o que eu tenho para falar, vai te colocar de joelhos. – ele diz.

- Para de enrolar, porra. – Eu digo, me levantando já sem paciência. Gael continua sorrindo muito e solta a bomba de uma vez.

- Júpiter está de volta. – Ele diz e eu congelo. – E é a nova diretora da Arquity, a empresa da Luísa. – ele continua, terminando de me massacrar. Agradeço a cadeira firme atrás de mim, porque no segundo em que a informação é processada pelos meus ouvidos, meus joelhos fraquejam e eu caio para trás. O ar finalmente voltando aos meus pulmões, só de saber que ela está tão perto. E trabalhando na concorrente! eu penso, sem nem conseguir ficar bravo. Ela e seu bem estar eram tudo que importavam.

- E então? – Ele diz, me analisando. – Sem lágrimas de emoção, ataque cardíaco, nem nada? – ele pergunta, decepcionado, sem saber que meu coração vai sair pela minha boca a qualquer momento. – Dominic? – Ele me chama, se aproximando, mas ainda estou perdido nos meus próprios pensamentos. – cara, você tá bem?

- Sim. – Consigo dizer.

- Espero que você tenha um plano melhor do que ficar encarando com essa expressão afetada quando vê-la amanhã. – Ele fala, franzindo o cenho com estranheza e eu desperto subitamente.

- Amanhã? – pergunto, chocado. Gael abre um sorriso malicioso.

- Jantar Anual da Arquity lembra? – Ele fala, se referindo ao jantar beneficente que reunia os arquitetos do Rio de Janeiro. – Júpiter é nova na equipe e vai estar lá. Você também. Então junta esses cacos que você se tornou durante as ultimas semanas, volta a ser o Dominic por quem ela se apaixonou e conquista sua mulher de volta. – Ele fala, apontando o dedo na minha cara. – Acredite, não se trata mais de vocês dois apenas. É pelo bem maior. – Ele fala e eu não entendo mais nada.

- Do que porra você tá falando? – Eu pergunto, confuso e Gael revira os olhos pra mim.

- Amanhã você vai entender. – Ele diz, caminhando até a porta de novo. Ele para depois de alguns passos e me olha. – E pelo amor de Deus, vai fazer essa barba e cortar esse cabelo, já dá pra fazer Maria Chiquinha com isso. – Ele solta, rindo, sumindo porta a fora. Respiro fundo e pela primeira vez desde que a vi pela ultima vez, eu me sinto vivo novamente. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora