DOMINIC

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Júpiter.

A palavra dança em meus pensamentos. Esse era seu nome.

Porra, ela era além de gostosa e linda, incrivelmente inteligente. Não era de se admirar como subiu tão rápido até a diretoria. Seus projetos eram geniais. Seu raciocínio era rápido e suas respostas impecáveis. Uma parte nada profissional dentro de mim estava torcendo para que ela fosse pelo menos um pouco incompetente, assim eu teria uma justificativa para substituí-la e aquele formigamento incomodo no meu peito e a rigidez do meu pau fossem aliviadas. Mas é claro que não. A mulher tinha que ser uma filha da mãe genial.

- Eu conheço esse olhar... – Gael cantarolou dando uma risadinha, e me perguntei repetidamente o que me impedia de quebrar sua cara loira. O encarei impaciente.

- Olhar de quem está pensando em matar muito em breve um familiar. – respondi, azedo. Levantando da minha mesa e me servindo de café quente e forte. Gael riu.

- Eu não estou te julgando. – Ele falou. Se jogando no sofá de couro preto a minha frente. – Ela é... – Ele pensou e riu no mesmo instante em que viu minha cara de raiva para suas próximas palavras. – interessante. – concluiu. – Linda, inteligente, interessante, cheirosa e tem uma bund... – Ele continuou, gargalhando profundamente assim que meus olhos o queimavam conforme ele a descrevia.

- Vai arranjar um trabalho pra fazer. – Eu falo, azedo, tomando um gole da bebida relaxante.

- Te importunar é o meu trabalho mais útil. – Ele fala e sou obrigado a dar um meio sorriso. Esse bastardo é meu irmão. – Mas, sinto te informar que não acho uma boa ideia você se envolver com uma funcionária. – Gael declara, agora mais sério. – Não importa o quão... tentador seja.

- Eu não sou a porra de um idiota. Eu não me envolvo com funcionários e não me envolveria com ela. – Declaro, sentindo o gosto amargo da mentira na boca.

- Que bom, já que eu sim me envolvo com funcionárias e seria apenas delicioso... – Ele fala me olhando e jogo uma das almofadas do sofá com força em sua cara mal-amada. Gael gargalhou e saiu da minha sala, deixando um rastro de risada atrás de si. Respiro fundo. É muito difícil acreditar que esse imbecil é meu melhor amigo. 

Volto a minha mesa e disco o número da minha antiga casa no telefone. Respirando fundo me concentro no som da chamada.

- Alô. – Minha mãe fala, simpática e eu sorrio instantaneamente.

- Oi mãe, sou eu.

- Dominic? – Ela pergunta, descrente e tenho vontade de me socar.

- Sim, mãe.

- Ah querido, como senti falta da sua voz. – Ela fala emocionada.

- Não chora, mãe. – Eu peço rindo. – Eu estou com saudades também. Desculpe a falta de noticias. – Eu peço, coçando a cabeça, como se tivesse quatorze anos mais uma vez.

- Você quase me matou de tristeza, Dominic. – Ela conta, brava e quase posso ver seu rosto franzido do outro lado da chamada. – Seu pai disse que se você não desse noticias em dois dias, ele iria pegar o próximo voo para o Rio de Janeiro.

- Não, pelo amor de Deus. – Eu peço, fingindo medo. – O pai tem que ficar aí e descansar, mãe. Vocês dois.

- Como descansar se você desaparece feito fumaça? – Ela pergunta e sei que ela está magoada. – Eu sei que você não gosta de vir a nossa casa, mas uma chamada, nos receber para uma visita, não vai te matar. – suas palavras são como um soco do estômago. Sou um cretino egoísta.

- Eu não sei nem como me desculpar. Minha única justificativa é dizer que realmente estava afundado em trabalho o que não conserta nada, eu sei. – falo, de olhos fechados. – Eu gosto de voltar pra casa, mãe. – falo, relutante. – Eu só fico sufocado rápido demais, é demais pra mim. – explico, amargamente.

- Eu sei, querido. Todos nós sabemos. Não ficamos bravos, só ficamos preocupados. – Ela fala gentil, e isso alivia um pouco o peso da culpa.

Conversamos por mais vinte minutos, depois converso por mais dez minutos com meu pai, e ele me conta sobre sua mais nova aquisição: uma lanterna da primeira guerra mundial. Meu pai era um colecionador de antiguidades. Rimos juntos e marcamos uma visita para dali a dois meses. Eu digo que amo os dois e mando um beijo para Lena, minha irmã mais nova que está trabalhando em seu pet shop. Eu sentia falta da pestinha. Nos despedimos e encerro a chamada. Olho para a foto em cima da minha mesa, o único porta retrato do escritório. Meus pais sorridentes, Lena, Gael, meus tios, eu e ela. A dor em meu peito é insuportável. A raiva faz meus olhos queimarem. Engulo o nó que se formou em minha garganta. Pego o porta retrato, jogo no fundo de uma gaveta, bato-a com força e volto a trabalhar.


~


Uma hora mais tarde, estou caminhando até o escritório de Gael quando uma mulher de cabelos vermelhos, olhos verdes e um decote mais baixo do que o código de vestimenta permitia parou na minha frente e sorriu. E então eu soube que teria problemas. Era Eva Shidmt. A mulher mais insuportável que eu conhecia. Ela me olha piscando os cílios pretos e eu tenho vontade de virar as costas e fingir que não a vi. Eu e Eva havíamos tido um relacionamento curto e extremamente tóxico. Ela queria meu dinheiro e eu queria uma distração. Funcionamos bem até ela querer um relacionamento sério. Depois do fim extremamente histérico que tivemos – banhado a lágrimas e fogo nos meus pertences que estavam no apartamento dela – eu e Eva nunca mais nos encontramos nos últimos dois anos e meio. E agora aqui estava a cobra, rastejando em minha frente.

- Achei que eu nunca fosse te encontrar sozinho, Dom. – Ela fala, estendendo a mão de unhas vermelhas em minha direção. Ela sorri com uma doçura suja pois sabe que eu odeio ser chamado de Dom. Ignoro sua intimidade forçada e aperto sua mão de volta, concordando com a cabeça. – Continua espetacular como sempre... – Ela diz acariciando minha mão levemente ao separá-las. – Eu só queria dizer que sinto falta do nosso tempo juntos. – conta, fazendo quase um biquinho. - e que as modificações que você tem feito na empresa são... incríveis. – Ela fala, e tem tanta luxúria em sua voz que eu mal consigo acreditar em sua ousadia. – E se você precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, eu estou disponível.

- Obrigado, senhorita Shidmt, mas se eu precisar de algo falarei com sua diretora. – afirmei, curtamente. – Tenha um bom dia. – Eu termino e saio, a deixando parada me olhando caminhar. Eu teria que manter vigilância em Eva e delimitar estritamente seus limites. Ignorando os problemas, entro no escritório de Gael. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora