O UNIVERSO ENTRE NÓS - COMPLETO

JÚPITER

Estamos todos sentados no auditório e essa é a primeira vez desde a última festa anual da empresa que vejo todos os meus colegas reunidos em um único lugar. O espaço mal ocupa as duzentas pessoas que trabalham nos últimos três andares do edifício e pelos semblantes espalhados pela sala, todos estão achando aquilo tudo tão estranho quanto eu. A sala está em silêncio absoluto, então quando as portas se abrem e passos ecoam até nossos ouvidos, todos levam seus olhos ao foco do ruído.

Senhor Cavalcante, nosso presidente, caminha em direção ao palco levando apenas uma pasta na mão, atrás dele o Senhor Fernandes, o vice-presidente e cofundador da empresa caminha com a cabeça grisalha levemente baixa. Gaspar, meu chefe insuportável e nosso diretor geral, segue logo atrás.

Fernandes e Gaspar se sentam em duas das três cadeiras posicionadas estrategicamente no palco. Senhor Cavalcante permanece de pé e anda até o pequeno púlpito de formato moderno que se encontra no centro da espaçosa sala. Ele parece nervoso e fico surpresa, pois nunca havia visto aquele homem demostrar nenhuma fraqueza nos três anos em que trabalhava ali.

- Queridos, obrigado por estarem aqui. – Ele começou suavemente, encarando algumas pessoas da plateia.

– Infelizmente, o motivo do nosso encontro não é alegre. Muitos, se não a maioria de vocês, já sabem que a Cavandes vem tendo muito pouco ou nenhum lucro de nossos projetos nos últimos dois anos. O mercado mudou e, apesar dos nossos esforços, a Cavandes não conseguiu acompanhar seu processo de inovação. – Ele falou, lendo cada linha do papel em sua frente. A voz inegavelmente triste. Ele respirou fundo, acariciou o próprio bigode e senti pena do homem que estava naquela situação. Num gesto súbito, Cavalcante amassou o papel a sua frente numa bolinha insignificante e a manteve apertada em sua mão.

– Queridos, a verdade é que, nós falhamos com vocês. Eu, Fernandes, Gaspar... Nós nos acomodamos, largamos o leme, mantivemos o piloto automático ligado durante toda a nossa trajetória e isso nos custou tudo. Sabemos que cada um de vocês deu o seu melhor e somos extremamente gratos, mas havia decisões para serem tomadas, novas parcerias que poderiam ter sido feitas, outros caminhos que poderiam ter sido trilhados, mas não foram. Porque achamos que não valia o risco. Erramos ao não arriscarmos. Erramos com cada um de vocês quando abandonamos a luta para seu crescimento profissional... Perdemos a garra que fez a Cavandes existir, há mais de 30 anos. – Ele falou, claramente emocionado. Eu estava também. Ver o presidente admitir seus próprios erros foi algo que mexeria para sempre comigo. Eu e Luísa sempre debatíamos a quão estagnada a empresa estava, mantendo apenas a mesma linha de projetos, a mesma linha de trabalho... E hoje, a bomba explodiu.

- Por conta disso, estamos fazendo um sacrifício. Estamos oficialmente vendendo a Cavandes para outra empresa. – Declarou e houve uma ingestão aguda de ar geral. O burburinho rapidamente aumentando em volume.

– Por favor, fiquem calmos. Nós acreditamos nessa empresa. Acreditamos em quem a comanda. Acreditamos que ela pode fazer a Cavandes extraordinária novamente. Ao contrário do que alguns rumores sugeriram, ninguém será desligado da empresa. – Ele falou, e automaticamente a sala calou-se.

– Mas, haverá novas avaliações, pela nova equipe que os coordenará, para filtrar aqueles que acrescentarão algo para a empresa e aqueles que devem encontrar outro lugar para se desenvolverem. Eu espero, com todo o meu velho coração, que vocês brilhem nessa nova fase. Mais uma vez, peço desculpas e agradeço pelos anos de trabalho. – Ele agradeceu, juntando as mãos na frente do corpo, claramente emocionado.

– Agora, sem mais delongas, permitam-me apresentar, seu novo presidente: Dominic Riviera. O dono da Riviera Complex e agora, dono da Cavandes. – Cavalcante terminou, acenando para a porta, e uma salva de palmas suave começou, enquanto todos olhávamos para a porta, em pura expectativa.