JÚPITER

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Uma semana havia se passado desde minha apresentação e a aprovação do meu projeto e tudo que eu queria nessa sexta-feira era dormir. Eram nove da noite e eu ainda estava no escritório. Luísa havia me ligado, perguntando se queria que ela viesse me pegar, mas neguei e avisei que tinha vindo de carro. Ela disse que tinha feito o jantar e que iria dormir mais cedo.

Os papéis a minha frente pareciam mais organizados e meu estômago roncava então decidi que poderia continuar o resto na segunda. Desliguei meu computador, alcancei minhas chaves, meu celular, abri meu livro na página em que eu estava, e andei até o elevador com meus saltos na mão. Eu me recusava a mantê-los nos meus pés. Escutei passos atrás de mim e me assustei, soltando um pequeno palavrão em italiano mais uma vez ao ver Dominic me encarando. Dessa vez, ele sorriu.

- Oi. – Eu disse, com uma careta, fechando meu livro. – Eu sei, eu tenho que parar de xingar. – falei, olhando para seus olhos.

- É engraçado. – Ele falou, honesto e o olhei surpresa.

- Eu não sabia que você tinha senso de humor. – Falei, cobrindo minha boca no instante seguinte.

– Me desculpa. – Falei, grunhindo. – Eu não tenho filtro entre meu cérebro e minha boca, claramente. – Esperei a bronca, mas tudo que recebi foi uma risada grave e profunda.

- E o que te faz pensar que eu não tenho senso de humor? – Ele perguntou, encostando a lateral do corpo na parede ao lado das portas de metal. Seus olhos me excruciavam como se ele estivesse disposto a descobrir todos os meus segredos e meu coração acelerou. A sensação familiar de que sua proximidade trazia me arrebatando.

- Você não sorri muito. – Falei, dando de ombros. – Parece levar a vida a sério demais.

- E você não leva? – Ele perguntou, me olhando com gentileza.

- Sim, mas não vinte e quatro horas por dia. – Falei, com um pequeno sorriso.

- Você não está comigo vinte e quatro horas por dia. – Ele falou, afrouxando a gravata, com um sorrisinho. Bastardo lindo dos infernos.

- É verdade, talvez seja só o título. – expliquei, trocando meu peso entre minhas pernas.

- Título? – Ele perguntou, franzindo as sobrancelhas escuras.

- Sim. – Respondi. – Você sabe, empresário de sucesso, chefe do chefe do meu chefe. – brinquei, sorrindo em sua direção. Ele me devolveu o sorriso.

- Talvez. – Ele respondeu, simplesmente. – Você gosta de Dante? – Ele perguntou, com a voz grave retumbando meu peito. Ah não, meu cérebro pensou, que ele não seja bonito E apaixonado por Dante. Olhei para o exemplar em italiano de A Divina Comédia em minha mão e abri o maior sorriso que cabia em meu rosto.

- Eu amo. Estudo A Divina Comédia desde o Ensino Médio. Você gosta? – Perguntei, com uma leve expectativa. Ele me deu um sorriso sensual, abriu sua pasta e tirou de lá um exemplar idêntico ao meu, surrado, levemente amassado, completamente lindo. Arregalei meus olhos.

- Você lê em italiano?! – Perguntei, surpresa.

- O senhor Alighieri me inspirou a aprender italiano. – Ele explicou dando de ombros e sorrindo. E meu coração perdeu duas batidas inteiras. – Você parece surpresa. – Ele falou, rindo um pouco.

- Eu estou, da melhor forma possível. – Falei, sorrindo.

- "Quem és tu que queres julgar, com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?" – Ele citou, me fazendo rir. Eu, de fato, o tinha julgado pelas primeiras impressões.

- "O demônio não é tão negro quanto se pinta." – Rebati, num gesto de desculpas, rindo de verdade. Ele riu também e permanecemos num silêncio confortável. Eu estava surpresa de verdade e mil vezes mais atraída por ele.

- Sabe, para nós conseguirmos descer, você tem que apertar o botão. – Ele falou, apontando para o painel desligado. E eu bufei, apertando-o rapidamente. Dominic riu e eu também. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

Assim que o elevador chegou, entramos e ficamos em um silêncio confortável.

- Você é pequena. – Dominic falou, olhando para meus pés descalços com graça. Fiquei brava demais para ficar constrangida.

- Não sou não! – Falei, ultrajada. – Eu tenho 1,69 o que é bem alto para uma garota. – Falei, com orgulho.

- Eu tenho 1,90. – Ele falou, me olhando com arrogância. – Você continua sendo minúscula. – explicou, com um sorrisinho no rosto que eu adoraria machucar.

- Sabe, você acabou de perder todo o respeito que tinha acabado de conquistar por gostar de A Divina Comédia. – Falei, olhando para a frente. Dominic gargalhou e o som foi tão puro que me vi me inclinando um pouco em sua direção. E antes que eu pudesse controlar eu estava rindo novamente. Descemos os últimos andares num silencio ainda preenchido por sorrisos e assim que chegamos ao estacionamento me apressei em sair rapidamente, sendo seguida por Dominic. Segui em direção ao meu carro e ele para o seu, que coincidentemente estava estacionado ao lado do meu. Destranquei as portas e me virei em sua direção. Ele me encarava ainda com um meio sorriso, o mesmo que havia me dado na boate, quando nos esbarramos.

- Boa noite, senhor. – Falei, com um aceno.

- Boa noite, senhorita. – Ele falou, entrando dentro de seu carro. Bati minha porta e sem olhar para o lado, dei ré e saí dali o mais rápido possível antes que um acidente acontecesse e – que Deus me livrasse – meu corpo começasse a sentir algo além de profundo desejo pelo moreno bonito. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora